Havan quer vender ações na bolsa – e admite que polêmico Hang é um risco
Relembre algumas controvérsias envolvendo a loja de departamentos e seu controlador, Luciano Hang, que podem atrapalhar os planos do IPO
Denyse Godoy
Publicado em 30 de agosto de 2020 às 08h00.
Última atualização em 30 de agosto de 2020 às 09h57.
A rede de lojas de departamento de origem catarinense Havan , que por muitos anos foi mais conhecida pela excêntrica réplica da Estátua da Liberdade fincada à frente de cada unidade, formalizou na semana passada o pedido para abrir capital na bolsa de valores brasileira, a B3 .
Na oferta inicial de ações (initial public offering, ou IPO, na sigla em inglês), a Havan espera ser avaliada em até 100 bilhões de reais. A fama de seu fundador e dono, Luciano Hang, pode ajudar ou atrapalhar tal ambição.
Hang se tornou conhecido nacionalmente nos últimos anos como um dos mais fiéis apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no meio empresarial, defendendo o candidato e depois o governo quase sempre trajando verde e amarelo. À solicitação de registro da oferta de ações o empresário acrescentou uma carta contando sua origem humilde e como construiu do nada uma cadeia de 147 lojas que faturou 10,5 bilhões de reais em 2019.
Páginas depois, no documento, a Havan lista os principais riscos à sua operação e às suas perspectivas de crescimento – como pedem as normas a todos os interessados em atrair investidores no mercado de capitais. Além do surto do novo coronavírus, que paralisou a economia mundial a partir de fevereiro e ainda não está superado, Hang também aparece como uma potencial ameaça.
"Nosso presidente e acionista controlador já foi e é parte em processos relativos a condutas supostamente inapropriadas, e/ou ofensivas, inclusive decorrentes de sua opinião pessoal nas redes sociais, sendo que alguns tiveram ou podem ainda ter potenciais desdobramentos na esfera ciminal. Em caso de decisões desfavoráveis, a reputação da companhia poderá ser afetada de maneira adversa, o que pode gerar efeito negativo sobre negócios e resultados operacionais. Não podemos assegurar que novos inquéritos ou ações envolvendo nosso presidente e controlador não surgirão no futuro", diz o pedido, resumidamente. "Publicações, notícias ou comentários negativos sobre a companhia, suas operações, sua marca ou seus administradores, principalmente o senhor Luciano Hang, podem prejudicar a reputação e os negócios da companhia, inclusive gerando manifestações em nossas lojas, além de poderem inclusive ocasionar a perda de direitos de contratar com a administração pública, de receber incentivos ou benefícios fiscais ou quaisquer financiamentos e recursos dos órgãos e entidades governamentais."
O alerta diz respeito às controvérsias envolvendo Hang e a Havan. Relembre algumas:
1 - Investigações por sonegação de impostos
A Receita Federal aponta que a Havan deixou de declarar e de recolher, entre 2009 e 2010, taxas e contribuições como a previdenciária patronal e até a destinada ao patrocínio a um time de futebol da cidade de Brusque, onde fica a sede da empresa. O valor atualizado da pendência é de 2,5 milhões de reais. Quando a investigação veio a público, em junho, a Havan disse ao jornal "O Estado de S. Paulo", que publicou a notícia, que a denúncia era "velha" e "não foi aceita". Em 2003, Hang foi condenado a três anos, 11 meses e 15 dias de pena privativa de liberdade, além de multa por sonegar 10,4 milhões de reais em contribuições. A punição foi substituída por prestação de serviços comunitários e pagamento de dez salários mínimos mensais durante o período da condenação. Antes de ser obrigado a começar a cumprir as penas, o empresário fez acordo para pagar parte do débito e parcelar o restante.
2 - Investigação por disseminação defake news
Hang está sendo investigado no inquérito do Supremo Tribunal Federal que apura a disseminação de fake news no país e ataques contra ministros da Corte. Dois endereços do empresário – que nega qualquer ato ilícito – foram alvos de uma operação de busca e apreensão em maio. Suas contas no Twitter e no Facebook estão suspensas.
3 - Questionamento do isolamento social
Em março, no início da pandemia da covid-19, o Ministério da Saúde recomendou o isolamento social no Brasil como estratégia para frear a disseminação do coronavírus, seguindo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde. Hang se juntou a outros empresários que causaram polêmica ao falar em desemprego para criticar a medida. Disse que ter certeza de que o país não repetiria a tragédia da Itália, que o brasileiro estava sendo bombardeado com péssimas notícias e vivendo uma histeria. Acrescentou que, em sua opinião, as medidas de isolamento social e fechamento do comércio eram precipitadas. A Havan tentou burlar as determinações para fechamento começando a vender alimentos e pedindo para ser enquadrada na permissão de funcionamento para estabelecimentos comerciais esenciais. Cinco meses depois, o Brasil se aproxima de 4 milhões de casos confirmados, com mais de 120.000 mortes.
4 - Suposta coação de funcionários na eleição
Em 2018, o Ministério Público do Trabalho processou a Havan, pedindo uma multa de 100 milhões de reais, por causa de um vídeo direcionado aos funcionários da Havan em que Hang dizia que fecharia milhares de postos de trabalho caso seu candidato – Bolsonaro – não fosse eleito presidente.