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Júlia Lewgoy
Publicado em 11 de outubro de 2018 às 05h00.
Última atualização em 11 de outubro de 2018 às 10h26.
São Paulo - As famosas fintechs – empresas de tecnologia que vendem serviços financeiros –, aterrisaram no planeta dos consórcios, um setor tradicional no Brasil, que só cresce.
As startups querem vender consórcio de carro, imóvel e até serviços como casamento e viagem por chat, conduzido por um robô. Por trás da tecnologia, há um propósito: indicar as melhores opções de consórcio para o consumidor com orientação financeira, sem empurrar o produto com promessas falsas.
Entre as novas empresas, estão a Mycon, administradora de consórcios que deve começar a operar em breve, e a Igglu Consórcios, que vende consórcio digital desde agosto deste ano.
Em seu primeiro mês, a Igglu vendeu 700 mil reais em cartas de crédito e pretende fechar o ano com mais de 30 milhões de reais. Diferente da Mycon, a empresa não é uma administradora de consórcios, mas uma plataforma intermediária entre clientes e administradoras.
Como em qualquer consórcio, na Igglu, o consumidor entra em um grupo e paga as parcelas durante um prazo. Todo mês alguém é sorteado e pode usar a carta de crédito para comprar carro, imóvel, casar ou viajar, por exemplo. A taxa de administração do consórcio é mais baixa que os juros de um empréstimo, mas o consumidor não sabe quando terá o crédito.
Até aí, tudo igual a um consórcio tradicional. A diferença está no processo de contratação e de pós-contemplação do consórcio. Na Igglu, o consumidor responde a algumas perguntas por um chat programado por inteligência artificial. A fintech faz uma análise do perfil de crédito do cliente e indica as melhores opções de consórcio. A empresa pode, inclusive, desaconselhar a contratação.
A Igglu também tem vendedores humanos – qualquer um pode ser vendedor e ganhar uma renda extra. Também tem especialistas que acompanham o cliente desde a adesão até a contemplação do crédito.
“Ligamos para o cliente e verificamos que ele está ciente que pode não ser contemplado imediatamente, que pagará taxa de administração e que pode dar lances no meio do caminho. Queremos evitar a inadimplência”, explica o CEO e co-fundador, Guilherme Boer.
Para incentivar que o cliente pague o consórcio até o fim, a fintech planeja oferecer recompensas para quem liquidar o crédito, como a primeira revisão do carro grátis, por exemplo.
Por enquanto, a Igglu só tem duas administradoras de consórcio parceiras, a Embracom e a Conshop, mas está em negociação com outras duas. Como a fintech não é uma administradora, suas taxas de administração seguem as do mercado e não são mais baixas.
As taxas variam entre 12% e 23%, de acordo com o prazo e o segmento escolhido (serviços, automóveis e imóveis). Para se ter uma ideia, as taxas médias cobradas pelas administradoras são de 18% para serviços, 14,5% para veículos leves e 20% para imóveis, segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).
É possível adquirir cotas com prazos de 12 a 180 meses, de valores que variam de R$ 15 mil a R$ 30 mil para serviços, R$ 30 mil a R$ 220 mil para automóveis e R$ 50 mil a R$ 400 mil para imóveis.
O volume de participantes nos consórcios de serviços como reformas, festas e procedimentos estéticos cresceu 85% nos últimos dois anos, segundo a Abac. É um jeito mais barato de conseguir dinheiro em vez de tomar um empréstimo, desde que o consumidor não tenha pressa.
Mesmo assim, vale o alerta: as taxas de administração dos consórcios podem ser altas. Se o consumidor tiver disciplina, é mais vantajoso juntar dinheiro com antecedência, investindo em uma aplicação financeira, do que fazer um consórcio.
Se optar pelo consórcio, é imprescindível ter certeza que a administradora é registrada no Banco Central, como orienta o especialista Marcelo Prata, fundador dos sites Canal do Crédito e Resale. Também é importante comparar a taxas de administração e o custo do seguro cobrados pelas administradoras antes de aderir ao consórcio.