Desdobramentos visam tornar mais acessíveis ações com preços elevados | Foto: Krisanapong Detraphiphat/ Getty Images (krisanapong detraphiphat/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 21 de maio de 2021 às 06h30.
Última atualização em 21 de maio de 2021 às 13h41.
Uma pizza cortada em oito pedaços vale mais do que uma pizza inteira? Logicamente, a resposta seria não. Mas uma dúvida parecida tem sido um dilema há décadas no mercado financeiro: vale a pena comprar uma ação que será desdobrada?
Nas últimas semanas, o Banco Inter (BIDI11), Porto Seguro (PSSA3) e o BTG Pactual (BPAC11) anunciaram que farão desdobramento de seus papéis. A operação nada mais é do que dividir a pizza em pedaços, só que com ações. No caso, uma ação pode ser dividida em duas, três ou mais - com seu preço sendo repartido sempre na mesma proporção.
Em tese, o desdobramento tem o único objetivo de tornar mais acessível uma ação que esteja com preço muito acima da média do mercado e, consequentemente, torná-la mais líquida. Ou seja, uma empresa não deveria valer mais só porque tem mais ações em circulação. Mas na prática nem sempre isso ocorre.
Ainda em 1984, o assunto foi tema do estudo científico publicado no The Journal of Financial Economics “The Valuation Effects of Stock Splits and Stock Dividends” (Os Efeitos de Avaliação de Desdobramentos de Ações e Dividendos”, em português). Nele, os pesquisadores Mark Grinblatt, Ronald Masulis e Sheridan Titman mostraram evidências de que “os preços das ações, em média, reagem positivamente aos desdobramentos de ações”.
De lá para cá muita coisa mudou no mercado, mas ainda é comum ver ações dispararem no dia do desdobramento. Um dos casos recentes mais emblemáticos ocorreu com os papéis da Tesla, que fecharam em alta de 12% no dia em que foram desdobrados.
Não é raro também investidores se anteciparem ao movimento. No último desdobramento do Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, suas ações chegaram a acumular 17% de alta nos três pregões antes de serem desdobradas.
Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV, explica que a resposta para isso está nas finanças comportamentais.
“Se a ação A custa 50 reais e B custa 5 reais, o mercado entende que há maior probabilidade de a ação B superar os 6 reais do que a ação A superar os 60 reais”, afirma Yoshinaga. “Apesar de a valorização ser igual, na mente das pessoas a ação de 5 reais precisa andar menos para chegar em 6 reais do que a de 50 reais para chegar em 60 reais.”
Por outro lado, o efeito contrário pode ocorrer em um reagrupamento de ações, em que ações se juntam somando-se seus preços. Isso é o que sugere o estudo publicado em 2020 no Journal of Behavioral Finance “Numerosity: Forward and Reverse Stock Splits” (Numerosidade: Desdobramento e Reagrupamento de Ações, em português).
“Os recursos cognitivos dos investidores já foram condicionados a chegar à conclusão sistemática para vender as ações a um preço mais alto. O número estimula os investidores a vender pelo valor de investimento percebido mais alto, e, consequentemente, os retornos das ações reagem mais negativamente ao nível de preço pós-reagrupamento”, diz o estudo.
Tendo em vista o viés comportamental dos investidores, pode parecer vantajoso comprar antes do desdobramento e vender antes do reagrupamento. Mas os efeitos nem sempre são como o esperado.
Das últimas cinco ações que passaram por desdobramento na bolsa brasileira (ENEV3, LWSA3, PRIO3, B3SA3 e CSAN3), somente duas subiram nos dias em que foram desdobradas. Por outro lado, apenas uma delas acumulou menos de 3,8% de alta nos dois pregões anteriores ao desdobramento.