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Consumo da classe C e D está se recuperando, diz CEO da Superdigital

Em maio consumo cresceu 8%. O crescimento mais robusto foi registrado no Norte (14%) e no Sudeste (10%).

Luciana Godoy, CEO da Superdigital, fintech do Santander Leandro Fonseca/Exame (Leandro Fonseca/Exame)

Luciana Godoy, CEO da Superdigital, fintech do Santander Leandro Fonseca/Exame (Leandro Fonseca/Exame)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 30 de junho de 2021 às 06h00.

Última atualização em 3 de julho de 2021 às 12h14.

O consumo da classe C e D no Brasil vem se recuperando após o impacto negativo causado pela segunda onda da covid-19 quanto pelo fim da primeira fase do auxílio emergencial, de acordo com pesquisa da Superdigital, fintech do Santander, divulgada para a EXAME Invest.

Em maio esse consumo cresceu 8%, enquanto em fevereiro, março e abril haviam sido registradas quedas sequenciais.

Todas as regiões do Brasil apresentaram melhora, mas o crescimento mais robusto foi no Norte (14%) e no Sudeste (10%). Sul, Centro-Oeste e Nordeste tiveram alta de 9%, 5% e 2%, respectivamente.

Os setores que mais alavancaram os números foram lojas de roupas (12%), transportes (10%), restaurante (10%), combustível (8%) e hotéis e motéis (8%). Os gastos que mais tiveram queda foram com diversão e entretenimento (-19%), principalmente, jogos online.

Em abril o consumo online representou 25% do total das compras e passou para 22% em maio. Já o consumo em lojas físicas passou de uma representatividade de 75% em abril para 78% em maio, com aumento nas categorias diversão e entretenimento (81%), serviços (12%), lojas de roupas (9%) e restaurante (7%).

Para Luciana Godoy, CEO da Superdigital no Brasil, depois do fechamento do comércio que ocorreu no início do ano, as pessoas voltaram a ir a restaurantes e lojas. "Percebemos uma mudança até no consumo de entretenimento, já que nos meses anteriores identificamos crescimento de gastos com jogos online. Agora, o consumo está sendo realizado em parques de diversão, academias, entre outros serviços presenciais”.

Os valores médios gastos em maio que mais cresceram foram em companhias aéreas (7%), hotéis e motéis (5%) e restaurante (4%). “As pessoas estão gastando com itens que dependiam de maior circulação. Conforme o avanço da vacinação, os brasileiros se sentem mais confiantes para viajar, ir a um restaurante ou espaço público”, afirma a executiva.

Veja abaixo a entrevista concedida por Luciana Godoy para a EXAME Invest.

O consumo da classe C e D vinha retrocedendo desde fevereiro, quando apenas em um mês caiu 28%. A região Sudeste apresentou a maior queda. Os lockdowns foram a razão desse movimento?

Nossa pesquisa anda junto com os lockdowns provocados pela pandemia e o consequente abre e fecha do comércio, mas também caminha ao lado do pagamento do auxílio emergencial, que atinge principalmente as classes sociais mais baixas.

Tanto que vemos que o consumo caiu todos os meses do ano, exceto em março e abril, quando passa a registrar uma queda um pouco menor. Foi nestes últimos dois meses que foi iniciada a segunda rodada do pagamento do benefício. Mesmo agora, que será pago um valor menor, o benefício tem impacto positivo no consumo.

Tivemos um consumo impressionante no segundo semestre do ano passado, mas que estagnou em fevereiro, março e abril por conta dessas questões.

O consumo cresceu nos supermercados, nas farmácias e postos de combustíveis. Mas há uma combinação com a inflação. A classe C e D está usando mais os supermercados, mas também pagando mais pelos produtos. O uso tem foco em objetos básicos.

Percebemos também uma ida da classe média para as compras online. Esses consumidores estão aprendendo a consumir desta forma. As vendas no ecommerce na pandemia nessas classes sociais cresceram mais de 60%. O pagamento de contas por apps cresceu 65%. Esses consumidores tinham o hábito de pagar contas nas lotéricas.

É um crescimento que veio e diminuiu, até agora, apenas 1 ponto porcentual, porque é natural que as pessoas comecem a querer sair. Mas não acreditamos que esse fenômeno irá retroceder ao que era antes da pandemia.

Como a classe C e D não tem tanto acesso ao crédito o PIX cresceu como forma de pagamento, inclusive sobre o saque. A base de saques mensais registra queda de 30% porque muitos estão preferindo realizar operações via PIX. Até o comércio de rua já permite pagar picolé via PIX.

Percebemos isso porque o tíquete médio das operações via PIX vem caindo e a quantidade de operações cresce de 30% a 40% por mês. Isso mostra que o pagamento instantâneo não é apenas usado para transferências.

A pesquisa aponta que gaúchos, paranaenses, pernambucanos e cearenses voltaram a viajar mais. Analise a dicotomia dos estados. Em Minas, o consumo cresceu em abril. No Ceará, também

O Brasil é tão grande que a pandemia teve vários momentos. Tirando a segunda fase, pela qual todos passaram no mesmo momento, a evolução foi diferente em cada estado Na região Sul a primeira onda demorou muito para acabar. No Sudeste os meses de novembro e dezembro concentraram o reaquecimento. Isso tem a ver com a concentração de renda na região, e um menor desemprego.

Cada estado tomou uma decisão em algum momento. No final do ano o movimento em lojas do  Nordeste cresceu muito. Em alguns estados as pessoas começaram a viajar, mas regionalmente. No Rio, o comércio começou a parar, os shopping fecharam de novo e em abril a curva de consumo voltou a crescer.

Sabemos que há uma retomada do consumo quando o item vale transporte tem um forte crescimento.

A pandemia provocou mudanças na estratégia de captação da Superdigital?

Tínhamos uma grande presença no varejo e nos shoppings centers, setores que foram machucados da pandemia. Como consequência, mudamos o nosso foco e começamos a fazer um trabalho com ONGs e recicladores, com o intuito de bancarizar um público gigante, que não conseguimos captar online. Queremos mostrar que podem pagar contas básicas pelo app. Isso porque vimos que atualmente a preocupação do brasileiro é pagar contas de luz, água e gás em dia.

Mas essa inclusão digital não é simples. Os novos entrantes do sistema precisam aprender a pagar conta pela nossa carteira digital. O público negativado tem medo de não aceitarmos a conta. Hoje, quem abre uma conta conosco, mesmo com nome negativado, pode ter cartão pré-pago. Não rejeitamos contas, basta uma pessoa ser maior de 18 anos, ter CPF e passar pelas verificações necessárias contra fraudes.

Esse será o nosso trabalho do segundo semestre: inserir, ajudar a usar, pagar contas e conseguir cadastrar a conta no Uber. Ainda temos 36 milhões de brasileiros fora do ambiente bancário.

Queremos, portanto, avançar na captação do público que não vem de folha de pagamento das empresas. Já conseguimos crescer 20% com organizações, mas sabemos que muitos não são trabalhadores formais. O salário desses potenciais clientes não pinga a cada 30 dias, mas aos poucos, cerca de 45 dias, em média. Ele vai recebendo o dinheiro e pagando contas. Recebem pouco em serviços picados e optam por esperar receber mais para apenas então pagar algumas contas.

Nos concentramos em regiões como os sertões do Nordeste, locais que já representam 22% do nosso negócio e onde o público está preparado para consumir, mas não existem agências bancárias.

Já registramos conquistas com empresas de delivery e de vendas porta a porta. Elas não têm folha de pagamento, mas realizam pagamentos recorrentes, que é o que queremos. Buscamos empresas menores, que atuam no interior dos estados, e não super apps como Rappi, que estão criando sua própria estrutura de crédito e conta digital. Já temos parcerias com 15 plataformas, que representam 12% do negócio.

Surge uma fintech por dia. Precisamos achar novos nichos. Mutos brasileiros, por exemplo, estão inovando dentro de casa. Buscamos plataformas de marido de aluguel, artesanato, como Elo7, e serviços, como Getninjas. Todas receberam bons aportes capital, empregam e têm grande giro de valores. Atendem pessoas que precisam complementar renda, famílias que estão se virando.

O que oferecem condições de crédito aos clientes? 

Temos uma grande preocupação em oferecer crédito para o nosso cliente, que não tem tanto fôlego e não está maduro para lidar com as parcelas de um empréstimo. Mas buscamos parcerias que possam ajudá-lo a pagar a conta de luz. Esses nanoempréstimos, que devemos lançar em breve, terão uma boa taxa e prazos menores.

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Atualmente a financeira do grupo, a Santander Sim, oferece crédito pessoal com taxas que partem de 4,5%, valores médios mais altos. Queremos partir de 2%, dependendo do prazo, valor e histórico do cliente. Enquanto a renda média do público de trabalhadores formais gira entre R$ 1.800 a R$ 2 mil, a renda média do público informal cai para R$ 600 a R$ 1 mil por mês.

Precisamos ter mais tecnologia envolvida no processo de análise de crédito para modular o crédito oferecido a trabalhadores com renda recorrente. Se oferecermos taxas altas, não valerá a pena.

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