Carrefour: para o time de analistas de varejo do Citi parece improvável que os frigoríficos imponham uma paralisação ampla (Germano Lüders/Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 25 de novembro de 2024 às 17h39.
O fôlego dado aos papéis de varejo em meio à expectativa pelo pacote de corte de gastos deu uma trégua às ações do Carrefour Brasil, depois de elas começarem o dia em queda com notícias de que os frigoríficos brasileiros estão decididos a boicotar a empresa -- enquanto associações de hotéis e restaurantes também estão orientando seus associados a fazer compras na concorrência.
Há pouco, as ações da companhia subiam 3,31%, para R$ 6,86.
A reação do setor produtivo brasileiro é uma resposta às falas do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard. Em carta enviada a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA), Bompard afirma que o grupo não vai comercializar na França nenhuma proteína animal vinda de países membros do Mercosul.
Agora, segundo apurou o EXAME Agro, o boicote do setor de proteína no Brasil será mantido até que Bompard se retrate publicamente. “É uma decisão comercial”, afirmou uma fonte próxima ao setor.
O Carrefour Brasil negou que haja desabastecimento, mas confirmou a suspensão de entrega de alguns fornecedores. A potencial interrupção ocorre em um momento em que a inflação dos alimentos tem ganhado força, o que tende a aumentar a alavancagem operacional dos varejistas.
Para o time de analistas de varejo do Citi, João Soares e Felipe Reboredo, parece improvável que os frigoríficos imponham uma paralisação ampla, dado o tamanho do Carrefour Brasil. A empresa é a maior varejista de alimentos, com mais de R$ 100 bilhões em vendas. "Além disso, esperamos que a empresa já esteja, em grande parte, abastecida em termos de estoque para o quarto trimestre", escreve a dupla.
Mas, de qualquer forma, as proteínas animais são relevantes para as vendas e ajudam a influenciar no tráfego nas lojas.
"Para os players de atacarejo (o Atacadão representa cerca de 70% das vendas do Carrefour), estimamos que a carne bovina responda por 5% das vendas, enquanto proteínas em geral representam cerca de 10% do total (vale mencionar que, além de sua participação nas vendas totais, esse é um item importante para atrair consumidores às lojas)", escreve o time do BTG Pactual (do mesmo grupo da EXAME), composto por Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima.
Segundo o time do banco, ainda que a varejista esteja mostrando sinais de melhora nas vendas, ainda há deterioração na margem bruta e no capital de giro, levando ao aumento da alavancagem financeira -- o que pode se agravar em risco de queda operacional.
De acordo com Thiago Bertoluci, analista de food do Goldman Sachs, a preocupação se deve ao fato de que a marca Friboi, da JBS, representa 80% do fornecimento no Carrefour Brasil e 100% no Atacadão.
Produtos alimentícios representam 88% das vendas consolidadas do Carrefour Brasil. Supondo que o Carrefour Brasil tenha a mesma composição de produtos que o mercado geral (conforme os pesos do IPCA), isso implicaria que a carne bovina representa 12% das vendas totais, enquanto frango e suínos somariam 6% e 2%, respectivamente.
"Dito isso, essa estimativa pode estar superestimada, dada a relevância dos açougues independentes nas vendas gerais de carne no Brasil, além do fato de que o Atacadão possui menor participação nessa categoria, ilustrado pelo fato de que recentemente começaram a adicionar serviços de açougue nas lojas. Nesse contexto, acreditamos que a relevância real da carne bovina para as vendas totais no Carrefour Brasil esteja mais próxima de um dígito médio a alto", escreveram os analistas do Goldman Sachs, Irma Sgarz, Felipe Rached e Gabriela Leme.
No ano, as ações do Carrefour Brasil acumulam queda de 43%.