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De Mesbla a Americanas: Mark Mobius relata experiência como investidor das varejistas

Mobius é gestor da Mobius Capital Partners LLP, que gere cerca de US$ 300 bilhões, e tem décadas de trajetória e análise de mercados emergentes

Mobius: 'a inflação aqui é menor do que a inflação nos Estados Unidos. E isso é incrível' (Gunther Werk/Exame)

Mobius: 'a inflação aqui é menor do que a inflação nos Estados Unidos. E isso é incrível' (Gunther Werk/Exame)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 8 de março de 2023 às 06h03.

Mark Mobius, o investidor veterano em mercados emergentes, segue otimista com o Brasil. Durante a gravação do podcast Clube EXAME Invest, ele afirmou que fica surpreso sobre os investidores locais estarem pessimistas em relação ao mercado brasileiro.

“Eu passei por uma inflação de mais de 1.000% no Brasil no passado. E agora, a inflação aqui é menor do que a inflação nos Estados Unidos. E isso é incrível. Vocês têm uma moeda mais estável. Todas as questões macroeconômicas estão funcionamento bem. E o que é mais importante: vocês têm companhias maravilhosas com governanças capacitadas.” Diante desse cenário, ele segue muito otimista com tudo que está acontecendo.

Mobius é gestor da Mobius Capital Partners LLP, que gere cerca de US$ 300 bilhões, e tem décadas de trajetória e análise de mercados emergentes. O podcast de investimentos foi ancorado por Daniel Cunha, sales do BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME), e Fabiana Arana, Latam Equity Research Sales no BTG Pactual.

Mobius disse ainda que o período de hiperinflação enfrentado pelo Brasil décadas atrás deixou o mercado mais ‘sofisticado’. E comparou que o mercado americano nunca passou por isso, logo, inflação alta acaba sendo uma novidade que eles estão enfrentando e tendo que se adaptar para poder tomar as melhores decisões no momento. “Vocês entendem o que significa ter uma inflação alta. Vocês entendem o que é ter juros altos. É por isso que a situação política não preocupa tanto.”

Ao ser questionado sobre o que preocupa o investidor em relação ao Brasil, Mobius apontou a situação macroeconômica global com a guerra da Ucrânia e problemas da China com os Estados Unidos. Segundo ele, estas questões impactam o Brasil, mas de uma maneira indireta. “O Brasil está seguro porque está bem longe de todos estes problemas. E este é um dos motivos pelos quais as pessoas se interessam pelo país.”

Em relação ao novo governo brasileiro, Mobius disse que as três vezes que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, ele, assim como os demais estrangeiros ficaram preocupados. “Nós pensávamos: isso será ruim para a economia. Lula foi eleito e foi ótimo para o mercado.’ Dessa situação, ele afirmou que aprendeu a lição que não deve se precipitar e nem olhar de uma maneira tão profunda o ambiente político.

“No final do dia, o Brasil é uma democracia. Nada vai mudar tão rápido. Não importa se é o Lula ou o Bolsonaro, eles não conseguiram fazer grandes mudanças. Na democracia, as mudanças são lentas, mas duram muito.”

Qual é o valuation do Brasil para Mark Mobius?

Durante a entrevista, Mobius respondeu sobre qual é o “valuation do Brasil” e qual seria a posição do país frente aos outros emergentes. E ele afirmou que ao olhar o indicador preço/lucro (P/L), O Brasil está barato. “Mas não olho para este indicador. O que avalio é o retorno sobre o capital investido [ROIC]. Nós olhamos para as dívidas. Quantas empresas têm dívidas altas? E aqui, no Brasil, muitas empresas têm dívidas muito baixas e um retorno alto do capital investido. Isso é um ótimo sinal.”

Em relação à China, país que tem gerado diferentes posturas de investidores diante da reabertura econômica, Mobius disse que está preocupado devido à tensão com os Estados Unidos e principalmente, devido ao controle do Partido Comunista sobre as companhias. “Quando o Estado toma o controle das empresas, problemas aparecem. A inovação desacelera, a criatividade desaparece. Isso que me preocupa sobre a China.”

Ele disse que isso tornará ainda mais difícil encontrar empresas que consigam um crescimento acelerado e se destaque com novos produtos e ideias. “Nós precisamos de uma sociedade aberta para criar boas empresas. E é isso que o Brasil é. Esta é uma das maiores qualidades do Brasil.

Diversificar globalmente

Mobius aconselhou que o investidor sofisticado deve diversificar sua carteira globalmente. Isso porque nenhum mercado consegue manter a melhor performance todos os anos. Disse ainda que certas oportunidades de investimentos não existem no país do investidor. Neste caso, ele citou que o Brasil tem boas empresas de mineração e bancos, mas não tem por exemplo, empresas como produtores de diamantes. “São indústrias diferentes. Esta é a razão que se deve diversificar.”

De Mesbla a Americanas: uma história de fracasso e sucesso

Durante a entrevista, ele contou um caso de fracasso de investimento no Brasil. Mobius investiu na Mesbla, antiga varejista, que pediu falência na década de 90. “Todos os anos nós visitávamos a Mesbla no Rio de Janeiro e nos encontrávamos com o diretor financeiro e ele mostrava o balanço da empresa e só dizia que tudo está indo bem. Os lucros crescendo e etc e de repente a empresa faliu. Não entendemos nada do que aconteceu.”

Segundo Mobius, o erro maior de ter investido na Mesbla foi não conhecer os verdadeiros controladores da empresa. “Se tivéssemos feito isso seria melhor.” Disse ainda que foi à Justiça para tentar recuperar o investimento feito e foram até à CVM. Chegando à CVM, ele pediu para conhecer o diretor da autarquia, mas para surpresa dele, era o antigo CFO da Mesbla.

Disse que olhando o cenário, ele entendeu porque a varejista faliu, já que a inflação estava muito alta no período e foi um desafio para gestão da empresa.

Mas, o lendário investidor tem grandes história do sucesso para contar. Uma delas foi um investimento em Americanas.“Os números pareciam ótimos. Tudo indo bem e eu sabia que a empresa era gigante no país. Eu estava no Rio de Janeiro e fui visitar a gestão. Havia três gestores na sala e eu senti uma coisa estranha. Eu senti que eles não estavam me contando tudo. Pareciam estar escondendo algo.”

Ao voltar para Londres, ele contou ao sócio sobre a sensação que teve e disse que não se sentia confortável com esta empresa. “Eu não sabia o que era. Era apenas uma sensação.” E diante disso, ele vendeu a posição que tinha em Americanas. Isso foi um ano e meio antes do escândalo envolvendo a companhia no início desse ano. “Este é um exemplo porque é importante ‘sentir’ a companhia.” Assista a entrevista completa abaixo:

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