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Eletrobras, BB e Petro: ações são oportunidade ou garantia de decepção?

Analistas comentam riscos e vantagens dos papéis das três maiores estatais da bolsa brasileira

Eletrobras apresentou bons resultados, mas incertezas sobre rumo da companhia continuam (Dado Galdieri/Bloomberg)

Eletrobras apresentou bons resultados, mas incertezas sobre rumo da companhia continuam (Dado Galdieri/Bloomberg)

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Beatriz Quesada

Publicado em 23 de março de 2021 às 15h01.

Última atualização em 23 de março de 2021 às 22h08.

A Eletrobras (ELET3; ELET6) foi a última grande estatal listada em bolsa a apresentar seus resultados de 2020 — e o saldo foi positivo. A companhia registrou um lucro líquido de 1,27 bilhão de reais no último trimestre de 2020, ante uma estimativa de 1,1 bilhão. 

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Para melhorar, Wilson Ferreira Júnior, ex-presidente e conselheiro da elétrica, afirmou nesta segunda-feira, 22, que a tão esperada Medida Provisória (MP) para privatização deve ser aprovada pelo Congresso até junho. 

O anúncio não deixa de ser uma reviravolta, já que, em janeiro, o próprio Ferreira pediu demissão após os prometidos planos de privatização não terem saído do papel. A mudança deixa à mostra o grau de incerteza que paira sobre as estatais brasileiras, expostas constantemente às reviravoltas de Brasília.

“Com as estatais, o ponto principal de atenção do mercado é o ruído político, e não o desempenho da companhia e da indústria. É impossível cravar o que vai acontecer e antecipar movimentos”, argumenta Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.

Tanto é assim que as inseguranças também atingem duas outras grandes estatais da bolsa: Banco do Brasil (BBSA3) e Petrobras (PETR3; PETR4). O exemplo mais recente vem do BB, com o comunicado de renúncia do presidente André Brandão na quinta-feira, 18. O executivo estava sob pressão do presidente Jair Bolsonaro desde o início do ano, depois de anunciar um plano de reestruturação que envolvia fechamento de agências e demissão voluntária de funcionários.

A saída já era esperada, e o impacto no mercado foi pequeno — as ações do BB subiram 0,85% no pregão após o anúncio. Um ponto que contou favoravelmente foi a indicação de Fausto Ribeiro para o cargo, mudança que colocou um funcionário de carreira no lugar do que poderia ter sido uma indicação puramente política. Ainda assim, não deixa de ser um sinal preocupante para os investidores.

“Brandão vinha fazendo um trabalho superimportante de corte de custos visando a realidade do banco de forma estrutural. Depois desse evento, o Banco do Brasil vai ficar esquecido pelo mercado apesar do valuation descontado. O foco serão os bancos privados”, opina Bruno Lima, head de renda variável da EXAME Invest Pro.

Existem, ainda, temores de que Ribeiro troque parte da diretoria do banco, incluindo nomes insatisfeitos com sua nomeação. O novo presidente deve fazer indicações políticas para os cargos, segundo informações do jornal O Globo, que também aponta uma possível troca de conselheiros.

Fechando o trio, a Petrobras já apresenta uma mudança de comportamento após a substituição na presidência. No sábado, 20, a petroleira reduziu o preço da gasolina nas refinarias pela primeira vez no ano — desde janeiro, o preço já havia subido seis vezes para acompanhar a alta da commodity no mercado internacional.

Os constantes reajustes irritaram Bolsonaro, que demitiu o então presidente Roberto Castello Branco em fevereiro. Isso acarretou a saída de quatro conselheiros da companhia. Para o cargo, foi indicado o general Joaquim Silva e Luna, aprovado pelo comitê interno da empresa na última semana.

Saiba o que pensam os analistas para o futuro das três estatais:

Eletrobras (ELET3; ELET6)

O banco BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) se baseou nos resultados do último trimestre de 2020 para recomendar a compra do papel preferencial (ELET6), com preço-alvo de 63 reais — a ação fechou o último pregão negociada a 33 reais. O motivo para a compra seria o resultado do Ebitda, que ficou acima das expectativas quando ajustado por itens não recorrentes. 

O Goldman Sachs destacou em relatório que a Eletrobras tem um fluxo de caixa muito estável e de baixo risco e reiterou a classificação de compra das ações, com um preço-alvo de 47 reais para as ações ordinárias (ELET3) e 52 reais para as preferenciais (ELET6).

Já o Credit Suisse destacou em relatório as incertezas em relação à MP para privatização da empresa. “Lembramos aos investidores que o governo já enfrentou dificuldades com a privatização e, consequentemente, acreditamos ser importante ter uma visão mais clara da opinião do Congresso sobre esta nova MP”. A recomendação do banco é neutra, com preço-alvo de 32 reais para as ações preferenciais (ELET6).

Esteter, da Guide, lembra que existem outras boas opções de papéis no setor elétrico, como Taesa (TAEE11), Engie (EGIE3) e Equatorial (EQTL3). “Pode ser um momento para compra da Eletrobras, mas não recomendaria grandes posições na empresa”, completa.

Banco do Brasil (BBSA3)

Após a saída de Brandão do comando do BB, o Goldman Sachs prevê incertezas em relação ao papel, mas mantém a recomendação de compra com um preço-alvo de 48 reais — o papel encerrou o último pregão cotado a 30,79 reais. 

Os analistas baseiam a indicação no desconto que as ações do Banco do Brasil apresentam em relação a seus fundamentos. Segundo o Goldman, o papel é negociado a um múltiplo preço/lucro de 4,8x — bem abaixo do múltiplo de 7,6x estimado pelo banco. 

O Credit Suisse foi mais duro em sua avaliação, e rebaixou a recomendação de compra para neutra, cortando o preço-alvo da ação de 46 reais para 38 reais. 

Para Stefano Spinelli, analista da RB Investimentos, é difícil apontar se o papel está caro ou barato no patamar atual. “A ação já caiu bastante, mas pode cair mais. A negociação sempre será com desconto por ser estatal — mesmo com bons resultados, a volatilidade é mais alta do que a de concorrentes privados”, diz.

Petrobras (PETR3; PETR4)

No início do mês de março, quando as intervenções políticas na Petrobras estavam em seu auge com a saída de conselheiros, o Credit Suisse divulgou um relatório recomendando a venda dos ADRs da petroleira, ao preço-alvo de 8 dólares (frente a uma negociação anterior de 7,74 dólares).

Já o Goldman Sachs recomendou compra das ações, a um preço-alvo de 41,1 reais para as ações ordinárias (PETR3) e 37,3 reais para as preferenciais (PETR4) dólares — os papéis foram negociados no último pregão a 23,08 reais e 23,52 reais, respectivamente.  

Como argumento, analistas consideram que os preços de gasolina e diesel praticados pela empresa ainda poderiam subir, já que estão abaixo do que é praticado por seus pares. Vale lembrar que o relatório saiu antes do primeiro anúncio de redução de preços, anunciado na última semana.

Daqui para a frente, as intervenções podem, inclusive, colocar a Petrobras em posição de desvantagem mundial. “O petróleo pode ser beneficiado pelo aumento na demanda com a recuperação da economia americana, mas a Petrobras, como estatal, fica para trás nessa corrida em relação às concorrentes de dentro e de fora do Brasil", afirma Spinelli.

 

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