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Diversificar é o lema para o 2º semestre

A Bolsa ainda segue atrativa, mas a renda fixa volta a ganhar mais espaço nas carteiras, enquanto o dólar mais baixo deixa atrativo o aumento de alocação no exterior, apontam especialistas

CAPA DO DIA: Onde investir no 2º Semestre (Natalia Garidueva/Getty Images)
PB

Paula Barra

Publicado em 2 de julho de 2021 às 06h49.

Última atualização em 2 de julho de 2021 às 13h17.

O aumento da aversão ao risco no cenário doméstico nos últimos dias não mudou a perspectiva construtiva do mercado em relação à Bolsa. Apesar do risco político e da crise hídrica no radar, o Ibovespa ainda tem espaço para subir, apontam especialistas. Isso porque: i) o índice ainda está atrasado frente aos pares emergentes mesmo com a alta de 6,5% no primeiro semestre; ii) os avanços nas campanhas de vacinação devem impulsionar a retomada econômica, favorecendo ativos de risco.

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Além disso, mesmo com as perspectivas de uma Selic mais elevada à frente, a visão do mercado é de que os juros reais ainda devem permanecer em um patamar relativamente baixo. O cenário externo favorável também deve ajudar a dar sustentação a investimentos em renda variável, avaliam analistas e gestores do mercado consultados pela EXAME Invest.

Um sinal nessa direção é a volta do apetite dos investidores estrangeiros por ativos brasileiros. Em junho, a injeção de capital foi 16 bilhões de reais na B3, o terceiro mês consecutivo de entradas líquidas. No ano, os aportes somam mais de 47 bilhões de reais (gráfico abaixo).

Renda fixa volta a ganhar espaço

A grande novidade para os próximos meses é que, diante das expectativas de juros mais elevados no país, a renda fixa voltou a ganhar mais espaço nas carteiras

Enquanto o Ibovespa opera perto do seu recorde histórico (em 131.190 pontos, alcançado no dia 7 de junho), exigindo mais seletividade na escolha dos ativos, a renda fixa volta a viver um bom momento, avalia o economista Alan Ghani, especialista em renda fixa na Exame Invest e professor do Insper. “Se você pegar como base a NTN-B principal com vencimento em 2026, está pagando juros de cerca de 3,75% ao ano. Antes da pandemia, títulos com prazos muito mais longos de 35 e 45 anos que não pagavam isso. É um juro real muito alto".

"A renda fixa volta a ter um peso mais relevante na composição dos portfólios neste segundo semestre", afirma Daniel Castro, CEO da Inter Asset Management.

"Tenho defendido elevar posição em renda fixa. Vemos uma possibilidade de ganho adicional com o fechamento dos spreads. Não apenas pela recomposição do CDI, mas também com a diminuição do risco em um cenário pós-pandemia". Ele aponta como interessante ativos atrelados ao IPCA, como debêntures incentivadas de infraestrutura, que não entraram na reforma tributária e ainda oferecem o benefício de isenção do Imposto de Renda.

As letras de crédito imobiliário ( LCIs ) e do agronegócio ( LCAs ) e os certificados do agronegócio ( CRAs ), que também seguem isentos, são outras opções, disse Ghani.

Ele salienta, contudo, que, diferente do Tesouro Direto que dá condições de saída ao investidor a todo momento, a venda desses papéis antes do prazo é mais difícil dada a baixa liquidez. “Antes de comprar, o investidor deve se perguntar se está disposto a abrir mão dessa liquidez e se tem condições de ficar até o vencimento”. Além disso, o professor explica que, como o CRA não conta com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito ( FGC ), é preciso ser ainda mais criterioso na escolha da instituição emissora.

Juliana Machado, analista de fundos de investimentos do BTG Pactual Digital, aponta ainda oportunidades em fundos de crédito privado, que pagam um prêmio (spread) em relação à rentabilidade do CDI.

A alta da Selic espreme esse prêmio e, consequentemente, torna mais atrativo esses papéis, uma vez que o preço desses ativos tem correlação inversa com os spreads. Isto é, quando esse prêmio cai, os preços sobem, e vice-versa.

Além disso, ela comenta que, como a Selic ainda está em um patamar muito baixo, o prêmio de risco ainda está muito elevado. "Não pelo risco de crédito das instituições, mas porque a Selic ainda está baixa no comparativo. Com a Selic subindo, esse prêmio tende a se reduzir por um fator técnico, o que também é um aspecto positivo para os títulos e fundos que compram esses ativos", disse.

Diversificação é a palavra-chave

A diversificação também ganha destaque nesta segunda metade do ano, em meio ao cenário ainda marcado por muitas incertezas.

“É importante construir um portfólio diversificado, com ativos descorrelacionados. Aumentamos o peso de renda fixa nos portfólios, mas também elevamos a parcela global. O cenário lá fora está muito mais claro do que o interno”, disse Castro. “No exterior, vemos oportunidades nos Estados Unidos, Europa, Japão e alguns países emergentes”.

De olho também lá fora, Roberto Attuch, fundador e CEO da Ohmresearch, ressaltou que segue otimista com o cenário de recuperação global sincronizado.

“Com esse ambiente de juros próximos a zero [nos países desenvolvidos], não faz sentido não ter alocação em Bolsa. Estamos com uma cabeça bem construtiva principalmente com Europa e Japão, mas também com emergentes. A América Latina começou a ganhar mais espaço agora nas carteiras globais porque recuperou a correlação tradicional que tinha com os preços das commodities”, comentou Attuch.

Para ele, o mercado está subestimando o ritmo da retomada. “O mercado geralmente é otimista. Mas em duas ocasiões ele costuma subestimar as estimativas: quando estamos saindo de uma crise e quando tem estímulo fiscal. Temos os dois casos agora”.

Em relatório com as principais convicções para o segundo semestre, Stéphane Monier, chefe de investimentos do banco suíço Lombard Odier, orientou aos investidores continuarem posicionados em ativos de risco.

Na visão de Monier, a forte recuperação econômica e estímulos fiscais e monetários vão suportar os preços das ações, especialmente aquelas sensíveis aos ciclos econômicos. Geograficamente, ele tem preferência pelos papéis da Europa, citando o valuation relativamente barato, apesar da exposição aos temas de reflação e recuperação global.

“O câmbio no patamar atual também oferece uma boa oportunidade para dolarizar a carteira. Temos feito alocações em ativos em dólar, mas não gostamos de carregar moeda só por carregar. As alternativas de investimentos para brasileiros no mercado global aumentaram muito”, comentou Renato Breia, sócio-fundador da Nord Research. Entre as apostas no exterior, ele citou os papéis da Perdoceo (PRDO) e Netflix (NFLX), ambos negociados na Bolsa americana Nasdaq.

No Brasil: o que esperar da Bolsa?

Por aqui, especialistas também veem espaço para valorização, em meio ao ambiente externo favorável e ao fato de que a Bolsa brasileira, em dólares, ainda estar atrasada frente aos seus pares (gráfico abaixo). E bem distante do desempenho dos principais índices americanos no último um ano e meio.

“A Bolsa brasileira é a mais barata do mundo. Esse cenário pós-pandêmico global deve trazer notícias boas para o segundo semestre e levar o índice ainda mais para cima”, comentou Castro.

Ontem, o Itaú BBA elevou sua projeção para o Ibovespa no fim do ano de 135.000 pontos para 152.000 pontos, em meio a estimativas mais elevadas para o lucro das empresas. A nova meta corresponde a um potencial de valorização de cerca de 20% frente ao patamar atual.

Ainda assim, apesar do cenário ainda construtivo, especialistas têm defendido uma postura mais seletiva na hora de investir.

“Acreditamos que os resultados das empresas vão vir bons no 2º semestre. Ainda estamos otimistas com a alocação em Bolsa no Brasil. Mas naturalmente, com o índice na casa dos 125 mil pontos, as oportunidades diminuem”, comentou Breia.

"Estamos construtivos com Bolsa, mas com atenção aos riscos", ressaltou Cristiano Pinelli, sócio e fundador da Rio Gestão. "Não gostamos de concentração no portfólio, queremos estar bem posicionados nos setores da velha e nova economia".

No fundo de ações que administra, Pinelli disse que recentemente aumentou exposição em papéis de varejo de vestuário, incluindo Lojas Renner (LREN3), em meio à perspectiva de aumento da demanda com a reabertura. Ele também comprou Notre Dame (GNDI3)/Hapvida (HAPV3) e Rede D’Or (RDOR3), diante de uma leitura do movimento de consolidação de alguns setores.

"A crise tem um lado perverso porque deixa muitas empresas pequenas e médias mal das pernas. No entanto, na Bolsa, onde estão as grandes companhias, essas conseguem se capitalizar. Tivemos muitas ofertas de ações. Com isso, quem está mais frágil vai perdendo espaço, porque as grandes vão engolindo as pequenas. E esse movimento deve continuar", pontuou.

Das posições mais antigas que têm na carteira, ele mantém como as principais convicções (maiores pesos, com mais de 10% cada): Banco Inter (BIDI11) e Vale (VALE3).

Na carteira de 10 ações para o mês de julho, o BTG Pactual incluiu também os papéis de Rede D'Or, citando boas expectativas por resultados. Foram adicionados ainda os papéis da construtora Cyrela (CYRE3), após dados robustos de vendas de imóveis em maio e junho, além de Weg (WEGE3), que "mais uma vez deve reportar balanço forte", e a segudoradora Porto Seguro (PSSA3), que é beneficiada pela Selic mais alta.

Breia listou como suas principais apostas olhando para os próximos seis meses os papéis da locadora de automóveis Unidas (LCAM3), a petroleira PetroRio (PRIO3) e a empresa de medicina diagnóstica Hermes Pardini (PARD3).

Onde moram os riscos

No ambiente doméstico, a crise hídrica é apontada como um dos principais riscos no semestre, segundo os especialistas. Para eles, as discussões em torno das eleições de 2022 só devem ganhar força entre o fim de 2021 e início do próximo ano.

“A crise hídrica é o grande calcanhar de aquiles. Em parte, está sendo precificada pelo mercado. Se não fosse isso, o Ibovespa estaria em um nível bem acima do atual. Mas se houver algum tipo de racionamento, essa crise muda de patamar”, disse Pinelli.

“Hoje não temos no nosso radar uma expectativa de apagão. Pelas declarações do governo, talvez passemos por esse período sem grandes problemas. Mas se houver qualquer indício nessa direção, o mercado vai estressar”, disse Castro.

A evolução da pandemia globalmente também preocupa. “Apesar da rápida vacinação nos países desenvolvidos, a maior parte dos emergentes ainda têm uma baixa e pouco eficiente vacinação. A disparidade cria uma recuperação econômica desigual e aumenta o risco de novas variantes”, comentou Monier.

Nesse sentido, ele acredita que, no curto prazo, tensões relacionadas à recuperação, covid, inflação e política monetária podem criar volatilidade adicional no mercado.

No Brasil, o ritmo da vacinação acelerou, mas ainda há dúvidas se haverá doses suficientes.

Segundo dados compilados pelo BTG, caso o cronograma ocorra como previsto, o Brasil vai receber mais de 462 milhões de doses entre julho e dezembro, o que seria suficiente para vacinar toda a população. No entanto, os analistas do banco ponderam que, comparado com as estimativas do governo feitas desde o início do ano (gráfico abaixo), as doses efetivamente entregues têm ficado abaixo do previsto.

“Se olharmos há cerca de duas semanas para cá, tivemos um desempenho melhor das ações de “growth” (crescimento) em relação aos papéis de “value” (valor). O que impactou foi essa preocupação com a nova variante delta da covid, que levou países europeus a renovarem restrições”, disse Attuch. “Acredito que as probabilidades de estragar o verão europeu são baixas, mas vamos ter que acompanhar. A única solução que temos para isso são as vacinas”, completou.

Ao investidor, Juliana reforça a importância de ter sempre uma carteira à prova de balas, que respeite o perfil do investidor  e os objetivos financeiros que tem com cada recurso. "É importante criar uma carteira que tenha objetivos e metas muito claras. Isso vai dar tranquilidade ao investidor para passar por períodos mais voláteis de uma forma mais tranquila, evitando movimentações bruscas no portfólio com ruídos de mercado, que podem acabar gerando perdas", explicou. "Por isso, é essencial sempre entender o seu perfil como investidor".

 

 

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