Considerando a inflação, Ibovespa ainda está longe do recorde
Estudo da Economática ajusta pontuação do índice pelo IPCA e mostra que melhor momento foi em maio de 2008
Anderson Figo
Publicado em 18 de março de 2019 às 15h45.
Última atualização em 18 de março de 2019 às 17h01.
São Paulo — O principal índice da Bolsa brasileira ultrapassou nesta segunda-feira (18) a marca inédita dos 100 mil pontos. O novo patamar do Ibovespa já era esperado, diante da recente e ainda modesta melhora nos fundamentos da economia e da expectativa de aprovação de uma Reforma da Previdência robusta, mas está longe de refletir o melhor momento da B3 na história.
Um estudo da empresa de informações financeiras Economática , feito a pedido do site EXAME, ajustou a pontuação histórica do Ibovespa pelo IPCA (índice oficial de preços no país) ao longo dos anos. O resultado mostrou que o melhor momento do índice ajustado foi em 20 de maio de 2008, aos 134.487 pontos. Atualmente, está em torno dos 98.904 mil pontos —levando em conta o fechamento de 13 de março.
A Economática também analisou a pontuação histórica do Ibovespa em dólar e constatou que, sob esse ponto de vista, o principal índice da B3 segue ainda mais longe de seu maior patamar. Segundo o levantamento, o recorde de pontos do Ibovespa em dólar foi em 19 de maio de 2008, quando chegou a 44.616 pontos. Hoje, está em torno dos 25.800 mil pontos.
Em maio de 2008, o principal índice da Bolsa brasileira sofreu influência positiva do grau de investimento atribuído ao país pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, conforme anúncio em 30 de abril daquele ano. Nos 20 primeiros dias do mês, o Ibovespa chegou a registrar dez recordes de pontuação diária nominal em decorrência do selo de bom pagador recebido.
Já a pontuação atual do Ibovespa, segundo analistas ouvidos pelo site EXAME, é justificada, mas ainda não convence. Isso porque muito dessa alta é embasada em expectativas depositadas no governo de Jair Bolsonaro . A principal delas é a aprovação da Reforma da Previdência, que ainda não saiu.
“Falta entregar alguma coisa concreta. Estamos vivendo de expectativa, de sonhos. A gente está esperando que, de fato, uma reforma robusta seja aprovada. Estamos levando essa expectativa para a Bolsa. Se o governo entregar isso, aí sim dá para dizer que o Ibovespa está barato. Tem espaço para subir, mas precisamos receber algo concreto do governo”, diz William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities.
Segundo Alves, a Reforma da Previdência é um assunto que vem sendo discutido há bastante tempo e o governo deve tentar articular uma aprovação o quanto antes, já que esta é uma medida necessária, embora bastante impopular.
“O elefante já foi colocado na sala há muito tempo. Estamos discutindo a Reforma há muito tempo. A maioria das pessoas já pelo menos ouviu falar disso e já está a par do assunto e das principais mudanças que são necessárias. Então, agora, vamos para frente, vamos executar.”
O estretegista-chefe da Avenue acredita que o Ibovespa ainda tem margem para subir porque os estrangeiros, historicamente os maiores investidores da B3 mas que têm deixado a Bolsa desde outubro do ano passado, estão ainda receosos com o país, com posições modestas ou em stand by. Só depende da aprovação da Reforma para o cenário mudar, segundo ele.
“O Bolsonaro não é um Trump, mas também não é o cara mais querido da mídia nacional e internacional. Aqui fora, não se fala tanto sobre as reformas econômicas que ele propõe, mas sim da postura dele sobre os gays, as mulheres etc. Isso colabora para deixar os gringos reticentes. Além disso, o mundo emergente como um todo sofreu nos últimos meses, a exemplo da Turquia. Isso ajudou a deixar os gringos ainda mais reticentes”, enfatizou Alves. A Avenue Securities tem base nos EUA, mas o estrategista-chefe opera da Inglaterra.
A melhora nos resultados das companhias também corrobora o cenário mais positivo para o Ibovespa em 2019, especialmente após a aprovação da Reforma da Previdência, na avaliação de Glauco Legat, analista-chefe da Necton. A corretora espera que o principal índice da Bolsa brasileira termine este ano perto dos 114 mil pontos nominais.
“As companhias cresceram 17% no último ano, e o PIB? Bem menos que isso. Elas estão sendo impactadas positivamente pela alavancagem operacional. Tiveram que reduzir a produção em algum momento, mas ficaram com grandes estruturas. Agora, com a volta da demanda, já estão mais do que preparadas para dar conta dos novos pedidos. Há um ganho enorme de eficiência”, diz.
“Os estrangeiros ainda têm uma posição tímida na B3. O otimismo, por ora, é muito mais local. Os gringos querem algo concreto, uma certeza de Reforma aprovada, para então virem ao nosso mercado. Os IPOs estão voltando e isso pode trazer entradas estrangeiras pontuais na B3. Mas não será uma linha reta. A votação [da Previdência] tem vários pontos a serem discutidos e negociados. Cada um deles vai mexer com o humor dos investidores”, conclui o analista-chefe da Necton.
Curiosidades sobre o Ibovespa
O que é? É o mais importante indicador do desempenho médio das cotações das ações negociadas na B3. O índice é formado pelas empresas com grande valor de mercado e alto número de ações disponíveis para negociação na Bolsa —ou seja, fora das mãos dos controladores e de investidores de longo prazo, como fundos de pensão. Também é considerada a quantidade de negócios e o volume em dinheiro movimentado pela transação das ações.
Quantas ações fazem parte do índice? Atualmente, o Ibovespa é composto por 65 ações. Veja a lista completa dos papéis que fazem parte do índice.
Quando foi criado? O Ibovespa foi criado em 2 de janeiro de 1968.
Quando as ações do índice são renovadas? A composição da carteira teórica do Ibovespa é reavaliada a cada quatro meses. Podem entrar novas ações, assim como sair. Tudo depende do volume de negócios que os papéis registraram nos meses anteriores.
Como sabemos quais ações podem entrar ou sair do Ibovespa? A B3 divulga regularmente três prévias das novas composições dos índices: a 1ª prévia, no primeiro pregão do último mês de vigência da carteira em vigor; a 2ª prévia, no pregão seguinte ao dia 15 do último mês de vigência da carteira em vigor e a 3ª prévia, no penúltimo pregão de vigência da carteira em vigor.
Qualquer ação pode fazer parte do Ibovespa? Sim, desde que atendam aos critérios da metodologia de cálculo do índice. São proibidas ações que custam menos de 1 real no Ibovespa, pois papéis baratos elevam a volatilidade do indicador de referência da Bolsa.