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A mega chamada de margem de US$ 1,5 trilhão que pode gerar outro Lehman Brothers na UE

A bomba relógio que poderia desencadear uma nova crise econômica na Europa foi provocada pela alta dos preços do gás

Válvulas de gás na Ucrânia (Gleb Garanich/Files/Reuters/Reuters)

Válvulas de gás na Ucrânia (Gleb Garanich/Files/Reuters/Reuters)

Um fantasma ronda a Europa. Mas dessa vez não é o fantasma do comunismo, como escrevia Karl Marx em seu "Manifesto do Partido Comunista". É o fantasma de uma possível mega chamada de margem de US$ 1,5 trilhão. Uma possível bomba-relógio na economia do Velho Continente que poderia desencadear uma crise parecida com a do Lehman Brothers, em 2008.

O alarme foi lançado por Helge Haugane, vice-presidente responsável pelas atividades de gás e eletricidade do grupo norueguês Equinor. Segundo Haugane, nos balanços dos bancos europeus haveriam US$ 1,5 bilhões em derivativos, comprados por empresas do setor de energia para se proteger contra os riscos de volatilidade do preço do gás.

Esse valor recorde surgiu seguindo a alta do preço do gás dos últimos meses. Se no começo de 2021 o gás era cotado por volta de 20 euros por megawatt-hora (MWh), há duas semanas bateu o recorde histórico de 330 euros por MWh na Bolsa de Amsterdã, onde está listado o TTF, o índice de referência europeu.

"Será necessário apoio de liquidez", afirmou  Haugane, "É capital que está morto e amarrado às chamadas de margem. Se as empresas tiverem de colocar tanto dinheiro irá significar que a liquidez do mercado vai secar, o que não é positivo para esta parte do mercado de gás".

Alta do gás levou o setor para a crise

A rápida alta dos preços colocou todo o setor em crise pois os operadores tiveram que comprometer cada vez mais recursos para tentar uma proteção com derivativos. Só que as instituições de crédito responderam realizando cada vez mais chamadas de margens, em busca de garantias financeiras à medida que o gás atingiu níveis recordes, para evitar perdas gigantescas.

Alguns operadores já começaram a quebrar, mas até agora foram apenas os pequenos. Os grupos grandes demais para falir receberam ajuda de seus respectivos governos. Por exemplo, a alemã Uniper obteve uma injeção de liquidez de 11 bilhões de euros e foi nacionalizado. Assim como a finlandesa Fortum, que obteve 2,3 bilhões de euros, e o suíço Axpo , que ganhou 4 bilhões de francos.

Por que a UE não atuou no mercado do gás?

Muitos analistas estão se perguntando por que a União Europeia (UE) demorou quase um ano para perceber o que estava acontecendo e antes de intervir. E por que não houve nenhuma intervenção direta na Bolsa de Amsterdã, considerando a situação extraordinária, provocada pelo conflito na Ucrânia, que precisa de medidas fora do comum.

A Europa não decidiu ainda aplicar um teto ao preço do gás por causa do medo que a Rússia feche de vez as torneiras. Entretanto, há casos em que intervenções mais duras tiveram geraram efeitos. Por exemplo a ação da Bolsa de Valores de Londres que suspendeu a negociação do níquel por uma semana, em março passado, quando a commodity teve uma alta recorde de 250% em dois dias. Conseguindo reduzir o preço.

No momento, os únicos que estão ganhando com essa volatilidade recorde do preço do gás são os bancos, que estão vendendo títulos de hedge e investindo elas mesmas no mercado do gás. Alterando, dessa forma, ainda mais as cotações do combustível.

Com isso, a União Europeia está pensando em intervir para aliviar as regras sobre as chamadas de margens, para evitar que com a alta esperada dos preços do gás neste inverno europeu essa crise não se torne explosiva de vez.

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