Investidor estrangeiro está sendo pragmático, diz ex-presidente do BC
Para Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria, oportunidades de ganhos se sobrepõem aos riscos eleitorais e ao baixo crescimento do país
Bloomberg
Publicado em 17 de fevereiro de 2022 às 12h11.
Última atualização em 17 de fevereiro de 2022 às 13h28.
O ex-presidente do Banco Central do Brasil Gustavo Loyola tem uma palavra para explicar a vertiginosa alta dos ativos do país neste ano: pragmatismo.
É a razão pela qual os investidores estrangeiros estão olhando além do risco político das próximas eleições presidenciais e das fracas perspectivas de crescimento e acumulando ações, de acordo com Loyola, que liderou a autoridade monetária do país em dois períodos, o último deles de 1995 a 1997.
Os retornos potencialmente fortes em um mundo em que os altos rendimentos são cada vez mais difíceis de encontrar apenas aumentam o apelo.
“O investidor estrangeiro não está entusiasmado com o Brasil, mas vislumbra oportunidades aqui e acolá”, disse Loyola, que é sócio-diretor da Tendências Consultoria. “Esses investidores não podem ficar fora do país.”
Os ativos brasileiros estão em alta — o Ibovespa sobe mais de 9% no ano, e o real, mais de 8% —, à medida que o apetite dos investidores estrangeiros aumenta.
O mercado de ações do Brasil completou 41 sessões de entradas líquidas diárias de investidores estrangeiros, a maior sequência desde pelo menos 2008, com mais de R$ 49 bilhões somente neste ano.
As apostas de alta do real também vêm ganhando força, tornando a moeda brasileira a divisa de mercado emergente com melhor desempenho e o Ibovespa um dos melhores indicadores de ações do mundo em dólares.
Os fluxos de entrada ocorrem mesmo em meio à perspectiva de crescimento menor e antes das eleições de outubro, quando o presidente Jair Bolsonaro deve enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto, é visto com o mesmo pragmatismo por investidores estrangeiros, afirmou Loyola.
“Lula é um político conhecido do mercado, as pessoas sabem do lado positivo e negativo dele. Há uma expectativa de que ele seja pragmático”, disse, ao apontar como exemplo as negociações para uma chapa com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
O maior desafio para o futuro presidente será lidar com as questões fiscais, o que inclui conter o crescimento dos gastos públicos e realizar uma ampla reforma tributária, afirmou Loyola.
Quando se trata de política monetária, o ex-banqueiro central disse que a direção atual do BC está agindo “corretamente” ao elevar as taxas de juro e que vê como “viável” que a inflação, hoje acima de 10%, convirja para a meta de 3,25% em 2023.
A taxa Selic está atualmente no patamar de 10,75% ao ano.
Ele disse esperar mais uma alta da Selic de 1 ponto percentual (p.p.) em março e outra de 0,5 p.p. em maio, ao mesmo tempo que não vislumbra espaço para queda neste ano. “Se houver, será lá para o final [ do ano ].”