Como a Ucrânia está usando as criptomoedas como “arma monetária"
A Ucrânia inaugurou a primeira "política cripto-monetária" como instrumento contra a invasão russa. E isso poderia mudar o mundo dos criptoativos para sempre.
Carlo Cauti
Publicado em 28 de março de 2022 às 17h26.
Última atualização em 29 de março de 2022 às 14h13.
A invasão da Rússia contra a Ucrânia está se tornando o principal teste para o futuro das criptomoedas.
Até agora as criptos foram amadas ou odiadas, criticadas ou abençoadas, usadas, abusadas ou evitadas.
Os bancos centrais as consideraram como um elemento de instabilidade do sistema financeiro internacional, justamente porque são descentralizadas na Internet (além de ser altamente voláteis).
Entretanto, no conflito na Ucrânia as criptos ganharam um novo protagonismo.
Não por acaso, o Bitcoin chegou a superar US$ 48 mil (cerca de R$ 240 mil). A maior cotação do ano.
Isso pois, de um lado, o presidente russo, Vladimir Putin, decidiu autorizar o pagamento de petróleo e gás russo por países amigos usando criptomoedas.
Do outro, o próprio governo ucraniano, está tentando usar as criptos para tentar coletar ajuda internacional para resistir a invasão, contornando ao mesmo tempo a inevitável desvalorização da grívnia, a moeda ucraniana.
A Ucrânia está implementando a primeira "criptomoeda de guerra" e já arrecadou US$ 100 milhões (cerca de R$ 470 milhões) em doações por meio de plataformas cripto. Parece não ser muito dinheiro, mas é a apenas a ponta do iceberg.
A figura chave no uso do blockchain como instrumento de defesa é o ministro da Transformação Digital, Mykhailo Fedorov, que já no segundo dia da ocupação russa ordenou o desenvolvimento de uma carteira virtual para o governo.
Com isso, conseguiu arrecadar US$ 100 milhões (cerca de R$ 470 milhões) em doações oriundas do mundo todo.
Ucrânia inaugura "política cripto-monetária"
Paralelamente, o governo do presidente Volodymyr Zelensky também lançou a primeira "política cripto-monetária": autorizou o uso dessas tecnologias como substitutos do sistema de moedas fiduciárias.
Ou seja, o governo ucraniano decretou o curso legal das criptos em todo o território nacional.
Esse foi o primeiro país europeu que legalizou as criptos, colocando-as no mesmo nível da moeda local.
E agora o Banco Central da Ucrânia está pensando em sua própria "cripto-grívnia".
Ucranianos já usavam muito as criptomoedas
As condições de base para o sucesso desse plano já existiam até mesmo antes da invasão russa. A Ucrânia já era o quarto país do mundo por número de cidadãos que usavam criptomoedas.
Além disso, o fato que o governo ucraniano é composto por pessoas jovens também ajudou nessa implementação. O presidente Zelensky tem 44 anos, o ministro Fedorov apenas 31, seu vice, Alex Bornyakov, empresário digital, 40 anos, e a vice-primeira ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, 41 anos.
Se nos primeiros dias da ocupação russa as criptomoedas eram temidas como uma possível ferramenta usada pelos oligarcas ou pela Federação Russa para evitar as sanções internacionais, hoje a questão é se essa tecnologia pode se tornar um instrumento para países em guerra, criando um sistema paralelo pagamento que supera a desvalorização das moedas locais. Em suma, uma nova arma monetária.
Afinal, na História, a inflação e a desvalorização sempre foram armas de guerra.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o ditador alemão Adolf Hitler lançou a "Operação Bernhard", o plano para minar a economia do Reino Unido imprimindo maciçamente de notas falsas de 5, 10, 20 e 50 libras. O objetivo do plano era causar uma inflação que destruiria o poder de compra da libra, empobrecendo os cidadãos britânicos ao aumentar os preços dos produtos básicos, atacando a credibilidade do primeiro-ministro Winston Churchill. Por pouco não deu certo.
Dessa vez, no confronto entre Rússia e Ucrânia, graças as criptomoedas o arsenal da "guerra monetária" aumentou de tamanho.