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IPCA de agosto reforça queda mais lenta da taxa de juros, diz Rafaela Vitória, do Banco Inter

Economista-chefe diz que efeito deflacionário da queda dos combustíveis já passou do pico

Rafaela Vitória: economista-chefe do Banco Inter | Foto: Divulgação (Divulgação/Divulgação)

Rafaela Vitória: economista-chefe do Banco Inter | Foto: Divulgação (Divulgação/Divulgação)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 9 de setembro de 2022 às 10h27.

Última atualização em 9 de setembro de 2022 às 11h08.

Os dados do IPCA divulgados nesta sexta-feira, 9, devem retardar o início do processo de queda da taxa de juros Selic, apesar da deflação 0,36% para o mês de agosto. Isso é o que disse Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, em entrevista à Exame Invest.

"O número decepcionou um pouco. A deflação veio menor do que a de 0,40% que esperávamos. Não é muita coisa, mas a preocupação que traz é com relação ao lado qualitativo", afirmou.

A deflação de agosto foi puxada principalmente pelo setor de transportes, que teve variação negativa de 3,37% no mês. Redução do preço de combustíveis pela desvalorização do petróleo e corte de impostos pressionaram a queda. Mas outros sete de nove dos principais resultados do IPCA fecharam agosto em alta.

"A inflação não está em queda generalizada. Houve uma pequena alta no núcleo da inflação e de serviços em relação ao dado anterior. Isso vai em linha com as últimas declarações do Banco Central, de que ainda está cedo para nós falarmos em queda de juros." 

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Confira a entrevista com Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter:

Quais foram os principais destaques do IPCA de agosto?

A deflação de 0,36% decepcionou um pouco. A deflação veio menor do que a de 0,40% que esperávamos. Não é muita coisa, mas a preocupação que traz é com relação ao lado qualitativo. A queda da inflação de transportes e a desaceleração da variação de alimentos são pontos muito positivos, principalmente para famílias de baixa renda.

Mas a leitura de serviço e dos núcleos indica uma ligeira alta em relação ao dado anterior. Isso é um ponto de atenção. É um processo de desinflação que vai demorar. Inflação de serviços não cai como a de combustível e alimentos, que são mais voláteis. Isso vai em linha as últimas declarações do Banco Central, de que ainda está cedo para nós falarmos em queda de juros. 

Os dados de hoje mudam alguma coisa para a próxima reunião do Copom?

O IPCA não muda a nossa opinião de que o Banco Central deve manter a taxa de juros na próxima reunião em 13,75 e indicar o fim do ciclo de alta. Mas acho que os números tendem a adiar um pouco a discussão sobre queda de juros, porque a gente vemos que a inflação de serviços e núcleos tem certa consistência e deve demorar mais para cair. 

Os dados mais qualitativos do IPCA mostram que a inflação não está em queda generalizada, até porque a difusão foi um pouco maior do que no mês anterior. A convergência da inflação será mais lenta, enquanto o número cheio poderia indicar uma queda mais acelerada.

O efeito deflacionário do setor de transportes está se esgotando ou devemos ver efeito semelhante na inflação de setembro?

Para o próximo mês esperamos uma inflação mais próxima de 0%. Ainda devemos ver impacto de queda de gasolina, mas já com alguma normalização. O pico da queda de da inflação transportes já passou.

A inflação de vestuário foi a mais elevada de agosto entre os itens do IPCA, com alta de 1,69%. Qual é o motivo? 

Foi uma surpresa essa alta de  vestuário. Tanto o setor de vestuário quanto artigos de residência saíram altos. São bens comercializados pelas famílias e há uma alta do consumo devido aos estímulos. Pode ser um impacto maior na demanda.

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