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Dólar em queda: para investidores, moeda pode cair ainda mais; entenda

Pessimismo em relação ao dólar não é apenas um produto dos problemas dos Estados Unidos

Dólar: investidores veem a moeda em nível ainda mais baixo (Igor Golovniov/Getty Images)
Bloomberg

Agência de notícias

Publicado em 24 de abril de 2023 às 15h15.

Última atualização em 24 de abril de 2023 às 15h26.

Investidores profissionais veem o dólar em nível ainda mais baixo frente às máximas em duas décadas atingidas no ano passado, porque o mercado não tem precificado corretamente o próximo ciclo de afrouxamento monetário do Federal Reserve.

Cerca de 87% dos 331 entrevistados esperam que o Fed reduza os juros para 3% ou menos — para alguns, de forma significativa — em um afrouxamento que, para 40% deles, começará neste ano, de acordo com a mais recente pesquisa do blog de mercados MLIV da Bloomberg. Esse número contrasta com as apostas do mercado que colocam a taxa de juro implícita em torno de 3,05% em dois anos.

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Da mesma forma, investidores profissionais têm uma visão negativa em relação ao dólar, com uma diferença de 17 pontos percentuais entre os pessimistas e otimistas. Muitos declaram explicitamente que projetam perdas porque a trajetória do retorno precificada atualmente é muito alta. Curiosamente, a segunda resposta mais citada é que oestresse do setor bancário ficará restrito aos EUA, implicando que o Fed será obrigado a afrouxar ainda mais a política do que outros bancos centrais.

Por mais estranho que possa parecer à primeira vista, há de fato um precedente histórico para o Fed cortar muito mais os juros sem que outras autoridades monetárias sigam o exemplo. Durante a crise do setor de tecnologia no início da década de 2000 e no ano que antecedeu o colapso do Lehman Brothers, a política monetária dos EUA divergiu radicalmente de outros países. No caso da crise financeira, o Fed reduziu os juros em 325 pontos-base entre agosto de 2007 e abril de 2008, enquanto o Banco Central Europeu elevou a taxa básica em 0,25 ponto percentual em julho de 2008 — e o dólar estava muito fraco durante esse período pré-Lehman.

Outros motivos

Mas o pessimismo em relação ao dólar não é apenas um produto dos problemas dos EUA. Um grupo surpreendentemente grande de investidores acredita que avalorização do iene ou do iuane será a principal causa da queda da moeda americana.

Por que surpreendente? Primeiro, o novo presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, até agora fez de tudo para parecer o mais entediante possível, oferecendo pouca esperança para aqueles que apostam no fim da política ultrafrouxa que causou a desvalorização do iene. Dito isso, Ueda tem uma janela conveniente para descartar o controle da curva de juros, enquanto há mínima pressão nos mercados de taxas locais. Se ele decidir agir, isso provavelmente levaria a uma valorização significativa do iene — há evidências de que mesmo pequenas mudanças na política do BOJ podem ter um impacto descomunal sobre a moeda.

Em segundo lugar, o Índice de Surpresa Econômica do Citigroup para a China subiu para perto do nível mais alto desde 2006 neste mês e, no entanto, o yuan avançou apenas cerca de 1% em relação à sua cesta ponderada pelo comércio em 2023. O yuan deve se valorizar, mas é preocupante que a moeda tenha ficado quase imune a boas notícias, pois é difícil imaginar o que mais o país pode fazer para impressionar. Além do risco geopolítico contínuo, pode ser simplesmente que investidores precisem de tempo para se acostumar com a ideia de que o comércio da China está de volta.

Desdolarização?

O risco de um distanciamento mais generalizado do dólar é algo que investidores consideram seriamente. A maioria dos entrevistados projeta que o dólar vá representar menos da metade das reservas globais dentro de uma década.

Por outro lado, ainda há investidores otimistas em relação à moeda americana, principalmente no segmento de varejo. Uma clara maioria desses “fãs do dólar” acredita que a trajetória de juros do Fed não está devidamente refletida nas apostas. Isso confirma que acertar a direção da moeda deve se resumir em acertar o rumo da política monetária.

Curiosamente, o risco de um colapso do teto da dívida quase não é mencionado. No entanto, poucos contestariam que o ambiente político atual é extremamente negativo, e os riscos são tão altos quanto nos últimos anos. O confronto final de 2011 é o melhor modelo para julgar a provável resposta do mercado a um problema grave. Naquela época, os rendimentos caíram significativamente, mas o dólar subiu durante esse período, pois a aversão ao risco dominava a percepção dos investidores.

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