Bolsa de Seul: o índice sul-coreano Kospi subiu 1,67% nesta quarta-feira, 10 (Jung Yeon-je / AFP/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 06h36.
Em meio à disparada dos preços de imóveis em Seul, na Coreia do Sul, jovens estão migrando para o mercado de ações em ritmo recorde, um movimento que evidencia a dificuldade das autoridades em conter a valorização imobiliária e reduzir a insatisfação com a falta de acessibilidade à moradia. As informações são da Bloomberg.
Investidores individuais usando alavancagem para comprar ações domésticas atingiram 26,8 trilhões de wons (US$ 18 bilhões) em 20 de novembro, segundo a Korea Financial Investment Association. Ao mesmo tempo, os sul-coreanos elevaram suas posições em ações no exterior para US$ 1,21 trilhão no terceiro trimestre, mostram dados do Banco da Coreia.
O governo tenta mudar o comportamento, especialmente entre os jovens, incentivando a compra de ações em vez de imóveis, em um mercado residencial considerado “superaquecido”. Os preços de imóveis na capital cresceram mais rápido que em cidades como Nova York e Tóquio, enquanto a acessibilidade caiu drasticamente. A proporção entre preços de casas em Seul e a renda média de trabalhadores quase dobrou na última década.
Uma onda de novos investidores de varejo impulsionou o índice Kospi em 68% neste ano, o melhor desempenho entre os grandes mercados globais. Ainda assim, os preços residenciais em Seul continuam altos, preocupando o Banco da Coreia.
O movimento marca uma mudança na dinâmica de riqueza do país: à medida que o governo tenta conter a alta do mercado imobiliário, os jovens abandonavam o objetivo de ter o próprio imóvel e preferem mercado financeiro.
Segundo o Ministério de Terras, Infraestrutura e Transporte, uma família em Seul precisaria economizar toda sua renda por cerca de 13,9 anos para comprar uma casa, contra 9,7 anos em Nova York, mostrando a gravidade do problema de acessibilidade.
O declínio do sistema jeonse, no qual inquilinos pagam um depósito único em vez de aluguel mensal, aliado à alta persistente dos preços, está levando os jovens sul-coreanos a investir em ações em vez de buscar a casa própria. Engenheiros, empresários e vendedores relatam que imóveis em áreas centrais de Seul estão fora do alcance, tornando os investimentos financeiros uma alternativa mais viável, segundo a Bloomberg.
Desde que assumiu em junho, o presidente Lee Jae Myung adotou medidas para incentivar investidores e conter a especulação imobiliária, mas os preços de apartamentos em Seul subiram por 44 semanas consecutivas, alimentando preocupações sobre estabilidade financeira.
O fenômeno evidencia uma desigualdade que só aumenta: imóveis inacessíveis, risco financeiro familiar elevado e frustração com a habitação estão mudando o comportamento de investimento. Reguladores já anunciaram regras mais rígidas para produtos de alto risco, válidas a partir de 15 de dezembro.
Para muitos jovens, a decisão é clara: ações substituem imóveis. O governador do Banco da Coreia, Rhee Chang Yong, alerta que os preços estão “bem acima” das expectativas, enquanto o presidente Lee chama o mercado de “uma bolha prestes a estourar”. Alguns jovens afirmam que as políticas imobiliárias “destruíram o sonho da casa própria”.