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Saques em multimercados batem novo recorde: para onde foi o dinheiro?

Volume de retiradas se intensificou a partir de agosto, quando esquentaram as discussões sobre um novo ciclo de alta de juros

 (MicroStockHub/Getty Images)

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Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 12h26.

Última atualização em 17 de setembro de 2024 às 12h32.

Demorou menos de nove meses para os resgates dos fundos multimercados atingirem um novo recorde neste ano, superando as saídas de R$ 180,94 bilhões registradas ao longo de todo o ano passado. No acumulado de 2024, as retiradas já somam R$ 183,4 bilhões.

Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que a retirada de recursos desses fundos se intensificou a partir de agosto, quando cresceram as expectativas de um novo ciclo de altas de juros pelo Banco Central. No mês, a captação líquida ficou negativa em R$ 40 bilhões, a maior retirada mensal desde dezembro do ano passado.

Não há sinais, no entanto, de que o déficit dos multimercados tenha sido estancado. Números mais recentes da Anbima indicam que, até o dia 11 deste mês, os investidores já haviam sacado mais R$ 39 bilhões dessa classe de fundos.

A retirada tem sido acompanhada pelo fechamento de fundos, com o encerramento líquido de 902 produtos multimercados no ano.

O mau momento dos multimercados não é recente. Nos últimos três anos, as saídas já somam mais de R$ 450 bilhões, valor equivalente a mais de um quarto de todo o patrimônio líquido atual da categoria.

Pedro Rudge, sócio-fundador da Lablon Equities, explica que a performance abaixo do esperado dos multimercados tem prejudicado o volume de captação. Ainda segundo a Anbima, a rentabilidade mediana dos multimercados tem sido relativamente baixa em comparação ao CDI. Os fundos de classificação "livre", por exemplo, renderam 10,86% nos últimos doze meses até o fim de agosto, contra 10,18% do CDI no mesmo período, com custos e volatilidade mais altos.

Disputa com a renda fixa

Nesse cenário, muitos investidores migraram para a renda fixa, que tem rendimento atrelado ao CDI, com custos e volatilidade menores.

A entrada em fundos de renda fixa atingiu níveis recordes em 2024, com captação líquida acumulada de R$ 355,6 bilhões. O recorde anterior era de 2021, quando o saldo foi de R$ 241 bilhões.

"Nesse ambiente de taxas de juros mais altas, há uma combinação de fatores que ajudam a explicar essa migração para a renda fixa", disse Rudge.

Enquanto as saídas de multimercados aceleraram desde agosto, as entradas nos fundos de renda fixa se intensificaram. Até o último dia 11, os fundos de renda fixa captaram R$ 48,7 bilhões. No semestre, a captação está em R$ 154,2 bilhões. Parte desse valor, segundo Rudge, é explicada por eventos de curto prazo.

"O aumento da taxa de juros e as incertezas fiscais deixam o investidor mais conservador, optando pela renda fixa", completou Rudge.

Adriano Candreva, sócio do multi family office Portofino, afirma que tem notado essa migração para a renda fixa entre seus clientes. Uma opção recorrente entre os mais endinheirados, segundo ele, são os FIDCs, fundos estruturados com elementos de crédito privado e renda fixa.

"Eles costumam oferecer um custo-benefício bastante atrativo, especialmente quando há acesso a produtos mais qualificados", comentou.

Desde o início do ano, os FIDCs registraram captação líquida de R$ 91,67 bilhões, já superando o recorde de R$ 83 bilhões do ano passado.

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