Os IPOs que bateram o Ibovespa em 2021; e o que esperar de 3 ações
Bolsa brasileira encerra o ano com 45 ofertas públicas iniciais: teve ação que quase dobrou de valor desde a estreia, mas somente 13 superaram o benchmark
Da Redação
Publicado em 26 de dezembro de 2021 às 14h02.
O ano que acaba foi um dos mais movimentados em IPOs (ofertas públicas iniciais, em inglês) da história do mercado doméstico: foram 45 estreias ao longo do ano na bolsa brasileira, a B3, ou mais precisamente, entre janeiro e setembro, antes que as incertezas domésticas e globais, além do acelerado processo de aumento do juro básico e dos juros futuros no Brasil, fechassem a janela de ofertas.
Essas ofertas movimentaram um volume recorde de 65,3 bilhões de reais, superando a marca de 56 bilhões de reais do ano passado. A maior oferta inicial do ano foi a da Raízen (RAIZ4), a join venture entre Cosan (CSAN3) e Shell para a área de energia renovável: movimentou 6,7 bilhões de reais no começo de agosto.
Foram ofertas iniciais tanto pela instrução 400 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), para investidores em geral, ou pela 476, para investidores institucionais e profissionais (com ao menos 10 milhões de reais aplicados).
Apesar do ano de superlativos, houve perdas generalizadas no caminho, em meio à virada do mercado a partir de agosto. A disparada dos juros futuros para a casa de 12% a 13% ao ano nessa época derrubou o valor presente dos papeis, afetando em particular as ações de crescimento, como as de empresas de tecnologia.
Gestores e analistas ressaltam, no entanto, que nem tudo é motivo de desespero: comprar ações de uma companhia significa se tornar sócio dela e isso implica uma visão de longo prazo.
Se você comprou uma ação porque estudou e acreditou no modelo de negócios dela e de suas perspectivas de crescimento, é hora de revisitar a tese e, caso os fundamentos não tenham mudado, esperar a virada do mercado.
Ainda assim, olhando uma janela de curto prazo, 13 das 45 ações que estrearam em 2021 por meio de ofertas públicas iniciais conseguiram bater o Ibovespa, segundo levantamento da plataforma de informações financeiras Economatica a pedido da EXAME Invest.
A ressalva é a de que o principal índice da bolsa brasileira acumulou queda de mais de 11% neste ano até o último dia 22. Ou seja, não necessariamente o resultado foi tão positivo.
Veja a seguir os 13 IPOs que superaram o Ibovespa até aqui*:
- Vamos (VAMO3): +93,8% (estreia em 29 de janeiro)
- Intelbras (INTB3): +74,3% (4 de fevereiro)
- Boa Safra (SOJA3): +56,4% (29 de abril)
- Armac (ARML3): +53,4% (28 de julho)
- Vittia (VITT3): +53,0% (2 de setembro)
- GPS (GGPS3): +35,0% (24 de abril)
- Jalles Machado (JALL3): +17,9% (6 de fevereiro)
- Orizon (ORVR3): +14,6% (13 de fevereiro)
- PetroRecôncavo (RECV3): +11,0% (5 de maio)
- CBA (CBAV3): +9,0% (15 de julho)
- BR Partners (BRBI11): -2,6% (19 de junho)
- Infracomm (IFCM3): -3,2% (4 de maio)
- Viveo (VVEO3): -4,9% (7 de agosto)
*Até 22 de dezembro, com levantamento da Economatica. O Ibovespa teve variação de -11,6% no período.
E o que esperar dessas ações? Veja abaixo a visão de analistas de Equity Research do BTG Pactual (BPAC11) para três dessas ações:
Vamos (VAMO3)
A empresa de locação de caminhões e máquinas protagonizou até aqui o IPO com o melhor desempenho em 2021 e as perspectivas são favoráveis. Com uma estratégia que combina crescimento orgânico com inorgânico, por meio de aquisições, a Vamos tem sido uma das escolhas de analistas no setor de transporte e bens de capital.
Há duas semanas, a Vamos anunciou a aquisição da HM Empilhadeiras, empresa especializada no aluguel desse tipo de máquina com alcance nacional, em mais um passo de sua estratégia de crescimento gradual.
“O movimento é estrategicamente interessante, uma vez que aumenta a exposição da Vamos ao mercado crescente de intralogística e é altamente complementar ao seu portfólio atual de locação e serviços de manutenção”, apontaram os analistas Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Aline Gil, do BTG Pactual, em relatório sobre o negócio há duas semanas.
“O negócio se adiciona à sólida lista de movimentos feitos pela companhia desde o seu IPO no começo de 2021: as aquisições da BMB, da Monarca e da Fendt, mais o acordo sobre empilhadeiras com a BYD”, completaram na análise. Eles apontaram um preço-alvo em 12 meses de 19,00 reais na ocasião, com um upside que estava então em cerca de 50%.
Intelbras (INTB3)
As ações da Intelbras, empresa catarinense que fabrica e vende equipamentos eletrônicos, são uma das escolhas dos analistas do BTG Pactual para 2022 no setor de tecnologia.
“A Intelbras tem uma posição ímpar em seus mercados, que ficou latente em seus últimos resultados – o poder de distribuição e precificação da empresa é impressionante (eles cresceram bem no trimestre contra trimestre, com margem bruta estável em um ambiente desafiador)”, apontaram os analistas Carlos Sequeira, CFA, Osni Carfi e Bruno Lima, do BTG Pactual, no relatório “Estratégia Brasil 2022”, recém-distribuído a clientes.
“Acreditamos que a Intelbras é uma boa ação para manter em tempos de volatilidade: uma líder de mercado, negociada a um valuation atraente para uma empresa que cresce de forma consistente +20% ao ano e com 30-40% de ROIC [retorno sobre o capital investido] (22x PE 2022E)”, disseram os analistas citando o múltiplo de 22 vezes o preço/lucro na estimativa de lucro para 2022.
Jalles Machado (JALL3)
Quer pegar carona na tese secular da força do agronegócio brasileiro? As ações da Jalles Machado, uma das maiores e mais diversificadas companhias do setor sucroenergético do país, são uma das small caps recomendadas por analistas do BTG Pactual.
“Estamos otimistas com os fundamentos da indústria de açúcar e etanol e vemos a Jalles como uma das melhores e mais baratas teses", apontaram Sequeira, Carfi e Lima no relatório “Estratégia Brasil 2022”.
O upside em 12 meses para as ações da Jalles Machado é da ordem de 70%, e isso depois de alta de quase 20% em 2021.
"No açúcar, acreditamos que os preços globais podem estar entrando em uma nova fase com o governo indiano antecipando o prazo para a mistura de 20% do etanol na gasolina vendida no país até 2025, potencialmente reduzindo a produção de açúcar em 6 milhões de toneladas/ano”, escreveram os analistas.