Minhas Finanças

7 razões para não comprar um título de capitalização

Produto regulado como seguro, é vendido por bancos como jogo, e não é investimento


	Títulos de capitalização têm carência e penalizam quem resgata antes do vencimento
 (Stock.XCHNG)

Títulos de capitalização têm carência e penalizam quem resgata antes do vencimento (Stock.XCHNG)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2012 às 06h00.

São Paulo – Durante seus anos de relacionamento bancário, certamente seu gerente, ou mesmo um atendente de telemarketing, vai oferecer um título de capitalização em algum momento. E embora este produto seja um jogo e renda menos que a atual caderneta de poupança, muita gente insiste em comprá-lo, seja por desinformação, seja por utilizá-lo como “moeda de troca”. “As pessoas muitas vezes compram para ajudar o gerente que as ajudou em algum outro momento”, diz Rafael Paschoarelli, professor de finanças da FEA/USP.

Ocorre que, na melhor das hipóteses, comprar um título de capitalização é a mesma coisa que deixar o dinheiro parado durante anos, deixando de aproveitar oportunidades de investimento e perdendo para a inflação. Não obstante, uma pesquisa já mostrou que, mesmo entre brasileiros de alta renda, esta é a segunda “aplicação” preferida, caso fosse possível chamá-la desta maneira. E os números da indústria, com receitas sempre crescentes, demonstra que o negócio não vai nada mal. Entre agosto de 2011 e agosto de 2012, o mercado de capitalização cresceu 13,6%.

Veja a seguir 8 motivos para não comprar um título de capitalização:

1. Título de capitalização é jogo, não investimento

Títulos de capitalização normalmente são vendidos como jogos que permitem ao jogador reaver parte ou a totalidade do dinheiro destinado ao produto. O comprador paga uma ou mais parcelas e ganha o direito de concorrer a sorteios de prêmios e dinheiro.

Os títulos populares são baratos, têm pagamento único e normalmente retornam uma parte pequena do dinheiro, isso quando retornam. Não funcionam muito diferente de um bilhete de loteria. Mas há títulos vendidos como “poupança programada”, que cobram mensalidades durante alguns anos e só retornam a totalidade do valor pago após a quitação de todas as parcelas. E as parcelas costumam totalizar milhares de reais – uma aposta bem cara.

“Minha crítica é que, como é jogo, não deveria ser vendido em banco ou seguradora. Ninguém entra em uma agência pensando ‘hoje eu vou jogar’”, diz Paschoarelli, que lembra que, embora o produto seja comparado à poupança, isto não deveria ser feito, uma vez que não se trata de um investimento de fato.

“Quem regula esse produto é a Susep (Superintendência de Seguros Privados, ligada ao Ministério da Fazenda), mas o principal canal de venda é o banco, e este, quem regula, é o Banco Central. Só que, se é jogo, deveria ser vendido em lotérica”, diz o professor.

2. O rendimento não é exatamente igual ao da poupança

Os títulos normalmente são comparados à caderneta de poupança, que nas condições atuais rende 70% da taxa Selic mais TR (taxa referencial) sempre que a Selic é igual ou menor que 8,5%. Acima deste percentual, a poupança renderá 0,5% ao mês mais TR. Esta última, que equivale à rentabilidade da poupança pela regra antiga, é comumente a remuneração dos títulos de capitalização oferecidos como “poupança programada”.


Acontece que não é todo o montante pago que rende 0,5% ao mês mais TR. Apenas parte do que o comprador paga mensalmente é rentabilizado, compondo a chamada cota de capitalização. O restante é destinado à cota de carregamento (uma espécie de taxa de administração) e à cota de sorteio, destinada a custear os prêmios dos sorteios. Nos primeiros meses, normalmente, a cota de capitalização é bem reduzida.

Por exemplo, em um produto real comercializado no mercado, apenas 10% do valor das três primeiras mensalidades vai para a cota de capitalização para ser remunerado por uma taxa de juros. Do quarto ao 23º mês, 90% do valor da mensalidade vai para a cota de capitalização e, do 24º ao 48º mês, 97,98%. Neste produto, essas quantias são remuneradas da seguinte forma: juros de 0,45% ao mês mais TR do primeiro ao 12º mês, e juros de 0,5% ao mês mais TR do 13º ao 48º mês.

A rentabilidade é superior à da poupança, que atualmente é de aproximadamente 0,40% ao mês (70% de 7,25% ao ano) mais uma TR que, com a taxa de juro baixa, está próxima de zero. Mesmo assim, investir mensalmente na caderneta de poupança é mais vantajoso, justamente porque boa parte da mensalidade paga no título se perde em custos, enquanto que na poupança, todo montante é capitalizado.

Suponha que esta rentabilidade da poupança se mantenha estável. Ao investir 100 reais mensalmente durante 48 meses – o mesmo prazo do título de capitalização do exemplo – o valor resgatado no fim será de 5.301,28 reais. Se os mesmos 100 reais forem destinados mensalmente ao título de capitalização do exemplo, o montante resgatado será de meros 4.800,05 reais, uma diferença de 501,23 reais. Veja a simulação feita pelo consultor financeiro Andre Massaro:

Período Cota de sorteio Cota de carregamento Cota de capitalização* Acumulado (R$)
1º ao 3º mês 1,18% 88,82% 10,00% 30,27
4º ao 23º mês 1,18% 8,82% 90,00% 1.928,66
24º ao 48º mês 1,18% 0,84% 97,98% 4.800,05

(*) Rentabilidade de 0,45% ao mês até o 12º mês e de 0,50% ao mês do 13º mês em diante. A TR foi considerada zero.

Por mais que os títulos de capitalização normalmente prevejam que as mensalidades sejam corrigidas pela inflação, não é o produto que confere essa “proteção” do capital. Trata-se, simplesmente, de pagar uma mensalidade maior e proporcional ao aumento de preços do mercado, medida que poderia ser tomada para investir em qualquer produto. Por isso essa correção foi ignorada neste exemplo.

3. Comprar um título costuma ser o mesmo que deixar dinheiro embaixo do colchão

Ao observar a simulação anterior deu para perceber que comprar um título de capitalização como o do exemplo equivale a pôr dinheiro todo mês embaixo do colchão ou dentro de um cofrinho. Afinal, com 100 reais por mês, chega-se, ao fim de 48 meses, a 4.800 reais.


4. Você pode ainda ter que pagar imposto de renda

Além da poupança, há uma série de aplicações financeiras isentas de imposto de renda, como os aluguéis dos fundos imobiliários e as Letras de Crédito Imobiliário (LCI). Mas no caso dos títulos de capitalização, quem conseguir resgatar um valor um pouco maior do que o total das mensalidades terá de pagar IR sobre os ganhos, a uma alíquota de 20%, reduzindo a já exígua rentabilidade. Caso seja sorteado, o ganhador deve pagar 25% de IR na fonte sobre o valor do prêmio (como ocorre com qualquer prêmio).

5. Seu dinheiro fica “preso”, e você é punido se resgatar antes do vencimento

Títulos de capitalização que funcionam como “poupança programada” costumam prometer seu dinheiro de volta após o prazo do título. Mas se o resgate for feito antes do vencimento, normalmente só é possível recobrar uma parte do dinheiro, como se fosse uma penalidade. Além disso, há um período de carência, geralmente de 12 meses, em que o dinheiro fica realmente “preso”.

Há outras penalidades. No título de capitalização do exemplo, o atraso de mais de três mensalidades resulta na suspensão do título. Enquanto estiver suspenso, o titular do título não participa dos sorteios. Se o pagamento não for feito por quatro meses, o título é cancelado, quando então parte do valor das mensalidades é devolvido, como se fosse um resgate antecipado.

6. Se você não tem disciplina para poupar, há produtos melhores

Muita gente alega que não tem disciplina para poupar, e que por isso os títulos de capitalização são uma ótima modalidade de poupança forçada. Mas existem maneiras bem melhores de se “forçar” a poupar e não mexer no investimento. Existem fundos com carência, e papéis de renda fixa com pouca ou nenhuma liquidez, como debêntures, Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Recibos de Depósitos Bancários (RDB), que não podem ser negociados antes do vencimento.

Já os que se esquecem de poupar mensalmente podem optar por uma modalidade de investimento realmente programado, com débito automático em conta corrente. É possível programar o investimento no Tesouro Direto ou mesmo na caderneta de poupança. Também existem corretoras que fazem aplicação automática em ações.

7. Apostar em uma loteria pode ser mais indicado

Quem se sente atraído pela possibilidade de ganhar prêmios em sorteios deve ter em mente que a chance de ganhar com um título de capitalização é da mesma ordem de grandeza da chance de ganhar loterias. Acontece que a aposta em uma loteria é bem mais barata. Se for só pelo jogo, entre ganhar 5 milhões de reais com um investimento de quase 5.000 reais em quatro anos, e apostar dois reais para ganhar 30 milhões de reais, talvez valha mais a pena a segunda opção.

Acompanhe tudo sobre:aplicacoes-financeirasBancosFinançasJurosPar CorretoraPoupançaSeguros

Mais de Minhas Finanças

Ministério da Justiça realiza leilão de 54 quilos de ouro; veja como participar

Mega-Sena acumulada: quanto rendem R$ 61 milhões na poupança

Programa Apoio Financeiro: Caixa paga parcela de R$ 1.412 a trabalhadores do RS

Receita libera consulta ao 3º lote de restituição do IR 2024 nesta semana

Mais na Exame