Drex será complemento ao Pix e nascerá passos à frente de 'primos' internacionais
Real digital deverá ter maior eficiência em mercado de capitais de alto valor e em transações entre empresas, segundo especialista da Accenture
Agência de notícias
Publicado em 31 de dezembro de 2023 às 13h54.
Mundo afora, os bancos centrais correm para desenhar moedas digitais oficiais para facilitar transferências de dinheiro e digitalizar pagamentos. Como o Brasil já fez as duas coisas, o real digital, ou Drex, deve nascer alguns passos à frente de experiências similares, com maior foco em transações de maior valor e complexidade.
"O Drex é um complemento ao Pix, e não um substituto", diz o gerente sênior de Estratégia de Negócios em Serviços Financeiros da Accenture, Ricardo Pandur. "O Pix atendeu muito bem ao varejo à pessoa física e ao comércio, mas temos um mercado de capitais de alto valor e de transações entre empresas que o Drex atacará no primeiro momento."
O especialista afirma que na China e na Europa, as chamadas moedas digitais dos bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) tentam reduzir o uso de dinheiro vivo nos pagamentos, algo que o Pix já fez no Brasil. Nos Emirados Árabes Unidos, o objetivo é facilitar transferências internacionais, utilidade que o Pix também deve ganhar em breve.
Na visão dos participantes do piloto do Drex, comandado pelo Banco Central, a moeda digital não será um produto, mas sim uma plataforma de operações. "O Pix trouxe a digitalização para os pagamentos e em alguma medida, para o dinheiro. O que precisa virar uma Ferrari é a infraestrutura que gerencia outros ativos" diz Pedro Alves de Lima, especialista de assuntos regulatórios do Nubank.
O executivo de tecnologia da informação do Banco do Brasil, Julierme de Souza, afirma que o Drex será essa plataforma. "O Drex não servirá para comprar uma bala, para isso temos o Pix. Ele servirá para operações que precisem de confiança, e para ter acesso a produtos financeiros mais sofisticados." Isso inclui o financiamento imobiliário, mas também a compra de produtos de investimento.
À frente
O mercado estima que haja, no mundo, mais de uma centena de projetos de moedas digitais oficiais. Por estar à frente, o Brasil deve virar exemplo para boa parte destes projetos. "O Brasil está muito avançado, em uma fase de testes que está validando o funcionamento do real digital", afirma o CEO da Vórtx QR Tokenizadora, Fernando Carvalho.
Ele afirma que na Europa, por exemplo, o Banco Central Europeu espera ter o euro digital em 2028. Nos Estados Unidos, há representações digitais do dólar criadas por bancos, como a JPMorgan Coin, criada em 2019 e que é operada apenas entre instituições financeiras.
O diretor de Tecnologia do Bradesco, Edilson Reis, vê o Drex como um habilitador ou "padrão" para que o mercado digitalize ativos e operações. Ele diz que isso é possível porque o Brasil já integrou outros sistemas, como o de pagamentos. "As nossas operações financeiras têm um grau de sofisticação elevado, se compararmos com outros mercados", diz.
Os bancos começaram a testar as águas antes do piloto do BC. O Itaú Unibanco criou uma unidade de ativos digitais, a Itaú Digital Assets, em 2022. "A Digital Assets é mais um sinal de como o banco pensa e ajuda não só ao banco, mas ao mercado como um todo, a pensar de forma propositiva", diz Guto Antunes, executivo à frente da área.
No Santander Brasil, há troca de experiências com a matriz, na Espanha, que tem um centro de excelência em blockchain (a tecnologia sobre a qual os ativos digitais são estruturados). "O protocolo selecionado pelo BC para o piloto do Drex, o hyperledger besu, por coincidência é estudado pelo centro de excelência da Espanha há algum tempo", diz Jayme Chataque, executivo de Ativos Digitais e Blockchain do Santander.