Na guerra com XP, Itaú contra-ataca e lançará app só para investimentos
Maior banco do país lança em fase de testes o aplicativo Íon, que pode abrir caminho para investidores que não sejam correntistas
Marcelo Sakate
Publicado em 8 de outubro de 2020 às 17h25.
Última atualização em 9 de outubro de 2020 às 12h41.
A disputa entre os maiores bancos e corretoras do país ganhará novos capítulos. O Itaú Unibanco , maior banco do país, vai lançar um aplicativo exclusivo para concentrar os investimentos de seus clientes. É uma base estimada em 2,9 milhões de clientes e mais de 700 bilhões de reais em ativos sob gestão (dados de abril).
"O aplicativo com uma plataforma única com todos os produtos de investimentos, incluindo a renda variável, foi uma demanda dos nossos clientes nas conversas regulares que temos. Eles não queriam um aplicativo junto com o banco ou só para a corretora", afirma Cláudio Sanchez, diretor de produtos de investimento e previdência do Itaú Unibanco.
Atualmente, os investimentos — como fundos e títulos do Tesouro Direto — estão reunidos nos aplicativos do banco, seja do cliente pessoa física de varejo ou do Personnalité, de alta renda, como uma funcionalidade adicional junto com serviços bancários tradicionais.
A exceção é o investimento em renda variável, como ações, opções, ETFs e em alguns fundos imobiliários, que estão reunidos no aplicativo da Itaú Corretora com o home broker.
O app vai se chamar Íon e já está no ar em fase beta, ou seja, para um número limitado de usuários. Será lançado para toda a base de clientes em novembro, mas no formato de mvp, ou seja, sujeito a alterações de acordo com o feedback em cima do uso.
É uma fase que deve se estender de seis a sete meses antes do lançamento da versão que vai servir como alternativa à interface de investimentos dentro do app do banco e que vai substituir o home broker da Itaú Corretora. Até lá, os aplicativos hoje existentes continuam a operar normalmente. A versão web do home broker continua a existir.
"O grande objetivo é levar o cliente a se transformar em um cliente totalmente digital, que consiga se auto-atender sozinho, sem precisar da interação com um especialista", afirma Sanches. "Isso não vai acontecer até que nós possamos oferecer informações e assessorias tão boas quanto a de um ser humano. Mas é um objetivo de longo prazo", complementa.
Segundo o executivo, o banco buscou inspirações de fora do mercado financeiro, como apps de redes sociais e de entrega, para desenvolver o projeto. Outro pedido dos clientes -- também atendido -- foi o de reunir não só produtos de investimentos como relatórios de analistas, cartas de gestores e também notícias de economia e do mercado.
Oferta só de investimentos
O objetivo do Itaú de melhorar a experiência do usuário para gerenciar seus investimentos e adotar um app dedicado vai em linha com a estratégia de plataforma digital aberta -- ou seja, com produtos de terceiros -- já adotada há alguns anos pelos principais players do mercado, como BTG Digital (do mesmo grupo que controla a EXAME ), XP Investimentos e corretoras independentes como a Easynvest, recém-adquirida pelo Nubank.
A escolha de uma nova marca unificada foi referendada por pesquisas de mercado com os clientes. E pode abrir uma nova frente de negócios para o maior banco privado do país. "Eventualmente, a marca abre a possibilidade de começarmos a trabalhar também com não correntistas do banco e nos posicionarmos com uma proposta de valor para clientes que queiram investir com a gente, mas sem abrir uma conta corrente", diz Sanchez.
O novo app é também mais um passo na ofensiva do banco para defender e reforçar a sua posição no mercado de investimentos, em um momento em que a crescente migração de pessoas físicas e recursos da poupança e da renda fixa para a indústria de fundos e a bolsa tem estimulado o forte crescimento de quem está no lado da oferta dos produtos.
Há três meses, o Itaú criticou a XP — da qual é o maior acionista, embora não do bloco de controle — pela política de comissionamento de agentes autônomos. A corretora reagiu e questionou o banco e a tradicional imagem de gerentes que vendem produtos que não necessariamente atendem aos interesses dos clientes.