Mercado: os juros futuros dispararam mais de 60 pontos em alguns contratos na abertura desta quinta-feira (Marcello Casal jr/Agência Brasil)
Bloomberg
Publicado em 17 de novembro de 2022 às 11h30.
O mercado eliminou totalmente as apostas em corte da Selic e já projeta alta de até 0,75 ponto percentual, para 14,50%, até o fim de 2023 com os planos do próximo governo de elevar os gastos, que pesam nas expectativas de inflação.
Os juros futuros dispararam mais de 60 pontos em alguns contratos na abertura desta quinta-feira em reação à proposta da equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para a chamada PEC da transição. O texto prevê despesas que podem se aproximar de R$ 200 bilhões fora do teto de gastos. O Bolsa Família seria retirado permanentemente da regra fiscal.
Lula lamentou que suas declarações sobre responsabilidade social e o teto de gastos afetem o mercado. “Se eu falar isso vai cair a bolsa, vai subir o dólar? Paciência”, disse o presidente eleito durante a COP27, no Egito.
A PEC é incompatível com a disciplina fiscal e reduz o grau de liberdade da política monetária do BC, afirmou Alberto Ramos, economista para América Latina do Goldman Sachs. “No mínimo ela pode adiar um corte de juros, mas no caso mais extremo pode levar a uma situação desconfortável em que o BC teria de elevar os juros novamente.”
A probabilidade de os juros subirem ainda é baixa, mas maior do que um mês atrás, segundo Ramos.
A inflação implícita de dois anos estendeu a alta após divulgação do texto da PEC e atingiu 6,7% na manhã desta quinta-feira, maior nível em quase cinco meses. O dólar chegou a superar R$ 5,52 e o real ampliou as perdas em novembro para mais de 5% - pior moeda entre as principais divisas emergentes no período.
“Existe o risco de que o BC tenha que voltar a subir porque pode ter deterioração das expectativas”, diz Flavio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos.
Em sua última decisão, em outubro, o Copom manteve a Selic em 13,75% e afirmou que avalia a manutenção da taxa por período prolongado, mas que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste” se a redução da inflação não ocorrer como esperado.
Para Mariana Guarino, gestora da Truxt Investimentos, no cenário fiscal que está se desenhando, as expectativas de inflação vão se desancorar de forma mais rápida. “O BC deve subir os juros a partir do início do ano que vem.”