Homens trabalhando em obra da Gafisa no passado recente: empresa entregou 12 projetos em 2020 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)
Karla Mamona
Publicado em 28 de agosto de 2021 às 08h15.
Última atualização em 30 de agosto de 2021 às 10h18.
A Gafisa (GFSA3), uma das incorporadoras mais tradicionais do país, está caminhando para deixar os anos sombrios para trás. Para superar a crise do passado, que fez a companhia amargar anos de prejuízo, a empresa realizou uma mudança de comando e está focada na inovação. Hoje, ela é avaliada em 1 bilhão de reais em valor de mercado, mesmo patamar de 2016, antes da crise.
No começo do ano, antes da queda da bolsa, o valor da companhia era estimado em 1,7 bilhão de reais. Número bem melhor do que nos anos mais conturbados, quando a empresa chegou a ser avaliada próxima dos 280 milhões de reais, segundo dados levantados pela Economatica, plataforma de informações financeiras.
Nos últimos dois anos, após uma mudança societária, a empresa passou por uma forte reestruturação elaborada pelas consultorias Bain & Company e Falconi. E já colhe os primeiros frutos. “Fizemos toda a reestruturação da companhia na parte de dívidas e de processos. Os controles de custos e gastos foram bem apurados e hoje estão muito melhores do que eram no passado”, afirmou Guilherme Benevides, CEO da Gafisa Incorporadora e Construtora, em entrevista à EXAME Invest.
Segundo o executivo, hoje todos os processos e áreas da Gafisa estão focados em metas e resultados. Ele conta que durante o plano de reestruturação a empresa trabalhou inicialmente para que fosse gerida por profissionais qualificados e com amplo conhecimento no setor de incorporação. “São pessoas que têm cabeça de dono.”
Com a reestruturação, a Gafisa voltou a fazer novos lançamentos, depois de dois anos. No ano passado, a companhia entregou 12 obras e mais de 2.000 unidades. Os lançamentos eram de projetos e terrenos que estavam parados e foram remodelados e atualizados. O foco são projetos com valor mínimo de 100 milhões de reais em valor geral de vendas (VGV).
O público-alvo da incorporadora também mudou. Atualmente, os projetos são voltados para famílias de média e alta renda. Para atrair esse público, a Gafisa investiu em terrenos de boa localização e contratou marcas e arquitetos internacionais para assinarem os projetos.
A nova Gafisa também quer ir além da construção e da venda do imóvel: um dos objetivos é ampliar os serviços oferecidos aos clientes por meio de uma nova plataforma denominada Viver Bem.
A plataforma oferece serviços de decoração, clube de compras e reforma, entre outros. O objetivo é acompanhar a jornada do consumidor em várias frentes. “Nós não queremos ser mais construtora e incorporadora. O novo mindset da Gafisa é se posicionar como uma grande plataforma de serviços imobiliários.”
Somado a isso, a empresa criou duas unidades pensando na diversificação de ativos e receitas. A primeira foi a Gafisa Propriedade. A subsidiária é focada na exploração de gestão de imóveis próprios e de terceiros.
Entre os imóveis comprados estão os shopping centers Fashion Mall e Guadalupe Shopping e o Hotel Fasano Itaim. Este último, pelo valor de 310 milhões de reais. “Criamos um novo braço para atender novos mercados e com o intuito de gerar renda”, diz Benevides.
Recentemente, a companhia criou a Gafisa Capital. A nova unidade tem foco na estruturação e atuação no mercado de fundos imobiliários para empreendimentos e ativos imobiliários da própria empresa. Foi o primeiro passo da Gafisa para atuar diretamente no mercado de FIIs.
“É abrir espaço para um viés mais financeiro da companhia.” No início do mês, a empresa anunciou que aprovou a venda de terrenos no valor agregado de 200 milhões de reais para um novo fundo imobiliário.
O turnaround da Gafisa já aponta sinais positivos para a empresa. No último balanço, referente ao segundo trimestre deste ano, a companhia teve lucro líquido ajustado de 26,404 milhões de reais, revertendo o prejuízo de 23,545 milhões de reais registrado no mesmo trimestre do ano passado.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado teve crescimento anual de 850% e ficou em 73,36 milhões de reais de abril a junho. Já a receita líquida cresceu 209,3%, para 259,2 milhões de reais.