Invest

Custos médicos devem subir acima de 10% no país em 2021, aponta estudo

Retomada de consultas e cirurgias eletivas já começa a pressionar custos médicos no país, segundo levantamento global da consultoria AON

Planos de saúde (BrianAJackson/Thinkstock)

Planos de saúde (BrianAJackson/Thinkstock)

MS

Marcelo Sakate

Publicado em 8 de dezembro de 2020 às 09h30.

Última atualização em 8 de dezembro de 2020 às 14h31.

Os gastos de famílias e empresas com a saúde deverão pesar mais no orçamento no próximo ano. É o que aponta o estudo "Tendências Globais dos Custos de Saúde 2021", recém-concluído pela consultoria britânica AON e antecipado por EXAME Invest. A estimativa é que, no Brasil, os custos médicos subam 10,6% nominalmente, ou seja, sem considerar a inflação do período. Será um aumento acima do previsto globalmente, que é de 7,2%.

Como está a sua saúde mental em meio à pandemia? Ouça o que especialistas alertam sobre o assunto e saiba identificar os sinais com a EXAME

Os custos são estimados a partir de uma metodologia que avalia os preços médios de procedimentos em conjunto com a frequência de uso, algo que caiu sensivelmente no Brasil e no mundo a partir de março com as medidas de isolamento social. O índice de sinistralidade, ou seja, de uso do plano de saúde coletivo empresarial, caiu nove pontos percentuais neste ano na carteira que é acompanhada pela consultoria.

As razões para o aumento estão na retomada de consultas e cirurgias eletivas, que são aquelas agendadas com antecedência pelos pacientes (diferentemente dos procedimentos de emergência). Ao longo de 2020, por causa da pandemia do novo coronavírus, esses serviços médicos registraram forte queda, o que elevou a capacidade ociosa de hospitais e, por tabela, aliviou a pressão sobre os custos.

"Além disso, as empresas foram diretamente impactadas pela crise econômica e pelos debates acirrados sobre os custos dos planos de saúde, resultando no anúncio, pela Agência Nacional de Saúde (ANS) em agosto de 2020, do adiamento dos reajustes de prêmio por 120 dias", aponta o estudo ao tratar do Brasil.

Ainda assim, o aumento de serviços eletivos não deve ser entendido como normalização. "As frequências vão retornar no próximo ano? Sim. Vão retornar aos níveis de 2019? Não. Alguns procedimentos, sim. Consultas eletivas, por exemplo. Nos Estados Unidos, antes da segunda onda, elas estavam em patamar até acima do de 2019", afirma Paulo Jorge Cardoso, vice-presidente de Saúde e Benefícios da AON no Brasil.

"Mas consulta em pronto-socorro e internação eletiva não voltaram ainda e, por causa de algumas peculiaridades do Brasil, avaliamos que não retornarão aos níveis pré-pandemia", diz o especialista. Uma dessas peculiaridades era a frequência elevada de consultas e exames entendidos como desnecessários em pronto-socorros.

A vez da saúde digital

"A saúde digital (digital health) deve permanecer para orientar o paciente sobre quando ele deve entrar ou não no sistema público de saúde, substituindo de certa forma o papel até então desempenhado pelo pronto-socorro", afirma Cardoso, que também é médico pediatra. Segundo ele, a saúde digital deve se tornar recorrente também para o acompanhamento regular de pacientes com doenças crônicas, como pressão alta e diabetes.

Outra função será a de servir para acessar uma segunda opinião médica em casos mais complexos, segundo a AON. São medidas que a consultoria que as empresas precisam adotar de forma preventiva e para reduzir gastos médicos.

Alerta: efeitos represados

O estudo apresenta um alerta sobre os potenciais impactos de longo prazo na saúde causados por tratamentos e verificações de rotina adiados, como resultado da pandemia. "Esperamos um aumento contínuo do custo do plano de saúde devido ao envelhecimento da população, declínio geral da saúde, maus hábitos de estilo de vida e maior prevalência de condições crônicas", apontam os autores.

"Houve uma redução muito grande da realização de exames de check up, que é uma ferramenta muito importante para a prevenção de doenças e para a detecção de alterações na saúde", diz Cardoso, citando ainda a redução em mamografias. São dois casos que podem resultar em aumento de doenças em estágio mais avançado nos próximos meses.

Os principais fatores de risco que impactam os custos dos planos de saúde em países da América Latina (incluindo o Brasil) são:

  • 83% - Pressão arterial elevada
  • 71% - Má nutrição
  • 58% - Glicose elevada no sangue
  • 58% - Obesidade
  • 50% - Colesterol elevado

Para as empresas que bancam planos de saúde para os seus profissionais, esse quadro vai se traduzir na perspectiva de custos adicionais e de perdas de produtividade, a menos que ações que possam amenizar tais efeitos sejam tomadas.

Os métodos de mitigação do aumento de custos de saúde mais citados em países da América Latina (incluindo o Brasil) são:

  • 88% - Iniciativas de bem-estar para os funcionários
  • 83% - Controle e gerenciamento de custos
  • 71% - Redesenho dos planos de saúde
  • 54% - Planos de benefícios flexíveis que visam limitar custos gerais
  • 50% - Restrições de acesso e prestação de serviços

Por fim, o executivo da AON diz que as projeções do estudo são atualizadas na medida em que novos dados são incorporados. "A grande dúvida é se a nova onda da pandemia terá o efeito de aumentar o distanciamento das pessoas em relação aos serviços de saúde. Se isso acontecer, pode ser que o fenômeno da redução da utilização se estenda até o primeiro trimestre de 2021", afirma Cardoso.

E isso, por sua vez, poderia abrir espaço para reajustes médios de planos coletivos abaixo do que se estima. Foi exatamente o que aconteceu ao longo de 2020, ano em que originalmente a previsão era a de um aumento dos custos médicos na casa de 15%. Esse reajuste foi perdendo força nos contratos dos planos coletivos empresariais, a partir de trinta vidas, até chegar a um índice médio de 3,8% nos últimos meses de 2020, segundo a AON.

É um cenário de imprevisibilidade que leva a arranjos não tão usuais. "Algumas empresas já estão pedindo acordos em que recebem descontos, por exemplo, de 10% no plano, mas se a inflação da carteira começar a subir muito ou se a frequência se aproximar dos níveis pré-pandemia, o contrato pode ser revisto quando chegar à metade da vigência", diz o executivo, que completa: "Nada como uma crise para forçar novos modelos de negócios."

Acompanhe tudo sobre:ANSCusto de vidaEXAME-no-InstagramInflaçãoPandemiaPlanos de saúde

Mais de Invest

Resultado da Mega-Sena concurso 2.793; prêmio é de R$ 127 milhões

Varejista Marisa é alvo de ataque cibernético

Quanto juntar para receber R$ 5 mil por mês com fundos imobiliários?

Em meio às eleições americanas, Fed se prepara para reunião de política monetária