Preocupação do mercado é inflação em 2023, diz André Perfeito
Economista-chefe da Necton afirma que o mercado já trabalha com uma alta mais forte na taxa Selic na próxima reunião do Copom
Karla Mamona
Publicado em 16 de julho de 2022 às 08h10.
Última atualização em 16 de julho de 2022 às 10h00.
A aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria e amplia benefícios sociais em ano eleitoral pelo Congresso pode não trazer o resultado esperado pelo governo. É o que afirmou André Perfeito, estrategista-chefe, da corretora Necton. Em entrevista à EXAME Invest, Perfeito afirmou que a estratégia do governo é dar dinheiro para controlar a inflação, mas que trará alívio apenas para o curto prazo.
“A PEC virou um grande amontoado do que o governo quer fazer. Isso mostra uma urgência de ação do governo. Virou a ‘PEC do Desespero’ e isso tem traduzido em um prêmio de risco maior. A curva de juro cresceu bastante.”
Segundo o economista, o mercado já trabalha com uma alta mais forte na taxa Selic na próxima reunião do Copom, que acontecerá no início do mês de agosto. A Necton projeta uma alta de 25 pontos base e a Selic em 13,5% ao ano.
“Provavelmente vou errar. Talvez venha uma alta mais forte, mas não deve ser muito mais forte, durante muito mais tempo. As medidas que o governo está tomando criam uma perspectiva de inflação mais baixa. O problema não é a inflação de 2022, mas a discussão é a inflação de 2023 e de hedge. Isso ainda está pouco claro.”
O economista ressaltou que os bancos centrais estão com cenário difícil, inclusive o Banco Central brasileiro. A inflação mundial não é apenas ocasionada pela demanda, mas há componentes de inflação de oferta, quando existe uma pressão pelo aumento de preços devido aos custos de produção. “Agora, o BC está tentando controlar a inflação e a piora das expectativas derivadas das medidas adotadas para tentar controlar essa inflação”, acrescentou.
Para 2023, a projeção da Necton é uma Selic de 11% ao ano. Na visão de Perfeito, o Banco Central vai começar atuar mais fortemente no final do primeiro semestre do próximo ano ou no início do segundo semestre de 2023. “O BC vai esperar o próximo governo, com o presidente Bolsonaro ou ex-presidente Lula, para voltar a cortar a taxa de juro. Primeiro, o BC precisa entender como será a parte fiscal, isso demora uns seis meses.”
Sobre as eleições presidenciais, o economista ressalta que trará mais volatidade ao mercado. De acordo com Perfeito, uma parcela do mercado, que é pró-Bolsonaro, entende que a política de Paulo Guedes gera um ajuste no longo prazo, deverá sendo o melhor caminho. Já outra parcela do mercado, tem analisado e trabalhado com os dados das pesquisas eleitorais, que têm apontado a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.
“O mercado tem olhado para o Lula tentando entender efetivamente o que ele pretende. O maior receio é que ele queira subir novamente o salário mínimo, o que ele fez quando ganhou na primeira vez. Naquela época, subir o salário era possível devido aos componentes da inflação mais confortáveis. Hoje, se ele fizer isso, o IPCA pode subir.” O economista acrescenta ainda que aumentar o salário mínimo pode onerar ainda mais a folha de pagamento. “O mecanismo usado antes, talvez não seja o melhor instrumento agora.”
Diante desse cenário, com alta da inflação, subida da Selic e volatidade com a proximidade eleitoral, André Perfeito afirma que a melhor estratégia para o investidor pessoa física é buscar produtos financeiros que tenham taxas prefixadas, como CDB, que está pagamento cerca de 15% ao ano. “As taxas prefixas são bastante interessantes. É interessante também comprar IPCA+ alguma coisa. Comprar inflação porque ela pode continuar sendo um transtorno.”