IA: mercado se preocupa se setor é bolha (Imagem gerada por IA/Freepik)
Repórter
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 06h00.
A inteligência artificial (IA) não é uma bolha. Ao menos é o que afirmam o Bank of America e a maior gestora do mundo, a BlackRock. Para ambas instituições, o atual ciclo de valorização está baseado em investimentos produtivos, aumento de eficiência e crescimento de lucros, diferentemente da especulação que marcou a bolha pontocom dos anos 2000.
Segundo Jean Boivin, diretor do BlackRock Investment Institute, o mercado atual tem consciência dos riscos. Para ele, o debate constante sobre uma possível bolha é, na verdade, um sinal de prudência. “O risco é maior quando ninguém fala sobre ele”, afirmou em evento com jornalistas, segundo a Fortune.
A BlackRock afirma que o capex global voltado à IA pode chegar a US$ 8 trilhões até 2030, com foco nos EUA. A escala é tão ampla que a casa chama o fenômeno de “o micro virou macro” — capaz de elevar o crescimento estrutural do Produto Interno Bruto (PIB) americano acima do patamar histórico de 2%.
Apesar do otimismo com os fundamentos, o cenário não é livre de tensões. A gestora destaca gargalos físicos que limitam a expansão, como o acesso a energia elétrica e capacidade computacional. Data centers dedicados à IA podem representar até 20% do consumo de energia dos EUA até o fim da década, alerta o relatório.
A aceleração de gastos é vista como necessária, mas com risco de antecipar custos antes da consolidação das receitas.
O Bank of America compartilha da visão de que não há bolha, mas alerta para um ponto de inflexão. Para a estrategista-chefe Savita Subramanian, o mercado pode entrar em um período de “air pocket” — um descompasso temporário entre os altos investimentos e a geração de caixa.
Segundo ela, o movimento é impulsionado por grandes empresas de tecnologia. Os hyperscalers — como Amazon, Google, Meta, Microsoft e Oracle — elevaram seus gastos para cerca de 60% do fluxo de caixa operacional, o dobro do patamar de dez anos atrás. Em 2025, os investimentos podem atingir US$ 400 bilhões, subindo para US$ 510 bilhões em 2026.
O financiamento desses aportes, no entanto, já mostra sinais de fragilidade. A emissão de dívida pelas big techs chegou a US$ 121 bilhões em 2025 — quatro vezes a média anual recente. A BofA projeta mais US$ 100 bilhões em captações no próximo ano.
A principal dúvida é se os retornos financeiros da IA conseguirão acompanhar o ritmo dos investimentos.
“Estamos em 2000? Estamos em uma bolha? Não”, afirmou “A inteligência artificial continuará liderando sem restrições? Também não.”
Apesar das incertezas, os analistas veem sinais positivos. O volume de IPOs é menor, há menos especulação em ações deficitárias e o mercado responde negativamente a excessos. Em outubro, por exemplo, ações da Meta caíram 9% após a empresa elevar sua previsão de capex.
Além disso, a concentração do S&P 500 em apenas dez empresas levanta alertas sobre a necessidade de diversificação. “É muito claro que, devido ao foco e à concentração extremos do mercado nessa história, este é o momento de conversar sobre o que deveria estar fazendo com o seu dinheiro”, disse Torsten Slok, da Apollo Global Management.
A BlackRock continua otimista com o tema e mantém posição pró-risco em ações dos EUA. O BofA, por outro lado, estima uma alta modesta de 4% no S&P 500 até 2026 — abaixo das projeções de outros bancos.