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Como funcionam os fundos mais rentáveis de janeiro

Fundos long and short costumam proporcionar rendimentos excelentes em momentos em que a bolsa anda de lado como o atual

Santander: cliente da corretora recebe indicações de operação long and short (EXAME)
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Da Redação

Publicado em 5 de janeiro de 2012 às 19h56.

São Paulo - Os fundos long and short têm se mantido como um dos investimentos mais rentáveis dos últimos meses. Por trás do nome técnico e um tanto enigmático, está uma aplicação apenas um pouco mais sofisticada do que qualquer investimento em bolsa. A diferença dos fundos de ações para os long and short é que o gestor escolhe não apenas uma ação que acredita ter potencial para ficar comprado (ou “long”, no jargão do mercado financeiro) como também elege um papel caro ou com fundamentos ruins em que permanece vendido (“short”).

A posição vendida é montada por meio do aluguel de ações. Atrás de uma remuneração extra para as aplicações, um investidor coloca sua carteira disponível para eventuais interessados em alugá-la. O tomador da ação imediatamente a vende no mercado e aguarda uma oportunidade de recomprá-la mais à frente com um preço menor. Quando isso acontece, o locatário devolve o papel ao seu verdadeiro dono e embolsa a diferença de valores como lucro.

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A grande diferença desse tipo de estratégia para a pura e simples compra de ações é que o investidor pode lucrar tanto se a bolsa cair ou subir. Caso o papel comprado tenha valorização de 10% e o vendido perca 5%, esse investidor embolsa a diferença de desempenho entre os dois papéis – no caso, 15%. Já se a primeira cair 20% e a segunda desabar 30%, mesmo assim o investidor ganhará 10%. É irrelevante, portanto, se a bolsa vai ou não para o lado esperado pelo mercado. O que importa é a capacidade do gestor de avaliar se uma ação tem melhores fundamentos que a outra.

A operação parece particularmente interessante quando não há nenhuma convicção sobre os rumos da bolsa. Não é à toa que esses fundos acumulam ótimos resultados. Segundo dados da Anbima (a associação de fundos de banco de investimento), os 77 fundos classificados como long and short neutro tiveram uma rentabilidade média de 12,16% no ano passado. Foi a terceira maior valorização obtida entre todas as categorias de fundo pesquisadas pela Anbima, atrás apenas dos fundos de ações small caps (18,37%) e dos multimercados com estratégia específica (12,86%). Em janeiro, a marca foi ainda melhor. Os fundos long and short renderam 0,94% e bateram todas as demais categorias.

Quando não investir

Os fundos long and short não são os mais indicados para momentos de alta na bolsa. Quando os ventos são favoráveis, ganhará mais quem tem mais dinheiro investido em ações. Ter uma ponta vendida só reduzirá os ganhos. Nesse caso, a melhor decisão seria fazer exatamente o contrário: não apenas investir todo o patrimônio em ações como também usar operações alavancadas para aumentar a exposição ao mercado.


Já nas épocas de vacas magras, o melhor a fazer é não sair da renda fixa. Quando a irracionalidade toma conta do mercado, não adianta nada uma ação estar barata. Quem tem dinheiro não vai se aventurar a colocá-lo em risco antes de a tempestade se dissipar. Foi por isso que os fundos long and short não foram muito bem em 2008.

O momento atual, no entanto, não parece ser de euforia nem de tristeza. O Ibovespa ficou quase no zero a zero no ano passado, amarga perdas neste ano e cada vez menos gente acha que o índice chegará a dezembro acima dos 75.000 pontos. A expectativa bem pouco otimista de analistas e investidores deve-se ao rápido avanço da inflação. A alta dos preços já obriga o governo a tomar medidas mais duras que terão um efeito negativo no crescimento da economia. O ambiente para as empresas fecharem negócios não será, portanto, tão benéfico quanto no ano passado. O aumento dos juros e dos compulsórios levará a um aperto no crédito que deve prejudicar principalmente as ações de empresas ligadas ao mercado interno.

Já os papéis ligados ao setor de commodities também não são vistos com muito otimismo. Além de todas as incertezas sobre a recuperação da Europa e dos EUA, a inflação na China começa a preocupar. Assim como o Brasil, o país asiático se encontra no meio de um ciclo de aperto monetário, o que é ruim para empresas de mineração, siderurgia, petróleo ou celulose. Se esse cenário de muito sobe-e-desce na bolsa se confirmar, quem tiver investido em fundos long and short pode ter um novo ano de alegrias.

Tipos de fundos

A Anbima classifica os fundos long and short de duas formas. Os fundos neutros são aqueles em que as posições vendidas e compradas são equivalentes. Já nos fundos direcionais, a distribuição das posições pende para um dos lados. Essa aplicação vai registrar um desempenho um pouco melhor se a bolsa for para o lado esperado pelo gestor, e vice-versa. Como o mercado não anda previsível, entretanto, são os fundos neutros que têm se destacado nos últimos meses.

Uma das maiores gestoras de recursos independentes do Brasil, a GAP Asset Management possui um fundo long and short neutro que obteve uma valorização de 16,6% nos últimos 12 meses. José Eduardo Louzada, sócio da GAP, diz que o fundo costuma adotar duas estratégias de investimento. Na primeira delas, os papéis comprados são os mesmos que estão na carteira dos fundos de ações da GAP e que teriam os fundamentos necessários para subir acima da média do mercado. Já a posição vendida é montada com contratos de Ibovespa futuro. A aposta, portanto, é que a seleção de ações da GAP será capaz de superar a rentabilidade do principal índice da bolsa paulista - e o investidor vai embolsar a diferença de resultados entre as duas carteiras.


A segunda estratégia desse fundo long and short é formar pares de ações de empresas do mesmo setor. Após uma análise das companhias abertas da área de siderurgia, os gestores da GAP chegam à conclusão, por exemplo, de que a Gerdau deve ter uma performance melhor do que a CSN neste ano. O fundo fica então comprado na primeira e vendido na segunda. Para não perder muito dinheiro caso essa aposta dê errado, a GAP costuma incluir no fundo cerca de 15 pares de ações como esse. As taxas cobradas pela empresa são parecidas com a média dos fundos multimercados - categoria que engloba os long and short. O investidor terá de pagar 2% do dinheiro aplicado ao ano de taxa de administração. Além disso, há uma taxa de performance que abocanha 25% do resultado do fundo que for superior ao CDI (a taxa de juro de mercado).

Por contra própria

Quem quiser fugir das taxas cobradas pelos fundos de investimento já pode contar com o suporte de muitas corretoras. Como a concorrência é bastante grande entre os home brokers do mercado, muitas delas tentam se diferenciar com a oferta de serviços mais sofisticados. Bom para o investidor. Além de recomendar aos clientes carteiras com as melhores ações para investir, as corretoras também passaram a indicar operações de long and short.

Especialistas não recomendam que o investidor escolha ele mesmo as ações que serão compradas e vendidas por diversos motivos. Um deles, bastante convincente, é que não há limite de perda quando um investidor fica vendido em alguma ação. Quando compra 10.000 reais em papéis de alguma empresa, o investidor sabe que vai perder no máximo esse dinheiro se a companhia quebrar. Já quando está na ponta vendedora, esse investidor pode ver o preço do papel dobrar, triplicar ou quadruplicar, gerando perdas cada vez maiores.

O principal motivo para não montar um long and short caseiro, no entanto, é que hoje as corretoras possuem instrumentos bastante sofisticados para ajudar na seleção. A corretora do Santander, por exemplo, possui um banco de dados com informações históricas sobre cerca de 330 potenciais pares de ações que poderão servir para a montagem de uma operação long and short. Sempre que o preço de algum par de papéis se distancia das médias históricas, a corretora acredita que pode haver uma oportunidade. Antes de soltar qualquer recomendação, no entanto, os possíveis pares são analisados pela equipe de analistas da corretora. A intenção é saber se há notícias ou rumores que justifiquem o fato de que as ações da Gerdau tenham subido enquanto as da Usiminas tenham caído nas últimas semanas, por exemplo.

Se o analista confirmar que não há fundamentos que tenham levado a determinada distorção, o Santander parte então para o terceiro passo. Quando todo o mercado tem uma percepção ruim sobre o cenário para determinada empresa, o aluguel da ação que será vendida no long and short pode chegar a custar 12% de sua cotação ao ano. Em geral, a corretora acaba desistindo de indicar operações quando a taxa de aluguel é tão alta porque o investidor terá de registrar um lucro bastante expressivo no mercado para cobrir os custos. “Devido a todos esses filtros, o que a gente acaba recomendando são uma ou no máximo duas operações long and short por mês para nossos clientes”, diz Hugo Daniel Azevedo, superintendente de estratégia de varejo e private banking da corretora Santander.


A indicação chega por e-mail para todos os clientes que tenham se cadastrado para receber o relatório – independente de quanto dinheiro eles tenham para investir. A parte operacional também é bastante simples. Quem deseja seguir uma recomendação só precisa enviar a ordem para a corretora. O próprio Santander vai se encarregar de alugar a ação que servirá de “short”, venderá o papel no mercado e depois o recomprará para devolvê-lo ao dono quando a operação for zerada. Muitas vezes, o cliente nem precisará de caixa para montar a operação. Se ele já estiver comprado em determinado papel que faz parte do par sugerido, poderá simplesmente colocar a própria carteira como garantia no aluguel da ação que será vendida.

A corretora possui duas políticas para minimizar os riscos da operação. O primeiro é recomendar ao cliente que desmonte a aposta sempre que a perda superar 7%. “Pouquíssimas corretoras fazem isso no Brasil, mas é uma forma eficaz de zelar pelo patrimônio do cliente”, diz Azevedo. A segundo política de risco é nunca recomendar a alguém que invista mais de 10% do patrimônio em uma única operação long and short. Como o Santander cobra a metade da taxa normal de corretagem para essas operações, o investidor acaba não tendo seus custos aumentados mesmo com a negociação de um par de papéis – e não de um só.

Facilidades como essa tornam ainda mais promissora a indústria de investimentos em long and short. O volume de recursos investidos nesse produto ainda é baixo: 4,7 bilhões de reais, ou menos de 0,5% do que está aplicado em fundos no Brasil. Os investidores, entretanto, já começam a perceber os benefícios de não ter de tentar de adivinhar para que lado vai a bolsa. O patrimônio líquido dos fundos long and short aumentou mais de 40% em 2010. Se a rentabilidade continuar elevada nos próximos meses, essas aplicações estarão fadadas a mais um ano de forte crescimento.

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