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Dólar bate máxima em 15 meses e mercado já fala em novo normal

Economista-chefe do Itaú avalia que a moeda deve permanecer em patamares elevados por menor diferencial de juros; dólar chegou a ser negociado a R$ 5,30 nesta quarta

Dólar: moeda acumula mais de 9% de alta frente ao real no ano ( SimpleImages/Getty Images)
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 5 de junho de 2024 às 16h39.

Última atualização em 5 de junho de 2024 às 17h29.

O dólar voltou a subir nesta quarta-feira, 5, chegando a ser negociado a R$ 5,30 pela primeira vez em 15 meses. A valorização tem como pano de fundo o aumento das preocupações fiscais, com a possível retirada, no Senado, da taxação sobre produtos importados de até US$ 50 do Programa Mobilidade Verde e Inovação ( Mover ).

Mas a desvalorização do real não é de hoje. O dólar tem ficado mais caro mês a mês frente a moeda brasileira, acumulando alta de 9,22% no período. A alta é impulsionada especialmente pela postergação do início dos cortes de juros nos Estados Unidos. A expectativa no início do ano era de sete cortes de juros somente em 2024. Hoje, o consenso é de que o Federal Reserve (Fed) faça apenas dois, no máximo, até o fim do ano.

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As projeções também apontam para um ciclo de corte de juros mais brando nos Estados Unidos, enquanto outros bancos centrais começam a cortar juros no mercado desenvolvido, a exemplo do canadense e (ao que tudo indica) do Banco Central Europeu (BCE).

Dólar mais caro veio para ficar?

Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú, avalia que as moedas que mais têm sofrido, a exemplo do real, têm em comum o menor diferencial de juros em relação à economia americana. Esse menor diferencial torna menos vantajoso o trade de carrego, que implica tomar empréstimos a juros menores e aplicar em economias que pagam juros maiores. A expectativa do banco, que recentemente reviu sua projeção de dólar para cima, é de que "o dólar forte deve persistir e pode se intensificar".

Mesquita classifica a conjuntura macroeconômica como a principal razão para um dólar forte. A análise, feita com base em padrões históricos, aponta que o dólar tende a ficar mais caro em três períodos específicos: quando a economia dos EUA está crescendo mais que o restante do mundo, quando o Fed está lutando contra a inflação e em tempos de instabilidade geopolítica. Todos esses fatores, no momento, estariam apontando para uma moeda americana mais cara, segundo o banco.

"Em outras economias desenvolvidas os sinais de queda da inflação são um pouco mais claros, o que deve permitir um início antecipado da flexibilização monetária. Diante disso, o diferencial de juros dos Estados Unidos em relação ao da Alemanha e ao do Japão tem aumentado e impulsionado o dólar desde o início do ano", afirma o economista do Itaú em relatório.

Como a moeda irá se comportar daqui para a frente, avalia Mesquita, dependerá da divergência entre outros bancos centrais e o Fed. Nesse sentido, as projeções são pouco animadoras para a queda do dólar. Isso porque, pela previsão do Itaú, o Fed deverá fazer apenas quatro cortes de juros até o fim do ciclo, em 2025, enquanto o BCE, sete cortes. A precificação do mercado, hoje, é de cinco cortes do Fed e quatro do BCE até o fim do ciclo. Pelo cenário-base do banco, o dólar ainda deve se valorizar 1,5% na média.

A perspectiva, afirma Mesquita, deve ser negativa para o Brasil, dada a alta correlação da relação dólar/real e o preço médio da moeda americana no mundo. Diante desse cenário, o Itaú revisou sua projeção de câmbio de R$ 5 para R$ 5,15 para o fim deste ano e de R$ 5,20 para R$ 5,25 para o fim de 2025.

A revisão faz parte de uma série de piora de projeções para o câmbio. Desde o começo de abril, o consenso de economistas para o câmbio deste ano subiu de R$ 4,95 para R$ 5,10. Mas, perspectivas mais pessimistas indicam que a moeda poderia subir para R$ 5,40. Um dos nomes que defendem essa tese é o CEO da Armor e ex-chefe de tesouraria do Bradesco, Alfredo Menezes. Em entrevista recente ao programaVozes do Mercado, da EXAME, o gestor afirmou que o dólar deve ganhar ainda mais força no fim do ano por questões sazonais, já que é quando há mais remessas de lucros para o exterior.

Dezembro foi o mês que mais dinheiro saiu do Brasil no ano passado. Segundo dados do Banco do Brasil compilados pelo BTG Pactual, a saída foi de US$ 13 bilhões. Neste ano, a balança comercial tem sustentado a saída de capital estrangeiro do sistema financeiro, mantendo o saldo positivo em US$ 4,6 bilhões.

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