Carta de Buffett, considerado o "pai dos investimentos" fala de cautela com o atual momento (Christopher Goodney/Bloomberg via/Getty Images)
Reuters
Publicado em 27 de fevereiro de 2022 às 15h51.
Warren Buffett sinalizou que vai focar no que faz de melhor e lamentou a falta de boas oportunidades de investimento para a Berkshire Hathaway. A gestora comemorou lucro recorde mesmo após recomprar uma enorme quantidade de suas próprias ações.
Em sua famosa carta anual aos acionistas da Berkshire, o bilionário de 91 anos expressou no sábado grande confiança na Berkshire, dizendo que seguirá investindo em grandes negócios e em ações com foco no longo prazo.
"As pessoas que estão confortáveis com seus investimentos, em média, alcançarão melhores resultados do que aquelas motivadas por manchetes, conversas e promessas em constante mudança", escreveu Buffett.
Observando os riscos de mudanças na política mundial, o terrorismo e os ataques cibernéticos, a Berkshire permanece cautelosa, afirmou. O caixa da companhia atingiu um recorde de 146,7 bilhões de dólares, mesmo depois que recomprou 51,7 bilhões de dólares em ações em 2020 e 2021.
Buffett também disse: "Temos encontrado pouca coisa que nos empolga" no mercado de ações, e que grandes aquisições continuam difíceis de acontecer depois de seis anos sem nenhum negócio desta natureza.
"Hoje, as oportunidades internas oferecem retornos muito melhores do que as aquisições", escreveu ele. Muitas dessas oportunidades pareceram valer a pena em 2021.
O lucro operacional da companhia aumentou 25%, chegando a uma cifra recorde de 27,46 bilhões de dólares, com mais de um terço dela vindo da ferrovia BNSF e da Berkshire Hathaway Energy, apesar das interrupções na cadeia de suprimentos em função da Covid-19. No quarto trimestre, o lucro operacional cresceu 45%.
O lucro líquido do ano mais que dobrou alcançando um recorde de 89,8 bilhões de dólares, impulsionado pelos ganhos dos investimentos de Buffett na Apple, no Bank of America, na American Express e em outras ações do vasto portfólio da Berkshire.
"Ele está mostrando a história de uma matriz de crescimento multifacetado", disse Tom Russo, sócio da Gardner, Russo & Quinn em Lancaster, Pensilvânia, um investidor de longa data da Berkshire. "A mensagem principal é que a Berkshire encontrou alguns negócios magníficos, então vamos celebrá-los."
Só a participação na Apple totalizou 161,2 bilhões de dólares em 31 de dezembro, mais de cinco vezes os 31,1 bilhões de dólares que a Berkshire pagou por ela. Buffett chamou Tim Cook, da Apple, de um presidente-executivo "brilhante".
As recompras de ações totalizaram 27 bilhões de dólares em 2021, mas desaceleraram em 2022, somando 1,2 bilhão até agora. O preço das ações da Berkshire está 2% abaixo de seu valor recorde.
"A paciência e a disciplina de Buffett permitiram que ele fizesse o que é essencialmente a maior aquisição da história da Berkshire: suas próprias ações, com um desconto substancial em relação ao preço de mercado atual", disse Jim Shanahan, analista da Edward Jones & Co.
Em sua carta, Buffett elogiou o que chamou de "quatro gigantes" da Berkshire, incluindo suas enormes operações no mercado de seguros, a BNSF, a Berkshire Hathaway Energy e a participação na Apple.
"Nosso objetivo é ter investimentos significativos em negócios que deem vantagens econômicas duráveis e tenham um presidente-executivo de primeira classe", escreveu Buffett.
Ele disse também que a Berkshire favorece um "tipo de lucro antiquado", incluindo os 6 bilhões de dólares no ano passado oriundos da ferrovia BNSF, criticando empresas que podem manipular seus resultados para aumentar os preços de suas ações.
Buffett disse que a enorme participação em dinheiro na Berkshire "não é uma expressão de patriotismo", mas sim um escudo contra perdas em suas vastas operações de seguros, incluindo o negócio de seguros contra grandes catástrofes.
O Tio Sam se beneficia do tamanho da Berkshire, disse Buffett, coletando 3,3 bilhões de dólares em imposto de renda da empresa em 2021, dos mais de 402 bilhões de dólares em receitas totais de imposto de renda corporativo recebidos pelo Tesouro dos EUA.