Decisão judicial impede Rupert Murdoch de alterar o truste familiar e consolidar o controle de Lachlan Murdoch, mantendo o futuro do império Fox News em disputa (Getty Images/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 10 de dezembro de 2024 às 10h26.
Rupert Murdoch, aos 93 anos, sofreu um revés significativo em sua tentativa de alterar o truste familiar que governa seu império midiático. A decisão foi proferida pelo comissário Edmund J. Gorman Jr., de Nevada, que concluiu que Murdoch e seu filho Lachlan agiram de má-fé ao propor mudanças destinadas a consolidar o controle de Lachlan e assegurar que a Fox News mantenha seu viés editorial conservador. A informação é do The New York Times.
O relatório judicial, com 96 páginas, caracterizou o plano como uma "farsa cuidadosamente elaborada" para proteger o papel executivo de Lachlan, independentemente das consequências para os demais beneficiários do truste. A decisão representa um golpe nas ambições de Murdoch de consolidar o poder em seu filho mais velho e proteger o legado conservador que construiu em empresas como a Fox News, The Wall Street Journal e The New York Post.
O advogado de Murdoch, Adam Streisand, afirmou que Rupert e Lachlan estão desapontados com o resultado e pretendem recorrer. Enquanto isso, os outros filhos de Murdoch — James, Elisabeth e Prudence — celebraram a decisão, emitindo um comunicado no qual expressaram esperança em reconstruir as relações familiares após o litígio.
O truste familiar, criado em 2006, foi estruturado para dividir igualmente o controle do império midiático de Murdoch entre seus quatro filhos mais velhos. Contudo, Rupert Murdoch e Lachlan buscavam alterar esse equilíbrio, argumentando que manter a linha editorial conservadora da Fox News e das demais empresas seria financeiramente benéfico para todos os beneficiários.
James e Elisabeth, conhecidos por suas posições políticas mais progressistas, têm demonstrado oposição ao viés conservador da Fox News, o que alimenta temores de Rupert de que, após sua morte, os dois possam tentar mudar a direção editorial da empresa. Essa disputa interna expôs ainda mais as divisões ideológicas dentro da família Murdoch, complicando os esforços para alcançar um consenso sobre o futuro do império.
A decisão judicial destacou que o truste original foi estruturado como irrevogável, com disposições que dificultam alterações unilaterais. Apesar disso, Murdoch e Lachlan buscaram explorar brechas legais que permitiriam mudanças sob o argumento de que seriam do "melhor interesse" dos beneficiários.
A tentativa de Murdoch de consolidar o controle de Lachlan agravou tensões de longa data dentro da família. A disputa remonta a 2010 e 2011, durante o escândalo de grampos telefônicos no Reino Unido, quando Elisabeth tentou persuadir seu pai a demitir James, que estava à frente das operações britânicas na época.
No entanto, o conflito atual é mais profundo. Documentos do processo revelaram que os filhos de Murdoch já discutem estratégias para lidar com o impacto público da morte do patriarca. Inspirados por um episódio da série Succession, que retrata a morte de um magnata da mídia e o caos resultante, Elisabeth e seus representantes redigiram um memorando interno com orientações para evitar um colapso semelhante.
O plano de Murdoch e Lachlan, denominado "Projeto Harmonia Familiar", buscava marginalizar James e Elisabeth ao limitar sua influência no truste. Eles também consideraram conceder direitos de voto às filhas mais jovens de Murdoch, Grace e Chloe, fruto de seu casamento com Wendi Deng.
Caso a decisão seja mantida, Lachlan ainda pode buscar outros caminhos para consolidar seu controle, como a compra das participações de seus irmãos no império. Contudo, qualquer alteração dependerá do resultado de apelações e de possíveis novas rodadas de litígios.
Além disso, a disputa levantou questões sobre o futuro do império Murdoch, especialmente sobre a capacidade de Lachlan de manter a unidade familiar e preservar a identidade conservadora das empresas após a morte de Rupert. Enquanto o litígio prossegue, a decisão do comissário Gorman é vista como uma reafirmação da igualdade entre os beneficiários. O comissário argumentou que Murdoch e Lachlan buscaram "empilhar o baralho" em favor do primogênito, comprometendo os interesses dos demais filhos.
A batalha pelo controle do truste também colocou em destaque as dificuldades de gerenciar um império familiar em meio a divisões ideológicas e rivalidades pessoais. Para Rupert Murdoch, que construiu um dos maiores conglomerados midiáticos do mundo, o desafio agora é assegurar que seu legado permaneça intacto sem comprometer as relações familiares.