Nicola Cotugno, da Enel (Germano Luders/Exame)
Para o presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, a venda da Celg-D para a Equatorial (EQTL3) foi um "bom negócio".
"Estamos nos concentrando em outras áreas, onde precisamos atuar com todas as energias possíveis, econômicas, humanas e tecnológicas. Nesse momento, preferimos ceder a operação para focar em projetos de energia renovável e em projetos tecnológicos em grandes centros urbanos", diz Cotugno em entrevista exclusiva à EXAME.
A compra da distribuidora de energia elétrica de Goiás foi anunciada nesta sexta-feira, 23, por R$ 1,575 bilhão. O preço acertado, todavia, ainda está sujeito a ajustes pelo CDI e pela variação do endividamento até o fechamento da operação.
Além do preço de aquisição, o contrato de compra prevê a reestruturação dos empréstimos entre Celg-D e a Enel no valor de R$ 5,717 bilhões, que deverá ser pago em até 12 meses após o encerramento da operação.
Cotugno lembrou que a Enel adquiriu a operação goiana em 2016 com o objetivo de "investir, melhorar e transformar essa infraestrutura muito grande".
"Sempre tivemos uma perspectiva de longo prazo. Queríamos recuperar a rede de forma profunda e ir ampliando as infraestruturas, pois nossa ideia sempre foi ficar 50 anos, no mínimo, ou até por tempo indefinito. Nunca pensamos em ganhar um leilão para deixar algo pouco robusto, pouco moderno. Nossa ideia nunca foi apenas ganhar um ano e depois seguir correndo atrás de outras questões", explica executivo.
Para o presidente da Enel do Brasil, esse compromisso sério e de longo prazo foi percebido também pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, com o qual a Enel assinou uma série de compromissos com metas consideradas "duras".
"Assinamos e cumprimos todas as metas do compromisso. Estamos conscientes de ter feito um bom trabalho. Levamos energias em territórios que nunca tiveram, das fazendas mais distantes até comunidades mais pobres. Permitimos a expansão da industria em Anápolis. Construímos 17 grandes subestações e reformamos mais de 116 subestações em cinco anos. Aumentamos a qualidade do serviço", diz Cotugno.
O italiano explica que esse foi um esforço gigantesco, considerando a dimensão geográfica de Goiás e o fato que os usuários finais da energia elétrica, como as fazendas, estão muito distantes uma da outra. Mas mesmo assim, a Enel conseguiu aumentar o número de clientes ligados na rede estadual.
Colocando as contas da subsidiária em ordem, a Enel começou a receber ofertas para vender a operação de Goiás. "No começo não estávamos interessados, mas vimos que a Equatorial era uma empresa séria, que fez uma proposta séria, e acabamos encontrando um acordo", explica o italiano.
Cotugno salientou como a Enel está focada em metas muito desafiadoras para os próximos anos.
"Temos o compromisso de chegar até 2040 com emissões zero. E isso não apenas na geração de energia, que seria um trabalho complexo, mas em toda a operação da empresa, o que demanda um esforço brutal de nossa parte. Temos financiamentos em Green Bonds que necessitam de respostas não apenas quantitativas mas também qualitativas. Portanto, devemos escolher nossas prioridades", diz Cotugno.
"Além disso, estamos concentrando nossos esforços em pequisa e desenvolvimento para projetos em centros urbanos, como a eletrificação da rede de transporte público. E isso acaba absorvendo nossas energias em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Lima, Santiago, Bogotá, entre outras da região", salientou o executivo.
Entretanto, as portas continuam abertas para futuros investimentos. "Gostaríamos de fazer tudo e gostaríamos de adquirir mais distribuidoras. Mas é um momento de escolhas. Mas temos a certeza que em Goiás fizemos um bom trabalho", concluiu o presidente da Enel Brasil.