Dólar segue acima de R$ 6 e pode renovar maior patamar da história
Desconfiança do mercado com pacote fiscal pressiona câmbio pelo terceiro dia seguido
Redação Exame
Publicado em 29 de novembro de 2024 às 10h32.
Última atualização em 29 de novembro de 2024 às 13h40.
O dólar comercial caminha para alcançar uma nova máxima histórica nesta sexta-feira, 29. A moeda americana avança mais de 2% e alcançou R$ 6,11 no ponto mais alto do dia. Por volta das 12h, a moeda arrefeceu a alta após o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, afirmar que a proposta de isenção de imposto de renda para trabalhadores com renda mensal de até R$ 5 mil deve ser discutida pelo parlamento em 2025 e após apresentação "realista" de fontes de financiamento.
Lira disse ainda que a Câmara tem um "compromisso inabalável" com o arcabouço fiscal e a "inflação e dólar altos são mazelas que atingem de forma mais severa os mais pobres".
"Qualquer outra iniciativa governamental que implique em renúncia de receitas será enfrentada apenas no ano que vem, e após análise cuidadosa e sobretudo realista de suas fontes de financiamento e efetivo impacto nas contas públicas. Uma coisa de cada vez. Responsabilidade fiscal é inegociável", disse.
Na última quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anuncioua isenção de Imposto de Renda ( IR ) para trabalhadores com carteira assinada com salário de atéR$ 5 mil e o pacote de corte de gastos, cuja principal medida será a trava nas regras de reajuste real do salário mínimo. No dia seguinte, o ministro detalhou as medidas. Ontem, com a reação do mercado, o patamar do dólar de R$ 6 foi alcançado. Até então, nunca antes na história o dólar havia fechado nominalmente nessa faixa de cotação.
Desconfiança com o pacote fiscal
A intenção do governo com o pacote anunciado é reduzir os gastos públicos em R$ 70 bilhões nos próximos dois anos caso as propostas sejam aprovadas pelo Legislativo. A grande surpresa para o mercado, no entanto, foi a proposta de isentar de IR pessoas com renda mensal de até R$ 5 mil.
Para compensar a perda de arrecadação, estimada pela equipe econômica em pelo menos R$ 50 bilhões, a ideia é tributar quem tem renda superior a R$ 50 mil por mês. Com isso, o imposto terá incidência para quem tem rendimentos que ultrapassam R$ 600 mil por ano.
Desde então o mercado tem reagido mal à proposta, penalizando o câmbio e as ações brasileiras. "O anúncio do pacote fiscal não conseguiu recuperar a credibilidade sobre a política econômica", escreveu o time do JPMorgan em relatório publicado na véspera.
Na visão do banco, o BC deverá optar pela elevação de 1 ponto percentual a taxa básica de juros (hoje em 11,25%), já na na próxima reunião. A estimativa do time é de que a Selic ao fim de 2025 não fique mais em 13%, mas, sim, a 14,25%.
O Goldman Sachs, por sua vez, avaliou que o pacote fiscal não é ambicioso nem alinhado com o que o cenário macroeconômico atual exige.
"O pacote é considerado decepcionante, muito difuso, com rendimento incerto”, escreveram os analistas. “A isenção de IR reforça a percepção de que a administração continua a adotar uma estratégia de impostos e gastos, em vez de focar diretamente no aperto da postura fiscal."
Já na análise do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), o impacto total do pacote será de R$ 46 bilhões em dois anos, com um impacto acumulado de até R$ 242 bilhões até 2030. Os valores estão abaixo das estimativas do governo, que previu um impacto de R$ 71,9 bilhões em dois anos e R$ 327 bilhões até 2030.
Dólar hoje
- Dólar comercial: + 1,59%, cotado a R$ 6,085
O câmbio segue repercutindo a desconfiança dos investidores com o pacote fiscal, anunciado pelo governo na quarta-feira, 27, e detalhado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ontem, 28.
O dólar vem pressionado desde o anúncio e segue batendo recordes a cada sessão.A moeda já avança 3% no acumulado da semana.