PEC traz risco de desancoragem e exige Selic de 14%, avalia HSBC
Operadores já trabalham com um cenário em que a Selic encerra 2022 em 14,25%
Bloomberg
Publicado em 12 de julho de 2022 às 16h07.
Última atualização em 13 de julho de 2022 às 17h00.
A PEC dos benefícios, que aumentou a percepção de risco fiscal entre os investidores, recomenda que o Banco Central estenda o ciclo de aperto e eleve a taxa Selic a 14%, para evitar a desancoragem das expectativas de inflação, diz Ana Madeira, economista-chefe do HSBC Brasil, em entrevista.
“Está complicado para o BC peitar a precificação do mercado e ser menos agressivo, sobretudo com uma piora da perspectiva fiscal”, avalia Madeira. “Nas opções na mesa para o BC, acreditamos que faz mais sentido ir para um campo mais hawkish.”
Operadores já trabalham com um cenário em que a Selic encerra 2022 em 14,25%. A aposta majoritária é de um aperto de 0,50 ponto percentual no Copom de agosto, seguido por outros dois de 0,25 p.p. em setembro e outubro, segundo a precificação extraída da curva de juros.
Para Madeira, o quadro de inflação pressionada e persistente também deveria motivar uma postura mais vigilante da autoridade monetária. Ela projeta uma desinflação lenta, com um IPCA que fecha 2022 em 8,3%, sem incorporar os efeitos da redução dos impostos sobre combustíveis — os quais ela prevê que podem ser entre -1,8 ponto percentual a -2 p.p.. Para 2023, a previsão é de taxa de 4%.
A economista é cética sobre o quadro fiscal porque avalia que será complicado retirar os benefícios concedidos pela PEC em 2023. A proposta, que eleva o Auxílio Brasil e concede voucher para gás e taxistas, entre outros benefícios, prevê R$ 41,3 bilhões em gastos fora do teto.
“Mesmo que a PEC fale em benefícios temporários, a gente sabe que é difícil revertê-los”, diz Madeira.
Em um cenário de provável desaceleração da atividade econômica, com o aperto de mais de 11,25 pontos percentuais da Selic e o possível recuo das commodities, Madeira diz que a arrecadação federal do ano que vem deve diminuir e piorar a trajetória esperada pelo mercado para as contas públicas — o que demandaria uma taxa de juro maior.
“O boom de commodities dificilmente deve ajudar a atividade no ano que vem, a própria economia vai perder força. A questão é como ficarão as receitas em 2023, porque hoje as despesas têm o colchão da arrecadação maior”, diz ela. “O BC vai incorporar a piora fiscal através do impacto desse quadro das contas públicas nas expectativas.”