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Insider na Petrobras? CVM abre processo para investigar operações suspeitas

Investidor comprou 4 milhões de opções de venda das ações da estatal, às vésperas de forte queda motivada por declarações e decisão do governo de trocar o CEO da estatal

Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos, no litoral brasileiro (Germano Lüders/Exame)

Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos, no litoral brasileiro (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 5 de março de 2021 às 12h42.

Última atualização em 5 de março de 2021 às 12h45.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia que regula e fiscaliza o mercado de capitais, confirmou nesta sexta-feira, 5, a abertura de um processo para investigar o caso suspeito de uso de informação privilegiada (insider trading) em operações com opções de venda da Petrobras (PETR3; PETR4), há duas semanas.

As operações em questão foram realizadas antes que as ações preferenciais sofressem forte queda, motivada por declarações do presidente Jair Bolsonaro que anteciparam o anúncio de troca do CEO da Petrobras, Roberto Castello Branco. O caso foi revelado pela jornalista Malu Gaspar, do O Globo.

Duas operações realizadas no fim da tarde no dia 18 de fevereiro compraram 4 milhões de opções de venda da ação preferencial (PETR4) da Petrobras, a PETRN265. As opções, que seriam liquidadas na segunda seguinte, dia 22, previam a venda desses papeis da Petrobras pelo preço de 26,50 reais. A ação fechou na quinta a 29,27 reais.

Na opção de venda, o investidor aposta que uma cotação vai ficar mais barata para comprar o papel à vista por um preço menor do que o da liquidação do contrato, embolsando a diferença de valores como lucro. Se a cotação ficar acima, ele terá que comprar por um preço mais alto e arcar com a diferença.

Foi um volume atípico: até então, o maior lote negociado de PETRN265 abrangia 86,3 mil contratos. Os 4 milhões de contratos foram negociados por 160.000 reais, ao preço unitário de 0,04 centavos de real, um preço 80% menor do que o de lançamento porque o vencimento da opção estava muito próximo, e a cotação, acima do valor de liquidação.

No início da noite da quinta-feira, dia 18, Bolsonaro afirmou em live que mudanças iriam acontecer na Petrobras nos próximos dias. As ações preferenciais caíram 6,6% na sexta-feira, 19, em reação aos comentários feitos pelo presidente: passaram de 29,27 reais para 27,33 reais. Ainda acima, portanto, do preço fixado para liquidação das opções. Quem comprou os 4 milhões de contratos acabaria amargando um prejuízo com o preço naquele patamar.

Mas na sexta à noite Bolsonaro oficializou a decisão de mudança: demitiria Castello Branco para substituí-lo pelo general Joaquim Silva e Luna. Na segunda-feira, 22, data de vencimento das opções, as ações preferenciais da Petrobras despencaram logo na abertura: a queda aproximada de 20% se manteve ao longo de quase todo o pregão. No fim do dia, a ação estava negociada a 21,67 reais.

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