Um homem segura um cartaz acima da multidão em um comício pró-independência ucraniano em 1991 (Peter Turnley/Corbis/Getty Images)
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A guerra entre Rússia e Ucrânia tomou o lugar dos NFTs como o assunto que as pessoas mais querem discutir —mas que raramente entendem de verdade — nesta última semana. E não nos leve a mal, a última vez que o Leste Europeu rendeu tantas notícias muitos de nós nem estávamos vivos.
A verdade é que a civilização russa começou onde hoje é a Ucrânia (e Kiev se desenvolveu antes de Moscou). Enquanto fazia parte de impérios europeus, como o soviético, o país sofreu tentativas de “russificação” (como na língua e na cultura), pela preocupação com o nacionalismo ucraniano.
E depois de a ditadura de Stalin matar milhões de ucranianos de fome na década de 1930, ficou difícil querer fazer parte do lado russo. Aliás, foi tão difícil que o próprio hino do país começa com a frase “A Ucrânia ainda não está morta”.
Em 1991, a Ucrânia se torna independente para, finalmente, entrar em um cabo de guerra entre a Rússia e o Ocidente. Enquanto o centro e o oeste tendiam a ser pró-Ocidente, o leste e o sul da Ucrânia “simpatizavam” mais com Moscou.
Mas, para Putin, não é bem assim. O Kremlin acredita que a Ucrânia é parte inegociável de seu campo de poder e que ver o país se aproximar da Otan e do Ocidente (como tem feito desde 2008) seria inadmissível.
Depois de uma revolta popular derrubar o presidente da Ucrânia em 2014 (que era pró-Rússia), um governo apoiado pelo Ocidente toma o poder.
Como resposta, a Rússia anexou a Crimeia (com a maioria da população sendo russa) e apoiou confrontos em duas províncias do leste que estabeleceram estados separatistas da Ucrânia — o que resultou em uma guerra civil que já atingiu mais de 1 milhão de pessoas.
Enquanto russos e ucranianos pegavam em armas na última semana, o resto do mundo se mobilizou de uma forma diferente. Entre sanções, controles de exportação e congelamento de ativos, a internet se transformou num verdadeiro arquivo documental de tudo que estava rolando (e uma ferramenta para atacar de outros jeitos) no conflito. Veja alguns exemplos:
Tanto a Rússia quanto a Ucrânia têm suas economias baseadas em uma coisa: commodities (energéticas e agrícolas). A título de curiosidade, só em 2021, o Brasil importou mais de US$ 5,7 bilhões em produtos russos, sendo 60% destes fertilizantes.
E não é só o Brasil. A Rússia é a maior exportadora de insumos agrícolas do mundo.
Mas os principais bancos da Rússia foram banidos do Swift (um serviço global de comunicação entre instituições financeiras). Com isso, o Brasil pode não conseguir pagar e receber os produtos importados da Rússia;
Além disso, oito das 100 categorias de produtos mais importados pelo Brasil vêm da Rússia (e a maioria é essencial para a nossa produção agrícola). Com os insumos mais caros, o produtor terá de cobrar mais pela safra e, consequentemente, os preços dos alimentos podem continuar subindo.
A Rússia exporta também petróleo, gás natural, trigo etc. E com a oferta diminuída no meio de uma guerra, os preços do diesel, gasolina, borracha e derivados tendem a disparar.
Mas o aumento dos preços não é a única preocupação, porque a Rússia é também uma grande compradora de produtos brasileiros. Só em 2021, por exemplo, ela comprou mais de US$ 800 milhões em soja, café e carne.