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Nova fábrica da Ambev tem forno que ficará aceso por 20 anos: entenda

Todas as garrafas de Stella Artois e Spaten serão produzidas na nova unidade em Carambeí, no Paraná

Paraná: Fábrica da Ambev opera 24 horas por dia com três linhas de produção  (Letícia Furlan/Exame)

Paraná: Fábrica da Ambev opera 24 horas por dia com três linhas de produção (Letícia Furlan/Exame)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 16 de dezembro de 2025 às 09h13.

A Ambev (ABEV3) colocou em operação sua segunda fábrica de vidro em Carambeí, no interior do Paraná, cujo forno será mantido funcionando por 20 anos sem interrupções.

Aceso em 8 de outubro de 2024, o equipamento é peça fundamental para a redução de custos e a verticalização da produção da companhia, e só será apagado para reconstrução após 2040.

"Ele feito de um material especial que resiste a temperaturas muito altas, chamado material refratário. Se o fogo se apagar, o vidro dentro do forno pode 'congelar', danificando o equipamento. O fato de o forno ter uma capacidade de 400 toneladas torna o processo ainda mais delicado", explica Ana Carla Lima, gerente de fábrica de Carambeí da Ambev.

O forno da fábrica de vidro da Ambev fica aceso 24 horas por dia por pelo menos 15 anos

O forno da fábrica de vidro da Ambev fica aceso 24 horas por dia por pelo menos 20 anos (Letícia Furlan/Exame)

Isso significa que uma interrupção causaria um estrago sem precedentes no forno, a pedra fundamental da fábrica.

O funcionamento contínuo, no entanto, não tem impacto ambiental. A fábrica é abastecida com 100% de energia elétrica proveniente de fontes renováveis, enquanto o forno utiliza gás natural e o processo tem um equipamento que faz o tratamento dos gases emitidos, segundo a companhia.

Maior independência

O investimento na planta foi de R$ 1 bilhão, marcando um passo estratégico para a Ambev, que até então concentrava sua produção de vidro no Rio de Janeiro e dependia de empresas terceirizadas para complementar a fabricação.

O projeto da nova unidade foi anunciado em 2021, quando a demanda pelo material começou a crescer substancialmente devido à pandemia.

Valdecir Duarte, vice-presidente de Supply da Ambev, destaca que, naquele momento, a empresa já enxergava a necessidade de ampliar sua capacidade de produção para atender ao aumento da demanda por garrafas. Hoje, a demanda pelo vidro é tão grande quanto a pela lata.

Embora a nova planta tenha começado a operar com uma capacidade significativa, a Ambev ainda não é totalmente autossuficiente na produção de vidro.

A fábrica de Carambeí, junto com a do Rio, será responsável por atender entre 50% e 60% da demanda da empresa, o que significa que 40% ainda é adquirido de fornecedores externos, como a Verallia e a O-I Glass (ex-Owens-Illinois).

A manutenção desses contratos ocorre porque, segundo Duarte, a nova unidade não visa apenas substituir a produção externa, mas também impulsionar o crescimento da companhia.

"O papel do líder é justamente esse: criar um mercado e desenvolver novas oportunidades. Quando penso em cerveja sem álcool, por exemplo, vejo isso como um mercado novo, que antes não existia, e que agora cria novas ocasiões de consumo. A visão que temos é exatamente essa, de expansão, focada nesse tipo de inovação", explica.

Entre o verde e o âmbar

A unidade paranaense, equivalente a 60 campos de futebol, já opera 24 horas por dia com três linhas de produção divididas entre garrafas de Stella Artois e Spaten. Ambas tem algo em comum: a garrafa verde.

A produção inicial é de 450 garrafas por minuto para cada linha — o equivalente a um total de 1350 garrafas por minuto. A previsão é atingir 600 milhões de unidades por ano até 2026, ou cerca de 1 milhão de garrafas por dia.

A instalação de Carambeí foi projetada para atender à demanda crescente das marcas premium da Ambev, consolidando a planta como um centro de produção estratégico para a companhia.

Embora a capacidade técnica da fábrica permita a produção de outras cores, como âmbar e flint (transparente), a nova planta será usada exclusivamente para a produção de garrafas verdes.

Uma mudança de cor no forno implicaria paradas longas de até 20 dias, o que resultaria em perdas consideráveis. Durante o período de mudança de cor, ocorre o refugo de garrafas, que acabam sendo descartadas por defeitos, como bolhas ou cores incorretas. Portanto, a Ambev optou por manter a produção especializada para minimizar esses desperdícios e otimizar ainda mais a produção.

Antes da inauguração da fábrica de Carambeí, as garrafas verdes eram fornecidas tanto pela unidade do Rio de Janeiro quanto por terceiros. Agora, a planta paranaense assumiu a responsabilidade de abastecer todas as cervejarias da Ambev que utilizam garrafas da cor, enquanto a unidade fluminense passou a focar na produção de garrafas âmbar.

Espaço para expansão

A planta de Carambeí já foi projetada com espaço para expansão, permitindo a instalação de um novo forno e a adição de mais três linhas de produção. Isso dobraria a capacidade de produção da unidade, com o ritmo de expansão sendo condicionado pela demanda e pela estratégia corporativa da Ambev.

Atualmente, a fábrica já atende sete cervejarias da empresa, mas sua capacidade pode ser ampliada conforme necessário.

Além da eficiência, a sustentabilidade é um dos pilares da nova unidade. A fábrica já opera com 40% de vidro reciclado, o chamado cullet, que ajuda a reduzir em 10% o consumo de energia e combustível.

A composição da matéria-prima do vidro inclui areia, barrilha e calcário, mas o objetivo da empresa é aumentar a dependência do vidro reciclado ao longo do tempo. O maior desafio, no entanto, continua sendo garantir um fornecimento contínuo de cacos de vidro para não interromper a produção.

A reportagem viajou para Carambeí a convite da Ambev

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