Minhas Finanças

É o fim da linha para Petrobras e Vale?

Claro que não. As ações das duas maiores empresas da Bovespa e de outras produtoras de commodities vão voltar a subir - mas o problema hoje é saber quando isso vai ocorrer

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Entusiasmados pelo apetite quase sem fim da China por tudo o que pudesse ser extraído e cultivado na terra, países produtores de petróleo, soja, trigo, minério de ferro, níquel e estanho surfaram a grande onda do superciclo das commodities iniciado em 2003. Com a ajuda da desvalorização do dólar e da incapacidade de aumentar a produção à altura da demanda, os preços dispararam. Em julho de 2008, o barril do petróleo chegou a valer 147 dólares, um recorde histórico. Em questão de meses, no entanto, tudo mudou.

Com a queda drástica do número de cargueiros singrando os mares entre os países produtores e os grandes mercados, os preços das commodities despencaram. Desde meados do ano passado, um índice internacional calculado pela Reuters e pela consultoria Jefferies para acompanhar as cotações de 19 commodities, como aço, minério de ferro e produtos agrícolas, perdeu quase metade de seu valor.

No Brasil, essas baixas geraram conseqüências diretas nas ações de empresas produtoras de commodities, como Vale, Petrobras e as siderúrgicas CSN, Gerdau e Usiminas. Com raras exceções, os papéis dessas companhias costumam oscilar de acordo com os altos e baixos das principais commodities que produzem - uma correlação que tem tirado o sono dos analistas de ações e gestores de fundos. "O comportamento desses mercados nos próximos meses vai determinar se vale ou não a pena investir nas ações desse setor", diz Guilherme Paiva, estrategista de renda variável para a América Latina do Deutsche Bank.

A maioria dos especialistas em commodities acredita que os preços vão voltar a subir, mas poucos esperam que uma recuperação mais significativa ocorra em poucos meses. O principal motivo é o esperado baixo crescimento mundial. "Historicamente, esse setor só vai bem quando a economia do planeta está em expansão", diz Lance Reinhardt, diretor para a América Latina da gestora austríaca de fundos Superfund, especializada em commodities.

As commodities são o que os analistas chamam de "ativos de fim de ciclo de expansão", isto é, só se valorizam quando o PIB cresce acima de 2% por alguns anos - e, para 2009, o último relatório do Fundo Monetário Mundial aponta para uma taxa de apenas 0,5%. É isso que está por trás da diminuição da demanda em mercados que foram os grandes responsáveis pelo boom de commodities nos últimos anos, como China e Índia.

 Para 2010, as expectativas são mais otimistas: o crescimento previsto para PIB do planeta é de 3%, puxado por países emergentes, principalmente China e Índia, e por alguma recuperação das nações mais ricas. Se essa expansão de fato ocorrer - e se mantiver -, os cortes de produção que vêm ocorrendo hoje para ajustar as empresas à menor demanda podem levar à falta de commodities no futuro e, assim, pressionar seus preços, na avaliação dos analistas do banco Goldman Sachs.

Uma questão especulativa também pode contribuir para elevar as cotações desses produtos a partir de 2010: a possível desvalorização do dólar. Diversos analistas esperam que o caminhão de recursos que vem sendo despejado na economia americana enfraqueça a moeda - e, sempre que isso acontece, costuma haver uma migração de investimentos para ativos reais, como terras, imóveis e commodities.

"Não dá para desprezar o componente da especulação na formação dos preços da maioria das commodities", diz Matt Simmons, um dos maiores especialistas do mundo em energia, sócio do banco de investimento Simmons & Company, de Houston.
 

Diante desse quadro, o que o investidor deve fazer? Já que a cotação das ações nas bolsas de valores costuma antecipar cenários (os investidores tendem a vender seus papéis antes que a economia real piore e a comprar antes que melhore), será que agora é o momento de aproveitar a queda para aplicar? Investir só vale a pena para quem está disposto a deixar o dinheiro aplicado nesses papéis por, no mínimo, três anos - e tem a tranqüilidade necessária para agüentar um constante sobe-e-desce de preços. "Pode ser que os papéis de Vale, Petrobras e de outras empresas do setor caiam mais antes de se recuperar", diz Wagner Salaverry, diretor da gestora de recursos gaúcha Geração Futuro, que investe em commodities.

Como há muita incerteza sobre a real situação da economia mundial, qualquer notícia boa ou ruim pode provocar grandes oscilações nos preços das commodities. Há quem acredite que o risco não compensa. "Existem opções melhores na bolsa, de empresas voltadas para o mercado interno", diz Marcelo Audi, estrategista da corretora do Santander. A lógica dos especialistas que recomendam investir agora nessas ações é a de conseguir comprar os papéis enquanto eles ainda estão baratos. "Ninguém sabe quando os preços vão voltar a subir, vale aproveitar a oportunidade", diz Rossano Oltramari, sócio da corretora e gestora de recursos XP Investimentos.

Quem estiver disposto a encarar o risco, deve concentrar os investimentos em cinco blue chips do mercado - Vale, Petrobras, CSN, Gerdau e Usiminas. Por dois motivos. Um deles tem relação com o fato de essas ações serem as mais negociadas da bolsa brasileira. "Elas são as preferidas dos estrangeiros, e tendem a se beneficiar primeiro quando o mercado começar a acalmar e os investimentos externos voltarem para a Bovespa", diz Salaverry.

O outro, mais importante, diz respeito à solidez e às perspectivas positivas para seus negócios. Uma comparação feita com as principais concorrentes dessas companhias no exterior mostra que elas têm algumas das maiores margens de lucro operacional do mercado. No caso das siderúrgicas, contam a favor as vendas de aço no mercado interno, que, de acordo com os analistas, podem se recuperar antes das exportações.

Outro destaque são as gigantescas descobertas de petróleo e gás feitas pela Petrobras. "A Petrobras é, hoje, a empresa mais impressionante do setor de petróleo no mundo", diz Matt Simmons. "Vai levar algum tempo até que esses poços sejam explorados, mas a Petrobras tem uma tecnologia de exploração avançada e foi responsável pelas notícias de maior impacto da indústria em décadas."

(com reportagem de Klinger Portella)
 

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Minhas Finanças

Resultado da Mega-Sena concurso 2757: ninguém acerta as seis dezenas

Como os seguros entram no jogo? Cobertura nas Olimpíadas 2024 vai de lesões até desastre climático

Veja o resultado da Mega-Sena concurso 2757; prêmio acumulado é de R$ 7,1 milhões

Veja o resultado da Mega-Sena concurso 2756; prêmio acumulado é de R$ 2,8 milhões

Mais na Exame