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Ibovespa fecha em queda após Teich deixar Ministério da Saúde

Ministro foi o segundo a deixar pasta e sai em um dos momentos mais críticos da crise de coronavírus no Brasil

Bolsa: Ibovespa cai, após segundo ministro da Saúde sair em meio à pandemia (NurPhoto/Getty Images)

Bolsa: Ibovespa cai, após segundo ministro da Saúde sair em meio à pandemia (NurPhoto/Getty Images)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 15 de maio de 2020 às 14h00.

Última atualização em 15 de maio de 2020 às 18h01.

O Ibovespa, principal índice de ações da bolsa brasileira, fechou em queda nesta sexta-feira, 15, após Nelson Teich pedir exoneração do comando do Ministério da Saúde e aumentar a tensão política no país. Na contramão do mercado americano, o Ibovespa caiu 1,84% e encerrou em 77.556,62 pontos. 

Teich é o segundo ministro a deixar a pasta em meio à pandemia. Em abril, o então ministro Luiz Henrique Mandetta também pediu demissão por se opor à visão do presidente Jair Bolsonaro em relação ao afrouxamento das quarentenas. De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, o Brasil já possui 202.918 casos de coronavírus covid-19 confirmados e 13.993 mortes pela doença.

“A maneira como ele [Bolsonaro] tenta reabrir a economia é desagregadora. Isso acaba gerando ainda mais estresse no mercado”, disse Victor Hasegawa, gestor de ações da Infinity Asset. Segundo ele, a intromissão do presidente em questões técnicas podem levar o mercado a consequências ainda piores.

A expectativa é a de que o general Eduardo Pazuello, que assumiu interinamente o cargo, seja efetivado. Mas, nas últimas semanas, também se sondava o nome do médico e deputado Osmar Terra, que já se mostrou contra o isolamento social.

“O mercado vê [o Osmar Terra] com maus olhos. Ele tem dado entrevistas muito em linha com o Bolsonaro, dizendo que não tem que ter lockdown, que tem que liberar”, afirmou Hasegawa.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, vê a saída do ministro como sinônimo de mais instabilidade política. “No curto prazo, tende a continuar sendo precificado esse risco político nas ações brasileiras. O mercado prefere muito mais um ambiente mais calmo”, disse.

No exterior, os mercados tiveram um dia positivo, apesar de dados macroeconômicos negativos nos Estados Unidos e na Europa e com preocupações sobre o acirramento das tensões sino-americanas. 

Embora tenham fechado em alta, as bolsas americanas abriram em queda, após o Departamento de Comércio americano afirmar´, nesta manhã, que visa “atingir estrategicamente a aquisição de semicondutores da Huawei que são produtos usados diretamente em certos softwares e tecnologias dos EUA”. A medida aumenta a preocupação dos investidores em relação à guerra comercial entre os dois países. Nas últimas semanas, o presidente Donald Trump, que responsabiliza a China pela pandemia de coronavírus, já vinha ameaçando impor sanções econômicas ao país com forma de penalização.

“A Huawei é uma empresa visada pelos EUA desde o início da guerra comercial. É algo bem importante isso, já que a companhia é uma das principais da China. Sem dúvida, acaba acirrando a batalha entre eles”, disse Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.

Por outro lado, dados macroeconômicos da China voltaram a surpreender positivamente. Enquanto a economia mundial se deteriora, em abril, a produção industrial chinesa cresceu 3,9% em relação ao ano passado. O número ficou acima das projeções do mercado, que esperava uma expansão de 1,5%. 

No radar dos investidores, também esteve o PIB da Alemanha do primeiro trimestre, que veio negativo pela segunda vez consecutiva, colocando o principal país da Zona do Euro em recessão técnica. Os números, que apontaram para queda de 1,9% na comparação anual também vieram piores que a expectativa de mercado, que esperava uma contração de 1,6%.

Destaques

O resultado do primeiro trimestre da B3, empresa que administra a bolsa de valores brasileira, teve impactos positivos nas ações da companhia, que subiram 4,5%. A empresa foi beneficiada, principalmente, pelo aumento do volume de negociação na bolsa durante a crise do coronavírus. O lucro líquido da empresa subiu 70% na comparação anual.

Mas, quem liderou as altas do Ibovespa foram as ações da Hering, que subiram 9,8%, em movimento de recuperação das últimas perdas. Mesmo com a acentuada valorização, os papéis da companhia encerraram a semana em queda de 4%.

As ações da Petrobras chegaram a subir mais de 5%, na máxima do dia, após divulgar o balanço do primeiro trimestre. Embora tenha reportado prejuízo de 48,5 bilhões de reais no primeiro trimestre, o resultado agradou os acionistas. “O número foi afetado por uma revisão no valor dos ativos (impairment) de 63 bilhões de reais proveniente da revisão das estimativas de preços do Brent no longo prazo no contexto global pós-coronavírus”, explicam analistas da Levante em relatório. Apesar de ter ensaiado uma forte alta, os papéis da estatal também perderam força com a tensão política. As ações ordinárias da empresa subiram 0,34% e as preferenciais, caíram 1,26%. 

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