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Por que o Itaú (ITUB4) comprou a corretora Avenue

Segundo analistas, o objetivo do maior banco da América Latina é se fortalecer no varejo, aumentar a oferta para os clientes 'prime' e sair na frente de concorrentes

Itaú Unibanco (ITUB4) (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Itaú Unibanco (ITUB4) (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

A compra da corretora Avenue pelo Itaú Unibanco (ITUB4) é mais uma operação do maior banco da América Latina para interceptar cada vez mais os investimentos das pessoas físicas.

O Itaú Unibanco vai comprar inicialmente 35% da Avenue, com um aporte primário de R$ 160 milhões, ou seja, dinheiro que irá diretamente para o caixa da Avenue, e um aporte secundário, ou seja, pago aos atuais acionistas, de R$ 333 milhões.

Além da transação de R$ 493 milhões no total, o acordo prevê a possibilidade que o Itaú compre outra participação de 15,1% do capital da Avenue, se tornando assim controlador da corretora.

Após dois anos, o Itaú terá a possibilidade de comprar mais 15,1% da Avenue, se tornando dessa forma o controlador da empresa. Além disso, em cinco anos, o banco poderá adquirir 100% do capital da corretora. Os múltiplos para essas operações foram pré-estabelecidos.

"A compra foi uma forma do Itaú conseguir complementar a oferta que ele já tinha de serviços, se fortalecendo ainda mais no segmento de varejo, principalmente nesse produto focado em investimento direto no exterior", disse à EXAME Invest Gabriel Gracia, analista da Guide Investimentos.

O Itaú já tem uma grande relevância no segmento de gestão de grandes fortunas, e os produtos da Avenue poderão agregar valor à sua oferta para os clientes prime.

Conheça a história da corretora Avenue

Fundada em 2018 por brasileiros em Miami, no estado americano da Flórida, a Avenue é uma corretora que tem como objetivo facilitar os investimentos "tupiniquins" nos Estados Unidos.

Um dos cofundadores é Roberto Lee, atual CEO, que vai continuar na liderança da empresa também após a compra do Itaú.

Lee começou no mercado financeiro com 17 anos, acumulando uma série de passagens entre as quais a Patagon.com, Ágora, e fundando a Wintrade Investimentos e Clear corretora, essa última vendida para a XP em 2014.

O executivo criou a Avenue focando no investidor pessoa física que, naquele momento, estava começando a sair da renda fixa e entrar no mercado financeiro.

Muitos desses novos CPFs, que ingressaram em massa na B3 (B3SA3), também procuravam uma diversificação de seus portfólios se protegendo da inflação e de uma possível desvalorização do real.

E a Avenue forneceu um caminho prático para que esse público, em grande parte de classe média, pudesse construir uma carteira em dólares.

Em quatro anos de atividade, a Avenue conquistou 229 mil clientes ativos, 492 mil contas habilitadas e algo em torno de R$ 6,5 bilhões sob custódia.

"Agora, o desafio do Itaú será integrar essa oferta para o 'varejo' com seus clientes 'prime'", explica Gracia.

Aquisição importante em momento propício

"Essa foi uma aquisição importante para o Itaú, considerando que existe uma grande disputa entre bancos incumbentes e fintechs. Esse é um momento muito propício para os incumbentes comprarem as fintechs, considerando que é os múltiplos, que já estiveram muito esticados, agora estão mais baixos", explica Alexandre Masuda, Co-Gestor e Head de Snálise da SFA Investimentos, à EXAME Invest.

Segundo ele, com as taxas de juros subindo, "os valuations estão mais baratos e está mais difícil para os incumbentes obter capital barato".

Além disso, existe um "racional estratégico e não apenas de investimento nessa operação, considerando a possibilidade do Itaú de adquirir 100% das operações da Avenue no futuro próximo.

Para  Guilherme Tiglia, sócio e analista da Nord Research, à EXAME Invest, "o grande objetivo dessa transação é poder surfar em um mercado com um grande potencial de multiplicação de valor ao longo dos próximos anos".

"Toda essa questão de investimentos no mercado externo pode ter uma destrava de valor considerável ao longo dos próximos anos, e o Itaú não quis ficar fora dessa. Estão focando em um mercado bastante relevante", concluiu Tiglia.

Estratégia do Itaú Unibanco (ITUB4) é sair na frente dos concorrentes

No começo deste ano, o Itaú comprou a corretora digital Ideal, pagando cerca de R$ 650 milhões para o 50,1% do capital.

O objetivo da operação foi acelerar a entrada no mercado de agentes autônomos de investimento, aperfeiçoando a distribuição de produtos de investimentos para clientes pessoas físicas.

Em abril deste ano, o banco realizou uma parceria de R$ 1 bilhão com a Tutvs (TOTS3), para a criação de uma joint-venture - chamada de Totvs Techfin - com o objetivo de distribuir serviços financeiros integrados ao sistema da Totvs. 

No mesmo mês, o Itaú adquiriu 12,82% do capital social da Orbia, maior marketplace de agronegócio do Brasil.

Em setembro do ano passado, o Itaú lançou o íon, uma plataforma de investimentos também focada no varejo.

Entretanto, essa tentativa de criar uma plataforma própria não conseguiu conquistar os clientes do Itaú.

"Também por isso, o banco resolveu voltar às compras", explica Tiglia, salientando como todas essas operações foram realizadas após o 'divórcio' entre Itaú e a XP (XPBR31), com a qual passou a competir diretamente nesse segmento.

"A compra da Avenue faz parte desse racional para oferecer um leque maior de produtos para os clientes do Itaú", diz Masuda.

Segundo os analistas, com essa série de operações o Itaú passa a “bater de frente" com seus concorrentes, oferecendo uma solução mais completa e integrada. No caso dos investimentos no exterior, o maior banco da América Latina sai na frente, pois os concorrentes ainda tem uma estratégia incipiente ou em fase inicial de implementação.

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