Ação da Braskem subiu mais de 150% e teve a maior alta do Ibovespa no primeiro semestre de 2021 | Foto: Germano Luders/EXAME (Germano Luders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 30 de junho de 2021 às 19h20.
Última atualização em 30 de junho de 2021 às 19h50.
O primeiro semestre de 2021 foi de recuperação para a bolsa brasileira. O Ibovespa, principal índice da B3, acumulou alta de 6,54% nos seis primeiros meses do ano, repercutindo a melhora das perspectivas econômicas e sanitárias para o país.
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O Ibovespa reagiu ao início e ao avanço da vacinação, que abriu um horizonte para o controle da pandemia. Outro ponto que trouxe alívio aos investidores foi o PIB do primeiro trimestre, que mostrou um crescimento de 1,2% em relação ao quarto trimestre de 2020, superando as estimativas dos analistas, que apontavam uma alta de 0,9%.
“No primeiro trimestre, as ações atreladas a commodities, principalmente metálicas, foram o grande destaque, repercutindo a retomada econômica global. A partir de março, com as perspectivas de reabertura chegando ao Brasil, shoppings, aéreas e empresas ligadas ao turismo começaram a migrar para o campo positivo”, avalia Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
No embalo, o índice chegou a renovar sua máxima histórica, atingindo 130.776 pontos no início de junho. De lá para cá, correções e incertezas — como a apresentação da reforma tributária e a crise hídrica — impactaram o desempenho do Ibovespa, que se dividiu entre altas e baixas e encerrou o mês com um leve ganho de 0,46%.
Ainda assim, o cenário do semestre foi o suficiente para que alguns papéis na bolsa acumulassem alta superior a 100% no período: Braskem (BRKM5), Banco Inter (BIDI11), Embraer (EMBR3) e Hering (HGTX3).
Na ponta negativa, Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), IRB Brasil (IRBR3) e Eztec (EZTC3) recuaram mais de 25% no semestre, com destaque para a queda de quase 34% do GPA. Os dados foram levantados pela Economatica, plataforma de informações financeiras, a pedido da EXAME Invest.
Confira abaixo quais as dez ações do Ibovespa que mais subiram e as dez que mais caíram no período e entenda quais são os motivos para os principais movimentos:
As 10 ações que mais valorizaram no 1º semestre | |||
1 | Braskem | BRKM5 |
152,65% |
2 | Banco Inter | BIDI11 |
137,11% |
3 | Embraer | EMBR3 |
113,22% |
4 | Hering | HGTX3 |
100,00% |
5 | CVC | CVCB3 |
40,11% |
6 | CSN | CSNA3 |
39,97% |
7 | PetroRio | PRIO3 |
38,84% |
8 | Vale | VALE3 |
37,99% |
9 | Locaweb | LWSA3 |
34,51% |
10 | Marfrig | MRFG3 |
33,39% |
A petroquímica Braskem (BRKM5) acumula alta de 152,65% em 2021, a maior do Ibovespa no período. Analistas apontam que a forte alta da companhia está ancorada em dois fatores: bons resultados e possíveis desinvestimentos de grandes acionistas.
No primeiro trimestre de 2021, a companhia apresentou um lucro de 2,49 bilhões de reais — o melhor resultado trimestral da história. Soma-se a isso a expectativa da venda das fatias de 36,15% e de 38,4% que a Petrobras e a Novonor (ex-Odebrecht), respectivamente, detêm na companhia.
“A Petrobras declarou que sua participação de 36,1% na Braskem está na sua carteira de ativos à venda, enquanto a Novonor adiou o prazo para envio de propostas pela sua participação. É um movimento que destrava valor para a Braskem e mantém a atenção dos investidores”, afirma Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos.
No caso do Banco Inter (BIDI11), a alta de 137,11% pode ser explicada por uma conjunção de fatores. O primeiro deles é uma tendência de valorização dos bancos digitais, no qual o Inter se destaca no cenário nacional, junto do Nubank, que ainda não é listado.
Vale lembrar que o Banco Inter levantou recentemente 5,5 bilhões de reais em oferta subsequente de ações (follow-on) e que os planos da empresa incluem listagem na Nasdaq, a bolsa americana das empresas de tecnologia.
A Embraer (EMBR3) subiu 113,22% no acumulado do ano e foi uma das ações que se beneficiaram da recuperação econômica global, com a volta dos pedidos de aeronaves, algo que havia sido paralisado no auge da pandemia. O que realmente destravou valor para a empresa, no entanto, foi a notícia de avanços no mercado de “carros voadores”.
A companhia anunciou em junho que sua subsidiária Eve — dedicada ao desenvolvimento de veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOL, na sigla em inglês) — iniciou negociações para uma possível combinação de negócios com a Zanite. O negócio pode avaliar as empresas em cerca de 2 bilhões de dólares.
“É uma oportunidade muito boa para a Embraer porque grandes empresas, como a Boeing, não vão focar nesse mercado depois de uma crise tão grande. E startups não têm o financiamento necessário. Já a Embraer é uma empresa média, que é um tamanho ideal pra entrar nesse mercado”, avalia Cruz.
A Hering (HGTX3), por sua vez, acumulava queda de 0,71% até 14 de abril, quando divulgou que havia recebido (e recusado) uma proposta de fusão com a Arezzo (ARZZ3). No mesmo dia, a companhia encerrou o pregão em alta de 28%.
De olho em possíveis fusões, os investidores continuaram a impulsionar o papel, que disparou 26% com o anúncio do acordo para fusão com o Grupo Soma (SOMA3). No acumulado do primeiro semestre, a empresa já avançou 100%.
Analistas destacaram que o negócio traz sinergias importantes para renovar a Hering. “O Grupo Soma tem capilaridade boa e pode ajudar a reinventar a parte digital da Hering, que ainda é forte”, diz Cruz.
As 10 ações que mais caíram no 1º semestre | |||
1 | Pão de Açúcar | PCAR3 |
-33,77% |
2 | IRB Brasil | IRBR3 |
-29,46% |
3 | Eztec | EZTC3 |
-26,53% |
4 | Ultrapar | UGPA3 |
-20,73% |
5 | BB Seguridade | BBSE |
-20,72% |
6 | Tim | TIMS3 |
-20,39% |
7 | Cyrela | CYRE3 |
-17,30% |
8 | Lojas Americanas | LAME4 |
-17,03% |
9 | Sabesp | SBSP3 |
-16,91% |
10 | SulAmérica | SULA11 |
-16,52% |
As ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) perderam valor a partir de março, após a cisão do atacarejo Assaí (ASAI3), sua unidade mais rentável e de maior crescimento. O GPA entendeu que as operações gerariam mais valor separadas, e os investidores reagiram derrubando as ações da companhia em 69% no primeiro pregão após o negócio.
Para analistas, no entanto, o movimento foi pontual e até mesmo exagerado. “O Pão de Açúcar tem outras operações, inclusive o Grupo Éxito, uma rede supermercadista que atua na América do Sul. Houve um um desconto muito grande, e nós recomendamos a compra. A ação, inclusive, já está dando um retorno de mais de 60% desde março”, defende Carvalho. No acumulado do semestre, no entanto, o GPA ainda teve queda de 33,77%.
A empresa de resseguros IRB Brasil (IRBR3) recuou 29,46% na primeira metade de 2021, ainda repercutindo eventos do ano anterior. Em fevereiro de 2020, a gestora Squadra divulgou um relatório apontando inconsistências no balanço do IRB, o que deu início a uma crise que levou a trocas na diretoria da empresa e corroeu o valor de mercado.
A empresa, no entanto, pode estar pronta para um momento de virada. “As ações do IRB já sofreram o que tinham de sofrer, hoje já vemos o papel com bons olhos. E o segundo semestre está se desenhando para ser mais favorável para a empresa, à medida que a Selic aumenta”, afirma Cruz.
No caso da Eztec (EZTC3), as perspectivas não são tão animadoras. A mesma alta na taxa de juro que favorece o IRB penaliza as ações do setor de construção, que precisa lidar com um cenário mais desafiador, uma vez que financiamentos imobiliários devem ficar mais caros e, portanto, isso afetará a demanda.
“O setor de construção civil está pressionado porque a alta na taxa de juro impacta a demanda por crédito, e o financiamento do segmento. Além disso, a inflação dos insumos para construção também vem em forte alta, impactando os custos”, diz Carvalho. Até junho, as ações da Eztec apresentavam baixa de 26,53% em 2021.