Redação Exame
Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 08h11.
Última atualização em 15 de dezembro de 2025 às 08h14.
As moedas emergentes se firmaram como protagonistas no mercado cambial em 2025, beneficiadas por juros elevados, fluxos consistentes de capital e uma reavaliação do dólar como referência global.
Em meio à desaceleração da moeda norte-americana e tensões comerciais, o segmento atraiu investidores institucionais e hedge funds, impulsionando o volume de negociações e os retornos em países como Hungria, Brasil e México.
O destaque foi o florim húngaro, que valorizou cerca de 20% frente ao dólar no ano e teve seu volume de negociação mais que dobrado desde janeiro. Segundo traders consultados pela Reuters, a moeda teve seu melhor desempenho em quase 25 anos. No acumulado de 2025, o índice de moedas emergentes da MSCI subiu mais de 6%, no melhor resultado desde 2017.
Com o enfraquecimento do dólar — que caiu quase 11% no primeiro semestre, a maior baixa para o período desde os anos 1970 —, os investidores começaram a revisar posições excessivas em ativos norte-americanos e buscar oportunidades em mercados menos explorados.
Para o JPMorgan, o ciclo de 14 anos de baixa das moedas emergentes chegou ao fim. "O mundo está sobrecarregado de ativos dos EUA e evitou os emergentes por muito tempo", afirmou Jonny Goulden, chefe de estratégia de renda fixa para emergentes do banco.
O ambiente mais previsível no segundo semestre, após uma onda de volatilidade no início do ano, abriu espaço para operações como carry trades — tomar empréstimos em moedas de baixo rendimento para aplicar em mercados com taxas mais altas, como o Brasil.
As oportunidades se converteram em receita recorde para os principais bancos globais. Segundo a Vali Analytics, as 25 maiores instituições financeiras arrecadaram US$ 40 bilhões com moedas emergentes nos primeiros nove meses de 2025 — mais que o dobro dos ganhos com moedas do G10, como euro e iene.
Fundos como a EDL Capital, com US$ 1 bilhão sob gestão, lucraram com apostas contra o dólar, obtendo retorno de 28% no ano. Já a Amia Capital, com US$ 1,4 bilhão em ativos, teve ganho de 16%, com forte exposição a títulos locais de países em desenvolvimento.
A rotação beneficiou moedas de países com política monetária conservadora e alta liquidez nos mercados de títulos, como o real brasileiro e o peso mexicano, que também figuram entre os destaques de 2025.
Apesar do cenário favorável, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para riscos sistêmicos no mercado cambial. Em seu relatório mais recente, a instituição destacou que quase metade do volume global de câmbio é intermediado por poucos grandes bancos, o que gera fragilidade em momentos de estresse.
Além disso, fatores locais ainda pesam para algumas moedas. A rúpia indiana, por exemplo, atingiu mínimas históricas com o enfraquecimento do comércio e dos investimentos. Já a rupia da Indonésia foi afetada por incertezas políticas e dúvidas sobre a autonomia do banco central.
Com o mercado precificando dois cortes na taxa de juros dos EUA no próximo ano, a expectativa é que a recomposição de portfólios globais em direção a moedas emergentes continue. A maior parte dos analistas ouvidos pela Reuters projeta novos fluxos de capital, especialmente para títulos locais de países com fundamentos sólidos e boas taxas reais de retorno.