Petrobras: grande pagadora de 2022, mercado agora vê a estatal pagando menos proventos em 2023 (Montagem Felipe Alves/Shutterstock)
Guilherme Guilherme
Publicado em 23 de dezembro de 2022 às 16h21.
Próximo de seus dias finais, o 2022 pode ser considerado o ano dos investidores em termo de remuneração. Observando apenas os nove meses até setembro, que é o período em que os dados já foram compilados e publicados pelas companhias com ações negociadas na bolsa, o pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) chegou a R$ 302,46 bilhões, mostra levantamento feito pela plataforma Trademap.
Esse montante é praticamente todo o valor pago em 2021, quando as empresas distribuíram R$ 319,22 bilhões, e mais do que o dobro do pagamento em 2020, de R$ 124,94 bilhões. Se a comparação for contra o mesmo período, o aumento contra os nove primeiros meses de 2021 é de 42%. O total de dividendos e JCP referentes ao ano de 2022 deve crescer bastante ainda, após anúncios robustos das companhias, como a Suzano que pagou R$ 88 milhões em dividendos neste mês, ou a Petrobras, que distribuiu R$ 21,85 bilhões de JCP no último dia 20. Olhando para 2023, no entanto, a expectativa de analistas de mercado é de torneira mais fechada na distribuição de proventos.
Neste ano, a estatal de petróleo foi mesmo a grande pagadora de dividendos e JCP. A Petrobras (PETR3/PETR4) pagou R$ 173,4 bilhões aos acionistas até setembro, o correspondente a 57% do montante total das empresas no período. A brasileira, aliás, está entre as maiores pagadoras de proventos em todo o mundo.
Em 2022, os proventos pagos pela Petrobras saltaram 449% quando comparado aos nove meses encerrados em setembro em 2021. Neste ano, a companhia usou a redução das reservas de lucros para complementar o resultado do período e remunerar os acionistas acima do que havia registrado de lucro. Entre as razões pode estar a necessidade de recursos de seu principal acionista, a União. No entanto, há quem diga que a empresa só recompensou o acionista que teve de amargar prejuízos em períodos anteriores.
Já a Vale (VALE3), segunda maior pagadora, reduziu a distribuição de proventos em 2022 na comparação com os nove meses até setembro em 2021. O pagamento de dividendos e JCP caiu 53%, para R$ 34,14 bilhões.
Apesar dos dividendos robustos pagos em 2022, a expectativa é de que os valores distribuídos aos acionistas sejam menores no próximo ano quando se trata de Petrobras e Vale. “De maneira geral, 2022 combinou um desempenho ainda positivo das empresas, com preços elevados de commodities especialmente até a metade do ano. Também houve distribuição de dividendos que ficaram represados durante a pandemia”, afirmou Ruy Hungria, analista da Empiricus.
Segundo ele, 2023 deverá ser mais fraco, devido a perspectiva de desaceleração da economia global, pressionada por taxas de juros mais altas. “As cotações atuais indicam que as commodities estão em níveis menos atrativos,o que reduz as expectativas de geração de caixa para 2023”, disse.
Para a maior pagadora de dividendos do ano, a Petrobras, a projeção da Empiricus é de que seu dividend yield (o quanto paga em relação ao preço da ação) irá cair quase pela metade, de 49% para 28,7%. O preço do petróleo, afirmou Hungria, é um dos fatores que devem contribuir para a queda de dividendos da Petrobras em relação a este ano.
Vale lembrar que em março de 2022, ainda no início da guerra da Ucrânia, o preço do barril chegou a disparar para US$ 139. Já a cotação para 2023 caminha para iniciar próxima de US$ 80 por barril, tendo a expectativa de desaceleração global como vento contrário a novas altas. Com o preço mais baixo, disse Hungria, reduz a rentabilidade da área de Exploração & Produção, a principal da Petrobras.
Outro fator que, segundo o analista, deve reduzir os dividendos da companhia são os rumos que deverão ser tomados pela próxima administração. “Por tudo o que vem sendo falado, há grandes chances de que o novo governo ‘force’ a companhia a investir mais e em ativos menos rentáveis, o que reduz a capacidade do pagamento de dividendos”, afirmou.
O banco JP Morgan mantém certo grau de cautela com o papel, mas calcula que a petroleira irá pagar US$ 17,1 bilhões em 2023, com retorno de 23,3%. Para a equipe, ainda é cedo para recomendar a compra do papel.
A XP é um pouco mais otimista. A equipe afirma que considerando as premissas macroeconômicas, a empresa vê pagamentos de dividendos nos próximos anos no valor de US$ 65 bilhões a US$ 70 bilhões assumindo a regra atual (60% de fluxo de caixa operacional menos investimentos) com potencial para mais US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões de dividendos extraordinários. Esse valor adicional, no entanto, seria relacionado a vendas de ativos, que a XP diz que “provavelmente não se concretizarão” com a mudança de governo. Considerando o valor de mercado atual da companhia, isso significaria mais de 100% de retorno de rendimento de dividendos para os acionistas nos próximos 5 anos.
“Para 2023, acreditamos que os dividendos ainda podem ser bons, pois leva tempo para a Petrobras mudar radicalmente o rumo de suas práticas. Porém, a partir de 2024, dependerá da política de preços de combustíveis (e da vigência da lei das estatais)”, diz a equipe da XP mantendo recomendação de compra, mas alertando para o risco político da ação.
O Bradesco BBI cortou a recomendação da Petrobras de compra para neutro e fazer um corte generoso no preço-alvo de R$ 53 para R$ 26, considerando a ação preferencial (PETR4). "Agora assumimos que a política de dividendos da Petrobras cairá de 60% da diferença do fluxo de caixa das atividades operacionais e dos investimentos para 50% do resultado final, à medida que a Petrobras provavelmente desenvolve projetos em refino e transição energética." O banco diz que o novo preço-alvo deriva de um yield de dividendos de 15% para a Petrobras, com um "prêmio significativo em relação à média da indústria global de 10% (que inclui recompras)".
A perspectiva do analista é de que o ano também seja mais fraco para o setor de mineração. Segundo ele, há grande probabilidade de a Vale – a segunda maior pagadora de dividendo da bolsa – reduzir sua distribuição de lucros em 2023.
“No caso da Vale, a queda do dividend yield esperado está relacionada principalmente à queda nos preços do minério de ferro em comparação com a primeira metade de 2022. Além disso, há o receio de uma desaceleração econômica mais forte da China, o que traz um pouco mais de conservadorismo às projeções”, disse.
A perspectiva também é mais pessimista para as empresas de siderurgia, que estiveram entre as maiores pagadoras de dividendos do ano. Para a Gerdau, a expectativa é de que a distribuição de lucros em relação ao preço da ação caia de 16,2% para 6,2% no ano que vem. “Isso é devido a uma desaceleração do mercado de aço, que esteve muito aquecido nos últimos anos, e menores margens.”