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Bolsa cairá muito mais, dizem analistas gráficos

Para analistas gráficos, Ibovespa pode mergulhar até os 20.000 pontos

Para analistas gráficos, o Ibovespa deve cair ainda mais (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 22 de agosto de 2011 às 15h07.

São Paulo - A grosso modo, as variáveis que agravaram o mau humor do mercado nos últimos meses continuam inalteradas. Ainda assim, a crise fiscal na zona do euro e a lenta recuperação econômica dos Estados Unidos vêm deixando marcas cada vez profundas nas bolsas internacionais. Por aqui, a situação se repete: o índice Bovespa acumula um tombo de quase 25% no ano. Se a vertiginosa queda sugere que chegou a hora de os investidores garimparem pechinchas, o fundo do poço pode surpreender quem acha que já está comprando ações a preço de banana. Pelo menos é o que acreditam os analistas gráficos ouvidos por EXAME.com.

Na visão destes profissionais, que estudam o comportamento prévio dos papéis acreditando na repetição de certos padrões, ainda há espaço para novos mergulhos. Entre previsões de barreiras para o Ibovespa que chegam a 20.000 pontos, confira a seguir por que os especialistas acreditam que a maré ainda não está para peixe:

André Machado, sócio da Melo Investimentos

A crise de 2008 foi bastante diferente. O crédito secou, ninguém emprestava para ninguém, o consumo travou e as empresas registraram prejuízos. Mas toda crise de crédito gera uma crise bancária: quando as dívidas não são pagas, são os bancos que ficam com o rombo. As instituições financeiras são grandes demais para quebrarem e por isso são socorridas por pacotes bilionários dos governos.

Essa situação provoca um desarranjo fiscal, que vira, em última instância, a crise da dívida soberana, a crise dos próprios países. Elas são piores porque geram recessão de longo prazo e desemprego. Já vimos isso no Japão e agora há uma grande chance que a situação se repita na Europa e nos Estados Unidos. Desta vez, não são mais empresas quebrando. O buraco é mais embaixo.

Não por menos, os sinais mostrados até agora são 100% baixistas. Isso pode mudar, é claro. Se a nova rodada de afrouxamento monetário nos Estados Unidos for anunciada, haverá tanto dinheiro disponível para especulação no mercado que o Ibovespa deve subir. Mas minha expectativa é que o índice ainda caia - e muito.


Já testamos o fundo dos 48.000 pontos, que era um suporte importante para o Ibovespa porque vinha de julho de 2009. Usando as projeções fibonáticas, vemos que desde a alta que começou no final de 2008 até o topo máximo, que ocorreu por volta de novembro de 2010, o cenário é perigosamente simétrico para o Ibovespa.

Na prática, isso significa que o movimento inverso, de baixa, pode repetir este comportamento. O Ibovespa já bateu no suporte de 48.000 pontos e está subindo para fazer o repique. Mas o mercado sinaliza um retorno aos 48.000, 49.000 pontos dentro de dois a três meses. Pela teoria, a correção tem que ir mais fundo que a registrada anteriormente antes de haver recuperação. Se antes nós vimos o Ibovespa a 29.000 pontos, a ideia é que o rompimento aconteceria em um patamar inferior. A situação vai piorar muito antes de melhorar: existe poço para quebrarmos até a barreira dos 18.000 e 20.000 pontos.

Meu conselho para o investidor é não acreditar que a bolsa está barata demais, porque ela pode ficar muito mais. O que interessa é que há gente levando prejuízo em títulos de países que estão quebrando. Nesse momento, ninguém quer saber de empresas, ainda que a relação do preço sobre o lucro, por exemplo, esteja baixíssima. O investidor internacional quer segurança e termina no Tesouro americano. É uma questão de oferta e demanda. Se o apelo do preço realmente fosse seguido, o mercado estaria comprando. E não é o que estamos vendo hoje.

Como os fundos de ações têm obrigatoriedade de estarem comprados em um percentual significativo, eles recorrem aos fundamentos e priorizam carteiras defensivas em momentos assim. São papéis de empresas com receita estável e dividendos que superam os juros da Selic. Quando há debandada geral, esses fundos têm que ficar posicionados. É aí que esses papéis continuam se valorizando e, por isso, podem ser interessantes como alternativas de investimento.

Esta é a explicação para as empresas elétricas e de telecomunicações não terem caído. Em fevereiro de 2009, quando já tínhamos deixado o fundo do poço da crise de 2008 para trás, analisei o Ibovespa inteiro e encontrei papéis do setor elétrico atingindo valores inéditos de alta. Se a China parar de comprar minério de ferro por causa da crise, as pessoas continuarão ligando a TV e falando no telefone e as empresas que oferecem esses serviços continuarão dividindo seus lucros. Logo, ações de empresas como Eletropaulo, Cesp, Light e Telesp ainda podem apresentar movimento de alta mesmo em um momento tão baixista.

Sérgio Cunha, analista da Doji Investimentos

O mercado segue com forte tendência de queda. Se analisarmos os gráficos semanais ou mensais, vemos que o Ibovespa foi cumprir um objetivo na área dos 48.000 pontos e chegou a respeitar este patamar. Mas só teremos espaço para recuperação se o índice romper os 55.000 pontos e levar junto os 57.600.

Graficamente, o desenho não promete reação nenhuma. A tendência é totalmente negativa e carregada de venda. No curto prazo, o divisor de águas é a área dos 52.000 pontos. Se perdermos isso, voltamos a olhar para os 48.000 pontos. E se passarmos daí, o buraco passa a ser em 43.500, 45.000 pontos.


Se formos comparar as ações do Ibovespa com o mercado lá fora, temos uma queda acumulada de 25% contra 5% nos EUA, por exemplo. Por esse parâmetro, há papéis muito baratos. Mas acredito que há espaço para novas quedas.

Em termos de oportunidade, eu gosto do papel da Braskem, que está em área de suporte e caminha bem: a ação voltou a testar um suporte robusto e até já deu um respiro. Mas a verdade é que no mercado de hoje não há nada que encha os olhos, nenhuma ação claramente armada para subir.

Marcelo Coutinho, sócio da YouTrade

Se o Ibovespa romper o suporte de 47.790 pontos, podemos ir para 39.000 pontos. Meu viés ainda é baixista porque você vê perspectivas muito ruins para os próximos três meses por conta da indefinição fiscal na Europa.

A boa notícia é que se tudo der certo, ainda temos cerca de 9.000 pontos de possibilidade de alta, por volta dos 61.500 pontos. Mas para isso, precisamos de um pouco mais de garantias no cenário macroeconômico. Há o problema da liquidez no mundo, com  sobrevalorização do franco, disparada do ouro, incertezas nos Estados Unidos e na zona do euro.

Toda essa dissonância me leva a acreditar que o mercado pode puxar forte para baixo. O Ibovespa caiu 7% nos primeiros três meses do ano para desabar até mais de 20% a partir de julho.

Fica claro que não existe nenhum problema estrutural com várias empresas. Mas com o mercado derretendo, fica difícil apontar algum setor positivo. Como o mercado brasileiro lamentavelmente opera na mão de compra por uma questão histórica e de educação financeira, a queda da bolsa acaba sendo sempre ruim.  Hoje, com 20 reais você compra um papel da Petrobras. Tudo está indo para baixo e não temos nenhuma ação com viés de alta claro.

Quem está de olho no longo prazo, pode até fazer uma entrada agora, mas de baixo valor. A expectativa é que encaremos mais baixas pela frente, quando será possível comprar ações ainda mais baratas.

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São Paulo - A grosso modo, as variáveis que agravaram o mau humor do mercado nos últimos meses continuam inalteradas. Ainda assim, a crise fiscal na zona do euro e a lenta recuperação econômica dos Estados Unidos vêm deixando marcas cada vez profundas nas bolsas internacionais. Por aqui, a situação se repete: o índice Bovespa acumula um tombo de quase 25% no ano. Se a vertiginosa queda sugere que chegou a hora de os investidores garimparem pechinchas, o fundo do poço pode surpreender quem acha que já está comprando ações a preço de banana. Pelo menos é o que acreditam os analistas gráficos ouvidos por EXAME.com.

Na visão destes profissionais, que estudam o comportamento prévio dos papéis acreditando na repetição de certos padrões, ainda há espaço para novos mergulhos. Entre previsões de barreiras para o Ibovespa que chegam a 20.000 pontos, confira a seguir por que os especialistas acreditam que a maré ainda não está para peixe:

André Machado, sócio da Melo Investimentos

A crise de 2008 foi bastante diferente. O crédito secou, ninguém emprestava para ninguém, o consumo travou e as empresas registraram prejuízos. Mas toda crise de crédito gera uma crise bancária: quando as dívidas não são pagas, são os bancos que ficam com o rombo. As instituições financeiras são grandes demais para quebrarem e por isso são socorridas por pacotes bilionários dos governos.

Essa situação provoca um desarranjo fiscal, que vira, em última instância, a crise da dívida soberana, a crise dos próprios países. Elas são piores porque geram recessão de longo prazo e desemprego. Já vimos isso no Japão e agora há uma grande chance que a situação se repita na Europa e nos Estados Unidos. Desta vez, não são mais empresas quebrando. O buraco é mais embaixo.

Não por menos, os sinais mostrados até agora são 100% baixistas. Isso pode mudar, é claro. Se a nova rodada de afrouxamento monetário nos Estados Unidos for anunciada, haverá tanto dinheiro disponível para especulação no mercado que o Ibovespa deve subir. Mas minha expectativa é que o índice ainda caia - e muito.


Já testamos o fundo dos 48.000 pontos, que era um suporte importante para o Ibovespa porque vinha de julho de 2009. Usando as projeções fibonáticas, vemos que desde a alta que começou no final de 2008 até o topo máximo, que ocorreu por volta de novembro de 2010, o cenário é perigosamente simétrico para o Ibovespa.

Na prática, isso significa que o movimento inverso, de baixa, pode repetir este comportamento. O Ibovespa já bateu no suporte de 48.000 pontos e está subindo para fazer o repique. Mas o mercado sinaliza um retorno aos 48.000, 49.000 pontos dentro de dois a três meses. Pela teoria, a correção tem que ir mais fundo que a registrada anteriormente antes de haver recuperação. Se antes nós vimos o Ibovespa a 29.000 pontos, a ideia é que o rompimento aconteceria em um patamar inferior. A situação vai piorar muito antes de melhorar: existe poço para quebrarmos até a barreira dos 18.000 e 20.000 pontos.

Meu conselho para o investidor é não acreditar que a bolsa está barata demais, porque ela pode ficar muito mais. O que interessa é que há gente levando prejuízo em títulos de países que estão quebrando. Nesse momento, ninguém quer saber de empresas, ainda que a relação do preço sobre o lucro, por exemplo, esteja baixíssima. O investidor internacional quer segurança e termina no Tesouro americano. É uma questão de oferta e demanda. Se o apelo do preço realmente fosse seguido, o mercado estaria comprando. E não é o que estamos vendo hoje.

Como os fundos de ações têm obrigatoriedade de estarem comprados em um percentual significativo, eles recorrem aos fundamentos e priorizam carteiras defensivas em momentos assim. São papéis de empresas com receita estável e dividendos que superam os juros da Selic. Quando há debandada geral, esses fundos têm que ficar posicionados. É aí que esses papéis continuam se valorizando e, por isso, podem ser interessantes como alternativas de investimento.

Esta é a explicação para as empresas elétricas e de telecomunicações não terem caído. Em fevereiro de 2009, quando já tínhamos deixado o fundo do poço da crise de 2008 para trás, analisei o Ibovespa inteiro e encontrei papéis do setor elétrico atingindo valores inéditos de alta. Se a China parar de comprar minério de ferro por causa da crise, as pessoas continuarão ligando a TV e falando no telefone e as empresas que oferecem esses serviços continuarão dividindo seus lucros. Logo, ações de empresas como Eletropaulo, Cesp, Light e Telesp ainda podem apresentar movimento de alta mesmo em um momento tão baixista.

Sérgio Cunha, analista da Doji Investimentos

O mercado segue com forte tendência de queda. Se analisarmos os gráficos semanais ou mensais, vemos que o Ibovespa foi cumprir um objetivo na área dos 48.000 pontos e chegou a respeitar este patamar. Mas só teremos espaço para recuperação se o índice romper os 55.000 pontos e levar junto os 57.600.

Graficamente, o desenho não promete reação nenhuma. A tendência é totalmente negativa e carregada de venda. No curto prazo, o divisor de águas é a área dos 52.000 pontos. Se perdermos isso, voltamos a olhar para os 48.000 pontos. E se passarmos daí, o buraco passa a ser em 43.500, 45.000 pontos.


Se formos comparar as ações do Ibovespa com o mercado lá fora, temos uma queda acumulada de 25% contra 5% nos EUA, por exemplo. Por esse parâmetro, há papéis muito baratos. Mas acredito que há espaço para novas quedas.

Em termos de oportunidade, eu gosto do papel da Braskem, que está em área de suporte e caminha bem: a ação voltou a testar um suporte robusto e até já deu um respiro. Mas a verdade é que no mercado de hoje não há nada que encha os olhos, nenhuma ação claramente armada para subir.

Marcelo Coutinho, sócio da YouTrade

Se o Ibovespa romper o suporte de 47.790 pontos, podemos ir para 39.000 pontos. Meu viés ainda é baixista porque você vê perspectivas muito ruins para os próximos três meses por conta da indefinição fiscal na Europa.

A boa notícia é que se tudo der certo, ainda temos cerca de 9.000 pontos de possibilidade de alta, por volta dos 61.500 pontos. Mas para isso, precisamos de um pouco mais de garantias no cenário macroeconômico. Há o problema da liquidez no mundo, com  sobrevalorização do franco, disparada do ouro, incertezas nos Estados Unidos e na zona do euro.

Toda essa dissonância me leva a acreditar que o mercado pode puxar forte para baixo. O Ibovespa caiu 7% nos primeiros três meses do ano para desabar até mais de 20% a partir de julho.

Fica claro que não existe nenhum problema estrutural com várias empresas. Mas com o mercado derretendo, fica difícil apontar algum setor positivo. Como o mercado brasileiro lamentavelmente opera na mão de compra por uma questão histórica e de educação financeira, a queda da bolsa acaba sendo sempre ruim.  Hoje, com 20 reais você compra um papel da Petrobras. Tudo está indo para baixo e não temos nenhuma ação com viés de alta claro.

Quem está de olho no longo prazo, pode até fazer uma entrada agora, mas de baixo valor. A expectativa é que encaremos mais baixas pela frente, quando será possível comprar ações ainda mais baratas.

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