MAM: clubes de gravura, foto e design incentivam o colecionismo (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 13 de outubro de 2011 às 18h10.
São Paulo - Seja com o propósito de decorar a casa ou investir quantias generosas em busca de valorização futura, gastar dinheiro com obras de arte vai muito além de casar o gosto com o tamanho da conta bancária. Com algum conhecimento e dedicação, é possível começar um acervo de qualidade, assinado por artistas emergentes ou já consagrados. E ao contrário do que sugere o senso comum, não é preciso ser milionário para fazer boas escolhas.
Especialistas concordam que ingressar em grupos de colecionadores pode ser o primeiro passo para atingir esse objetivo. Em São Paulo, entretanto, a demanda é grande e a tarefa pode não ser tão simples assim. Quem pretende entrar para o Clube da Gravura, que funciona há 24 anos no Museu de Arte Moderna, necessariamente vai encarar a lista de espera.
Com uma anualidade de 3.600 reais - dividida em até 10 vezes no cartão - o integrante garante o recebimento de cinco obras de arte por ano. "Temos o aval do museu e os trabalhos são selecionados pontualmente pelo curador do clube, uma pessoa que acompanha toda a trajetória da arte", explica a coordenadora Fátima Pinheiros.
A iniciativa, pela qual já passaram nomes do calibre de Cildo Meireles, Tomie Ohtake e Fayga Ostrower, contou, entre outros artistas, com a participação do argentino León Ferrari no ano passado. "Se você parar para pensar, cada obra sairá por pouco mais de 700 reais", diz Fátima. Na galeria Gravuras Brasileiras, que conta com mais de 4.000 trabalhos nacionais e internacionais, as gravuras de Ferrari custam a partir de 3.800 reais.
Como o número de sócios é limitado a 100 integrantes, é preciso aguardar a desistência de algum veterano para entrar no grupo. Para absorver a procura, também foram criados o Clube da Fotografia em 2000, e do Design, no ano passado.
Em comum, o funcionamento dos três se apoia sobre a mesma proposta: cinco artistas são escolhidos pela curadoria para participar do clube e suas produções são replicadas, assinadas e distribuídas entre os sócios. O Clube da Fotografia, com taxa anual de 3.600 reais, também está com a lista cheia. Mas ainda restam vagas para o Clube do Design, que cobra o mesmo preço para os colecionadores de objetos de arte.
Iniciativas semelhantes são tocadas no Rio de Janeiro, com o Clube de Colecionadores III, do Museu de Arte Moderna da cidade, e em Recife, com o Clube da Foto do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães.
Exposições, leilões e galerias
Outra forma de aumentar a bagagem cultural antes de escolher o que pendurar na parede é frequentar galerias e conversar com pessoas do ramo. O consultor de mercado João Carlos Lopes dos Santos lembra que caso o gosto do cliente mude com o passar do tempo, um quadro bem comprado certamente será mais fácil de revender. Ele frisa ainda que essas peças são um dos únicos bens da casa que podem ser passados adiante com um certo (ou grande) lucro na revenda.
Por isso, é importante saber o quanto uma obra realmente vale e qual é o seu grau de liquidez. "Sempre aconselho as pessoas a procurarem a opinião de um colecionador amigo, um marchand ou alguém que realmente entenda do mercado", afirma Lopes dos Santos. Aposte também nas visitas a exposições de arte, vernissages e museus para apurar o olhar e incrementar o repertório pessoal.. E quando decidir fechar negócio, dê preferência às galerias, leilões ou feiras reconhecidas.
Para Lopes dos Santos, quem é novo na área deve voltar os olhos para os artistas emergentes. "Reposições virão à medida que o tempo passar. Não dê o primeiro passo pensando em Tarsila do Amaral", recomenda.
Editora de gravura dos principais artistas brasileiros, Teca Lacerda, do escritório de arte Papel Assinado, discorda. "A primeira coisa que você deve fazer é avaliar o que mais te agrada: uma arte figurativa ou mais abstrata. A partir daí, não será necessariamente preciso escolher entre os artistas que estão começando", diz ela.
De qualquer forma, Teca reconhece que quem não é colecionador, pode sim mudar suas preferências quando pegar gosto pelo assunto. Diante da possibilidade, as gravuras costumam ser uma boa alternativa para quem pretende descortinar o mundo das artes. "Elas são mais baratas porque são um múltiplo, já que você pode dividir a mesma figura com, por exemplo, outras 99 pessoas ", explica a editora.
Para se ter uma ideia, enquanto um quadro de Gonçalo Ivo é encontrado por 150.000 reais, uma gravura do mesmo artista sai por 5.000 reais. "É a chance de ter um grande nome por um preço muito mais acessível", emenda Teca.