Efeito GameStop? Gestora Versa desiste de vender ações a descoberto
Luiz Alves, sócio-fundador e gestor da Versa, explica que a decisão foi tomada com base em desempenho nos últimos anos e no caso da rede de games nos EUA
Marcelo Sakate
Publicado em 7 de março de 2021 às 15h55.
Uma das gestoras com melhores resultados em fundos multimercados nos últimos anos, a Versa Asset decidiu encerrar o livro de ações vendidas a descoberto, o short selling.
A decisão acontece cerca de um mês depois do auge do caso GameStop , a rede varejista de games dos Estados Unidos cuja ação foi alvo de uma ampla mobilização de investidores para pressionar as cotações. A disparada dos papeis causou perdas bilionárias para fundos que estavam vendidos a descoberto, ou seja, que apostavam na queda das cotações.
"Os fundos da casa não vendem mais papéis específicos e continuam a fazer alavancagem long & short vendendo apenas índices de ações. Com esta decisão consolidamos o movimento iniciado há mais de um ano quando trocamos metade da exposição vendida à descoberto por BOVA11", conta Luiz Alves Junior, sócio-fundador do Versa.
O BOVA11 é o ETF (fundo de índice) que busca replicar a performance do Ibovespa. "Os índices são carteiras diversificadas. Alguns como o Ibovespa, pela metodologia e composição, sofrem movimentos menos abruptos, principalmente nas altas."
Alves é um dos gestores mais destacados da nova geração do mercado. Foi gestor de renda variável dos fundos multimercados da Itaú Asset antes de sair para lançar o Versa Long Biased, em 2013. Ele atribui a decisão de abandonar as vendas a descoberta em parte aos resultados dos últimos anos, segundo post publicado no site da gestora.
"Desde 2015, a carteira vendida a descoberto teve desempenho 30% inferior ao Ibovespa, agregando valor para o fundo. O resultado atingiu o seu pico em 2018 e desde então trouxe prejuízos. Apesar de o resultado acumulado continuar positivo, não dá para concluir que somos consistentes na venda a descoberto", afirma o gestor.
"Estudamos alternativas para minimizar o fator de estilo momentum, fonte de prejuízo muito presente na carteira, mas concluímos que, pela nossa filosofia de investimentos, a venda a descoberto é uma briga que preferimos não lutar."
Resultados em 2021 x anos recentes
No ano passado, os dois principais fundos da casa tiveram performance destacada: o Versa Long Biased rendeu 83,8%, enquanto o Versa Fit Long Biased, que segue a mesma carteira, mas com a metade do risco, entregou alta de 48,9%.
Neste ano, porém, os dois fundos estão com ampla rentabilidade negativa: no caso do Versa, a queda é de 40,8% neste ano até a última sexta-feira, 5; no caso do Fit, o desempenho é negativo em 19,4%. No acumulado em 12 e 24 meses ou em janelas mais amplas, o retorno é positivo: de 41,9% para o Versa em 24 meses, quase o dobro do Ibovespa.
Os gestores da Versa atribuem o resultado negativo neste ano a três fatores: (1) o fato de operaram com volatilidade acima da média de mercado; (2) o fato de investirem em teses ligadas ao retorno do mundo e da economia ao que era antes da pandemia -- e os retrocessos recentes impõem perdas; e (3) o câmbio, em fator ligado ao item anterior. A alta do dólar destoa do que os modelos apontariam como "certo", explicam.
Efeito GameStop
Alves conta que o episódio envolvendo a GameStop pesou para a tomada de decisão. "Eventos recentes como a alta da GameStop, que multiplicou por 22 vezes em apenas 11 pregões, aumentam o desconforto em relação às vendas a descoberto", diz o gestor.
"Enquanto a falência de uma investida causaria um bom prejuízo ao fundo, a venda a descoberto em uma GameStop poderia levar o fundo à falência."
"Apesar de sempre tomarmos o cuidado de não vender a descoberto ações com baixo valor de mercado, como a GameStop, a única forma de garantir que o fundo não fique exposto às descontinuidades é montar uma carteira diluída, repleta de posições pequenas. Investimentos pequenos exigem a mesma atenção de investimentos grandes mas o resultado pouco influencia o fundo. São ineficientes", completa o gestor da Versa.
Alves explica que a decisão vai além do fim da carteira. "O fim das vendas a descoberto implica a restrição do pensamento dos co-gestores do Versa. Antes podíamos comprar ou vender uma ação. Agora podemos apenas comprar ou continuar indiferentes."
"Com isso abandonamos a busca por gerar alfa na carteira vendida a descoberto, e os fundos passaram a ser rentabilizados exclusivamente pelo alfa da carteira comprada e pela alocação direcional, livros nos quais historicamente tivemos os melhores resultados", conclui.