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O que esperar do mercado com a Selic a 2,75% ao ano?

Em decisão surpreendente, o Copom elevou hoje a taxa de juros brasileira em 0,75 ponto percentual, contra expectativa do mercado de aumento de 0,5 p.p.

Banco Central: em decisão supreendente, Copom eleva Selic de 2,00% para 2,75% ao ano (Adriano Machado/Reuters)

Banco Central: em decisão supreendente, Copom eleva Selic de 2,00% para 2,75% ao ano (Adriano Machado/Reuters)

PB

Paula Barra

Publicado em 17 de março de 2021 às 20h38.

Última atualização em 18 de março de 2021 às 08h07.

Em decisão inesperada, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, nesta quarta-feira, 17, elevar a taxa Selic de 2,00% para 2,75% ao ano. As expectativas do mercado apontavam principalmente para uma alta de 0,5 ponto percentual. No comunicado, o Banco Central antevê outro ajuste da mesma magnitude na próxima reunião, em maio.

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Na visão de economistas e analistas, o BC tomou essa atitude mais "ousada" para tentar conter de forma mais rápida possíveis pressões inflacionárias no ano que vem.

Em reação à alta mais acentuada, eles esperam, no geral, que os mercados mostrem nesta quinta: uma queda do dólar, enquanto, na curva de juros, apontam que o rendimento dos títulos mais curtos devem subir (por causa da postura mais agressiva da autoridade monetária em relação à inflação), enquanto os longos devem sofrer uma queda.

Para a bolsa e o Ibovespa, embora, em tese, um aumento mais forte dos juros possa provocar uma queda em ativos mais arriscados, uma vez que perderiam um pouco a atratividade frente à renda fixa, há quem diga que o índice acionário pode até mostrar valorização – diante de uma postura considerada "acertada" do BC.

O BC optou por ser mais rápido na magnitude da alta dos juros para tentar controlar a alta da inflação no ano que vem, disse Ivo Chermont, economista-chefe da gestora Quantitas. Para ele, a decisão foi na direção correta.

"É mais fácil ser mais 'hawkish' (agressivo na política monetária) agora do que deixar a inflação correr para o ano que vem. A alta de juros se dá para ancorar as expectativas do ano que vem, que começavam a ficar ameaçadas. Com isso, o BC optou por surpreender o mercado para acima agora, se mostrando mais duro na político monetária, para não deixar a alta de preços deste ano passar para 2022".

Na visão dele, o mercado deve reagir bem à decisão. "A curva de juros deve 'desinclinar', e o real, valorizar. E não me surpreenderia se a Bolsa subisse também", disse.

O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, também aponta que o tom do comunicado do BC foi "acertado" e deve acalmar parte dos investidores. "Tudo o mais constante, os juros longos devem cair e o dólar deve retroceder também no pregão de quinta-feira", comentou.

"O mercado deve gostar [nesta quinta], com possível compressão do prêmio de risco ao longo do meio até a parte longa da curva, além de ajudar o real. Deve reduzir parcialmente os cenários mais agressivos de Selic em 6% no fim deste ano", diz Arthur Mota, economista da EXAME Invest Pro.

"Dado o juro real ainda negativo ao longo dos próximos meses e em baixo patamar até o ano que vem, a elevação da Selic não deve tornar a taxa atrativa o suficiente para reverter o fluxo positivo de investidores para a bolsa", diz Mota.

"Quando olhamos a curva de juros, ela ainda não refletia que o BC pudesse ser tão 'hawkish', até porque os dados econômicos ainda não estão muito bons e a pandemia está longe de ser resolvida. Mas o BC precisou ser mais agressivo para ajustar as expectativas do mercado mais à frente", apontou Álvaro Villa, economista da Messem Investimentos.

No mesmo sentido, ele aponta que o dólar deve cair nesta quinta-feira, com o real se fortalecendo. Isso porque, com essa decisão, a atratividade da taxa de juros brasileira melhora, especialmente depois de o Federal Reserve, o banco central americano, ter reforçado nesta quarta que deve manter os juros perto de zero até 2023, explica.

Ao mesmo tempo, Villa acredita que, no mercado futuro de juros, o rendimento dos títulos mais longos devem cair, enquanto os mais curtos devem subir.

"Como o BC se mostrou mais agressivo agora, o aumento de juros pode ser um pouco menor no futuro, uma vez que a inflação deve ser menor, já que o ajuste das expectativas foi antecipado", aponta.

O analista Thomás Gibertoni, da Portofino Multi Family Office, comenta que "o BC tomou essa atitude mais ousada para tentar conter de forma mais rápida uma inflação no futuro". Com isso, "talvez ele precise dar menos aumento de juros, uma vez que está tomando uma medida mais dura agora. Ele tira margem para especulação sobre ancoragem para inflação", disse.

Foi a primeira vez desde julho de 2015 que o BC eleva a Selic. Naquela época, a taxa de juros brasileira saiu de 13,75% para 14,25%. O patamar foi mantido até agosto de 2016, quando começou uma sequência de quedas.

De acordo com o boletim Focus mais recente, a estimativa é que a Selic fique em 4,5% no final de 2021 e atinja 5% em 2022. A taxa de juros de 2% ao ano, que estava válida até a decisão desta quarta, era o menor desde o início da série histórica do BC, em 1986.

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