IPO do Nubank: vale a pena entrar na oferta mais esperada do ano?
Período de reserva para participar da oferta termina nesta terça-feira; estreia da empresa na NYSE está prevista para o dia 9 de dezembro
Beatriz Quesada
Publicado em 6 de dezembro de 2021 às 11h00.
Última atualização em 6 de dezembro de 2021 às 12h15.
O Nubank, maior fintech da América Latina, está prestes a abrir o capital nos Estados Unidos. O IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês) será realizado na próxima quinta-feira, 9, na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) e promete ser um dos maiores do ano, avaliando o banco digital em cerca de 40 bilhões de dólares. Investidores de varejo têm até amanhã, 7, para participar da oferta.
O IPO irá oferecer, simultaneamente, BDRs na B3 para investidores que queiram participar da oferta diretamente da bolsa brasileira. Os Brazilian Depositary Receipt são um certificado de depósito emitido e negociado no Brasil que representa ações de empresas listadas em bolsas estrangeiras. No caso da oferta do Nubank, cada BDR irá representar ⅙ de uma ação negociada nos Estados Unidos.
Criada em 2013, a fintech está próxima de se equiparar ao Itaú (ITUB4), maior banco privado do Brasil, em número de clientes: são 48 milhões do Nubank ante 55 milhões do maior concorrente. O plano do banco digital é também se equiparar ao Itaú em valor de mercado. Se o IPO for bem-sucedido, a fintech será avaliada na casa dos 40 bilhões de dólares, mesma faixa do principal player do mercado brasileiro, que fechou o último pregão com um valuation de 37,9 bilhões de dólares.
Vale lembrar que, até pouco tempo atrás, os planos eram chegar a um valuation ainda maior, de 50 bilhões de dólares. O Nubank, no entanto, decidiu cortar o preço para participar da oferta em 20% diante do momento mais desafiador para as empresas globais de tecnologia, que estão em trajetória de queda nos Estados Unidos.
O valor sugerido para os papéis caiu do intervalo de 10 a 11 dólares para um preço entre 8 e 9 dólares. Considerando o meio da faixa indicativa, a oferta pretende movimentar 2,4 bilhões de dólares.
Apesar do desconto, muitos analistas têm considerado que o preço dos papéis ainda está salgado, e não recomendam participar do IPO. A casa de análise Suno aponta que o valuation está muito caro comparado aos principais players brasileiros, porém em linha com o que é pago com outros bancos digitais ao redor do mundo. Ainda assim, o preço seria “praticamente impossível de se justificar com a geração de caixa da empresa”.
Já a Levante se revelou entusiasta da empresa, mas argumenta que um valuation justo para o Nubank seria de, no máximo, 35,6 bilhões de dólares. “Vemos um risco relevante de perda permanente de capital no investimento em Nubank. O preço exigido ultrapassou limites que consideramos razoáveis”, afirmam os analistas em relatório.
A Nord é outra a não recomendar a participação no IPO. A casa de análise calcula que o banco digital teria que lucrar 260x mais do que o lucro reportado no 1º semestre de 2021 para negociar em um múltiplo em linha com o valuation apresentado.
Entenda abaixo o porque os analistas recomendam ficar de fora da oferta:
Pontos positivos: crescimento e reconhecimento
Entre os analistas, não há dúvidas de que a proposta do Nubank é atrativa, principalmente pela inovação. A fintech começou sua trajetória como um provedor de cartões de crédito cujo diferencial era não cobrar anuidade de seus clientes – uma “verdadeira quebra de paradigma até então” segundo a Suno.
Foi o início de um modelo de negócios altamente focado na experiência do cliente, que se traduz em uma elevada satisfação, comprovada pelo NPS (Net Promote Score) de 90.
A fintech hoje oferece cartão de débito, empréstimos, investimentos através da Nu Invest (antiga Easynvest), além de manter operações fora do Brasil, atuando no México e na Colômbia. O banco digital tem, inclusive, a pretensão de expandir a companhia para além da América Latina e se tornar a melhor fintech do mundo.
Para concretizar o plano ambicioso, o Nubank pretende apostar em suas principais vantagens competitivas em relação aos bancos: baixo custo operacional na aquisição de clientes e custos em geral estruturalmente menores que os grandes bancos.
Segundo a companhia, cerca de 80% a 90% de sua base foi conquistada de forma orgânica, no “boca a boca”. A manutenção desses clientes também é barata, uma vez que todos os serviços do Nubank são digitais, via aplicativo. “Essa diferença para os bancos incumbentes faz com que o Nubank consiga alavancar sua base de clientes de uma maneira muito mais rápida e barata, pois basta ter um celular e acesso a internet para abrir uma conta”, avaliam os analistas da Levante.
A Nord destaca ainda o forte potencial do Nubank nas frentes de engajamento e audiência. “A companhia atinge cerca de 9,6 milhões de seguidores, com 44 milhões de impressões (número de vezes que posts, stories, vídeos ou lives são vistos por uma tela). A oportunidade de crescimento no meio digital é infinita”, afirma o relatório.
Pontos negativos: juros nos EUA e forte concorrência
Apesar de positiva, a tese foi considerada cara pelas três casas de análise. Uma das razões que deixam os analistas céticos é o próprio momento do mercado americano, que não está favorável para teses disruptivas de alto crescimento.
Isso porque essas empresas costumam sofrer quando as taxas de juros sobem, afinal, o financiamento de seu intenso plano de expansão fica mais caro. E é justamente o que deve acontecer nos Estados Unidos nos próximos meses. O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, declarou que o banco central americano deve acelerar o processo de retirada de estímulos monetários, abrindo espaço para uma elevação na taxa de juros antes do esperado.
Como reação, as bolsas de Wall Street estão passando por uma rotação de setores que deve se intensificar ao longo dos próximos meses, com investidores saindo de papéis de tecnologia, como o Nubank.
Outro fator que preocupa é a concorrência, principalmente no segmento de cartão de crédito. Nesse ponto, a fintech pode ser duplamente prejudicada: perde em estrutura para os grandes bancos e é mais regulada do que instituições de pagamentos menores.
Como investir no IPO do Nubank
Os investidores que quiserem participar do IPO precisam ter uma conta na Nu Invest, corretora do grupo. É necessário indicar quantos papéis gostaria de comprar no IPO e por qual preço.
O valor mínimo para participar é de 30 reais — mais acessível que a faixa de 3.000 reais normalmente exigida em IPOs. Já o valor máximo para a oferta de varejo é de 300.000 reais, abaixo da faixa de 1 milhão de reais que é padrão para as ofertas iniciais de ações.
O preço será definido na quarta-feira, 8, e a empresa faz sua estreia no dia seguinte com o código NU — na B3, o ticker será NUBR33.