Perda de US$ 7,6 bi nos ativos de Eike não é problema para a EBX
Diretor de investimentos da EBX diz que existe uma "fila de banqueiros" dispostos a injetar os US$ 15 bilhões que a empresa precisa para se financiar
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2011 às 11h58.
São Paulo - Eike Batista está inabalável após suas empresas perderem US$ 7,6 bilhões de valor de mercado em quatro meses e terem o maior fracasso entre as ofertas públicas iniciais do mercado brasileiro desde 2008, disse o diretor de investimento do bilionário.
“Não falta investidor e não falta banqueiro que venha aportar dinheiro com a gente”, disse Luiz Arthur, diretor de investimentos da EBX Group Ltd., controladora da maioria dos ativos do empresário, em entrevista por telefone. “Não é um problema.”
Batista, que disse precisar de US$ 15 bilhões para financiar de portos a plataformas de petróleo nos próximos dois anos, tem captado financiamento com bancos e investidores privados desde junho, enquanto fica fora dos mercados acionários. Ele engavetou os planos de abrir o capital da EBX depois da oferta de ações da OSX Brasil SA, em março, que resultou numa queda de 44 por cento dos papéis mesmo depois de Batista ter reduzido o preço da oferta inicial em até 40 por cento.
Em junho, a LLX Logística SA, desenvolvedora de portos do grupo, recebeu um empréstimo de R$ 1,21 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, enquanto a construtora de embarcações OSX levantou US$ 420 milhões com um grupo de bancos liderados pelo DVB Bank SE, em setembro. Também naquele mesmo mês, a empresa SK Networks Co., da Coreia do Sul, acertou um investimento de US$ 700 milhões na mineradora MMX Mineração & Metálicos SA.
Batista encaminhou as questões a Arthur, gestor financeiro de suas companhias por 28 anos, segundo a assessoria de imprensa da EBX.
‘Fila de banqueiros’
Batista tem uma “fila de banqueiros” para financiar seus planos de investimentos, disse Arthur em entrevista em 12 de janeiro. Batista disse esta semana que está abrindo um escritório em Nova York para aproximar as relações com os investidores internacionais.
“Ele tem o toque de Eike Batista, o toque de Midas”, disse Stacy Steimel, que ajuda a administrar US$ 83 bilhões na PineBridge Investments em Santiago. “Eu não acho que a a OSX o tenha afetado a ponto de fechar os mercados de capitais para ele. Isso provavelmente cortou um pouco suas asas.”
Batista, de 53 anos, ficou em oitavo lugar em um ranking dos maiores bilionários do mundo da revista Forbes após abrir o capital das empresas de mineração e energia. Estas ofertas levaram os ganhos dos preços das ações a superaram os lucros nos últimos quatro anos. Quatro IPO desde 2006 resultaram em R$ 12,3 bilhões para Batista, a maior quantia já levantada por uma pessoa em aberturas de capital no Brasil.
‘Muito ouro’
Os mercados de ações mostraram-se mais crueis em 2010 com o atraso na construção do estaleiro da OSX, levando investidores do IPO da empresa a venderem suas ações.
A queda dos papéis da OSX foi a maior para uma abertura de capital desde a queda das ações com a crise financeira global de 2008. As ações dos outros 10 IPO brasileiros realizados no ano passado subiram 55 por cento em média. O valor da ação da OSX em R$ 450 está 66 por cento abaixo do teto da faixa de preço estimada por Batista antes de reduzi-lo em meio à fraca demanda.
A OSX caiu 13 por cento em sua estreia em março, levando Batista a responder aos jornalistas sobre a vantagem de vender ações de empresas em estágios pré-operacionais.
“Este é um vento que no futuro vai gerar muito ouro”, disse Batista durante um evento naquele dia em São Paulo.
A LLX caiu 31 por cento desde o recorde alcançado em setembro depois que Batista vendeu um de seus projetos portuários para a MMX, que está 27 por cento abaixo do nível mais alto em oito meses alcançado em novembro. Em termos gerais, suas empresas de capital aberto as perderam R$ 12,7 bilhões em valor de mercado desde o final do terceiro trimestre, ou 13 por cento do total, segundo dados compilados pela Bloomberg. O Ibovespa caiu 1 por cento no mesmo período.
Pedido rejeitado
”As pessoas estão um pouco mais receosas agora sobre qualquer coisa que ele traga ao mercado”, disse Nick Robinson, que administra US$ 4 bilhões de ações brasileiras no Aberdeen Asset Management em São Paulo e não tem ações das empresas de Batista. “Com esperança, talvez ele tenha aprendido algumas lições da experiência da OSX.”
Um dia após a venda da OSX, o Ministério do Meio Ambiente rejeitou o pedido de Batista para uma licença para construir um estaleiro em terra no sudeste do Brasil. A terra e a garantia de encomendas da OGX Petróleo & Gás Participações SA, que ainda não produziu petróleo, foram dois de “seis pilares” do plano de investimento da OSX, de acordo com o prospecto.
Batista, depois que seus recursos falharam, procura agora construir no estado do Rio de Janeiro. O prospecto dizia que a construção começaria na segunda metade do ano passado.
Risco e prêmio
“No estágio inicial de todos esses projetos você vê mais riscos que prêmio”, disse Ed Kuczma, que ajuda a supervisionar US$ 30 bilhões como analista de mercados emergentes da Van Eck Associates de Nova York. Ele não comprou ações da OSX.“Gostamos de ver algum histórico de desempenho.”
Um plano que Batista anunciou em abril para vender a participação minoritária nos campos de exploração maritima de petróleo da OGX levou mais tempo do que os investidores esperavam de acordo com Andres Kikuchi, analista da Link Investimentos em São Paulo. O atraso contribuiu para a queda de 19 por cento do pico em outubro, disse ele.
A venda não tinha um prazo final e as negociações continuam, disse a EBX por e-mail.
Fator X
Em entrevista em março, Batista disse que planejava levantar até US$ 1 bilhão em até um ano com a abertura de capital de uma mineradora na Colômbia. Hoje ele detém 20 por cento da Ventana Gold Corp., exploradora canadense de metais, e montou uma oferta de aquisição pela empresa em novembro.
Mesmo com as recentes quedas, a MMX mais do que triplicou desde seu IPO em julho de 2006, enquanto a OGX tem um ganho de 67 por cento depois de abrir o capital em junho de 2008. A LLX acumula uma alta de 52 por cento desde seu desmembramento em julho de 2008. A operadora de usinas de energia MPX Energia SA perdeu 44 por cento desde seu IPO em dezembro de 2007.
Batista, que comprou sua primeira mina de ouro aos 24 anos, disse que o X nos nomes de suas empresas simboliza a multiplicação da riqueza.
Stacy Steimel, da PineBridge, disse que Batista mostra que ele “pode criar dinheiro quando traz algo para o mercado.” Ainda assim, ela disse que ficaria mais relutante em comprar ações se Batista listar uma outra companhia depois do declínio da OSX.
”Ele deu um passo maior do que as pernas com todos esses projetos simultaneamente e nada produzindo de verdade”, disse Steimel. “Todo mundo vai olhar mais com mais cautela do que se ele não tivesse feito a OSX. Sei que eu vou.”