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Fitness na bolsa: vale a pena entrar no IPO da Smart Fit?

Período de reserva para participar da oferta termina nesta quinta-feira; estreia da empresa na B3 está prevista para o dia 14 de julho

Rede de academias Smart Fit fará o primeiro IPO do segmento na bolsa | Foto: Leo Martins/Exame (Leo Martins/Exame)

Rede de academias Smart Fit fará o primeiro IPO do segmento na bolsa | Foto: Leo Martins/Exame (Leo Martins/Exame)

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Beatriz Quesada

Publicado em 8 de julho de 2021 às 13h18.

Última atualização em 8 de julho de 2021 às 14h38.

A bolsa brasileira está prestes a receber o primeiro IPO do mercado fitness com a oferta pública inicial de ações da Smart Fit, líder do segmento fitness na América Latina. O investidor que tiver interesse em investir na rede de academias tem até hoje, dia 8, para decidir participar da oferta.

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A empresa fundada por Edgard Corona pretende captar em torno de 2,25 bilhões de reais. Serão 100 milhões de ações emitidas na oferta base, a 22,5 reais cada. O valor considera o ponto médio da faixa indicativa, que vai de 20 reais a 25 reais por papel. Desse montante, ao menos 8 milhões de papéis estão reservados para o investidor de varejo. 

A oferta é primária, ou seja, todos os recursos serão encaminhados para o caixa da companhia. A maior parte do dinheiro captado (70,1%) será utilizado para abrir novas unidades da empresa. Atualmente, a Smart Fit tem uma rede de 928 academias – sendo 509 delas no Brasil e as demais espalhadas em outros 12 países da região, como México, Colômbia e Chile. 

O sonho do IPO remonta a 2018, quando a rede de academias desistiu da oferta por condições de mercado desfavoráveis. Vale lembrar que a Smart Fit já tem o capital aberto hoje no Bovespa Mais, segmento de acesso da bolsa. Agora, no entanto, os planos da rede são aproveitar a reabertura econômica para migrar para o Novo Mercado, utilizando os recursos do IPO para continuar os planos de expansão. 

O grande diferencial da rede é oferecer o define como “high value, low price”, um serviço de alto valor agregado com um preço acessível. “A Smart Fit é uma espécie de self-service das academias: oferece um ambiente novo, equipamentos modernos e funcionamento diário em horários estendidos a preços acessíveis em unidades localizadas em pontos estratégicos”, destaca Cristiane Fensterseifer, analista da Empiricus.

A estreia dos papéis na B3 será no dia 14 de julho, sob o ticker SMFT3. Os investidores que quiserem participar do IPO precisam avisar sua corretora sobre quantos papéis gostaria de comprar no IPO e por qual preço. O valor mínimo para participar é de 3.000 reais, e o máximo, de 1 milhão de reais. 

Entenda abaixo o que os analistas pensam da oferta:

Potencial de expansão

A capacidade de continuar ganhando mercado é o principal ponto positivo da Smart Fit segundo analistas. Isso porque o mundo fitness ainda tem baixa adesão na América Latina, o que pode ser uma oportunidade de crescimento. No Brasil, a taxa de penetração do serviço é de 4,9% contra 21,2% nos Estados Unidos, segundo relatório de 2020 da IHRSA, associação global de saúde e fitness. 

Este, no entanto, não é um mercado com barreira de entrada, então a concorrência pode ser acirrada. Ainda assim, seria difícil alcançar o patamar da Smart Fit. “A capilaridade e escala da sua rede dificilmente poderiam ser replicadas em um curto período de tempo. Vemos a empresa com uma elevada capacidade de manutenção de sua liderança de mercado”, afirmam os analistas Eric Huang e Tales Granello, da Eleven Research.

Outro ponto destacado nas análises é de que a companhia não atua apenas com academias, mas também com aplicativos voltados à vida saudável, como o Queima Diária e o Smart Fit Nutri. 

Alavancagem e processo judicial

A rápida expansão tem um preço: a Smart Fit é uma empresa com um alto nível de alavancagem. A pandemia e o isolamento social agravaram a dependência de empréstimos, e deixaram a empresa com um prejuízo de 604 milhões de reais em 2020.

Existe também a preocupação de que a Covid-19 continue a afetar os balanços da rede. “Caso a pandemia se prolongue por um período maior que o esperado, a companhia pode permanecer em um cenário prejudicial, capaz de dificultar a continuidade de suas operações”, destaca o analista Rodrigo Wainberg, da Suno Research.

Outro ponto a que investidores devem estar atentos são as questões judiciais que envolvem a empresa. No final de 2020, sócios minoritários da ADV Esporte e Saúde, braço da Smart Fit em Brasília, pediram o reconhecimento de um acordo que garantiria a eles o direito a parte das ações emitidas no IPO. A Smart Fit não reconhece o acordo e alega que os sócios agiram de má-fé ao iniciar o processo.

O processo tramita na Justiça e a Comissão de Valores e Mobiliários (CVM) também está avaliando se essa questão traz algum impacto aos investidores. 

“Além dessa investigação, [o fundador da empresa] Edgard Corona foi citado na investigação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o disparo de fake news nas redes sociais, o que pode impactar a avaliação da empresa pelo mercado, que cada vez mais está preocupado com questões de governança e ESG”, destaca Fensterseifer, da Empiricus.

Vale participar?

Entre as três casas de análises citadas na reportagem, a Suno é a única que não recomenda entrar na oferta. O analista considerou que os múltiplos da Smart Fit – métricas de avaliação da empresa – não são atrativos, nem mesmo considerando o ano de 2019, quando os resultados ainda não haviam sofrido o impacto da pandemia. O preço-alvo da casa para o IPO seria de 18,45 reais no cenário-base, 7,75% menor que o piso da faixa indicativa da oferta, que é de 20 reais.

“Ainda que as perspectivas da Smart Fit sejam favoráveis, o valuation pouco atrativo, o endividamento elevado e a ação judicial tramitando em desfavor da empresa nos fazem não recomendar a entrada no IPO”, destaca Wainberg.

A Empiricus e a Eleven têm outra opinião. Considerando que a empresa tenha sucesso em continuar seu histórico de crescimento elevado, as duas casas estimam que os múltiplos dos próximos anos serão atrativos o suficiente para justificar o investimento.

A participação na oferta é sugerida pela Empiricus até o topo da faixa indicativa, de 25 reais por ação. “Com base em nossas projeções de fluxo de caixa descontado, encontramos um preço-alvo de 29 reais e um potencial de valorização (upside) de 45% para as ações baseado no custo de 20 reais por ação (piso da faixa) e de 16% baseado no teto da faixa indicativa de preços do IPO, de 25 reais”, afirma a analista da empresa research.

Já a Eleven estima um preço-alvo de 33 reais para as ações da Smart Fit. “Vemos um atrativo desconto de 20% nos múltiplos de EV/EBITDA [estimados] para 2022 e 2023 em relação aos pares internacionais, bem como uma compressão de múltiplos da ordem de 30% ao ano”, dizem os analistas.

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