Ibovespa fecha em queda pelo 5º dia e aprofunda pior patamar do ano; dólar sobe a R$ 5,27
Mudança de meta fiscal para os próximos anos agrava preocupações sobre sustentabilidade da dívida; escalada de conflito no Oriente Médio pressiona bolsas internacionais
Repórter de finanças
Publicado em 16 de abril de 2024 às 10h39.
Última atualização em 27 de maio de 2024 às 11h30.
O Ibovespa caiu 0,75%, nesta terça-feira, 16, e fechou a 124.339 pontos. Foi o quinto pregão consecutivo de queda, aprofundando o pior patamar do ano. O mercado brasileiro é impactado por uma somatória de fatores internacionais e locais. O tom negativo tem reflexos também no câmbio, com o dólar registrando mais um dia de forte alta contra o real. Na máxima, a moeda bateu R$ 5,27.
Ibovespa hoje
- IBOV: -0,75%, aos 124.339 pontos
- Dólar: +1,64%, a R$ 5,270
Por aqui, o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentária (PLDO), enviado na segunda-feira, 15, ao Congresso não agradou o mercado. Um ponto de destaque foi a flexibilização das metas fiscais previstas para o período entre 2025 e 2028.
Outro ponto-chave citado por analistas foram as “projeções de receitas superestimadas” e de “despesas subestimadas”, além da projeção de longo prazo, com PIB de 2,5% nos próximos anos, que foi avaliada como “muito otimista”.
“O PLDO, pode-se dizer, se mostrou muito mais flexível do que se esperava. Há projeções que nos parecem muito otimistas de PIB, crescendo 2,5% até 2028. Também há uma trajetória de IPCA cadente, o que nos parece um otimismo exacerbado por parte do governo nas premissas macro”, aponta o especialista.
Com isso, o Banco Central (BC) elevou, pela primeira vez após 15 semanas, a expectativa da Selic para 2024 de 9% para 9,13% no Boletim Focus divulgado nesta terça. Entretanto, a estimativa do IPCA para 2024 voltou a cair, de 3,76% para 3,71%, após apresentar alta no último boletim. Os economistas também elevaram a previsão do PIB para o ano. A mediana passou de 1,90% para 1,95%.
Aversão ao risco exterior
Ainda que em menor magnitude, o ambiente também foi de perdas no exterior, com as bolsas de Nova York fechando com quedas próximas de 0,1%. A aversão ao risco internacional se dá pelo aumento nas tensões no Oriente Médio, com a possibilidade de Israel responder ao ataque do Irã. Somado a isso, dados mistos da China instalam cautela entre os investidores.
Na manhã desta terça, o país divulgou o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2024. O crescimento econômico foi mais robusto do que o esperado, avançando 5,3% no período, ligeiramente melhor do que no trimestre anterior e superando as estimativas.
Entretanto, segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, alguns sinais ligaram o alerta nos investidores. A produção industrial do país subiu 4,5% em março de 2024, na comparação anual, abaixo do esperado por analistas consultados pela FactSet, de avanço de 5,5%.
“Quando observamos a produção industrial e o varejo da China, os dados foram muito ruins, e são setores extremamente relevantes para o país, então têm feito preço. Existe, hoje, um peso muito grande do setor de real estate, que segue muito fraco, além de infraestrutura e indústria, que também se mostraram mal”, aponta Arbetman.
Acrescentado aos temores com o Oriente Médio e o pessimismo com a China, há ainda a possibilidade do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) adiar o corte de juros para setembro.
Os investidores também acompanharam o presidente do Fed, Jerome Powell, discursar na tarde de hoje. Powell afirmou que a escalada da inflação iniciada em meados de 2021 não é um típico caso de preços impulsionados por uma economia superaquecida.
Ele atribuiu o movimento aos choques de oferta. Segundo Powell, houve uma recuperação das cadeias produtivas ao longo de 2023, que ajudou a reduzir a inflação nos Estados Unidos. O dirigente disse entender o impacto da política monetária americana na economia global, mas defendeu que o melhor que o Fed pode fazer para o mundo é garantir a estabilidade de preços. "Tentamos ser transparentes e produtivos."