"Corte de juros nos EUA é insuficiente para volta de estrangeiros", diz gestor da Kinea
Rafael Oliveira avalia que seria necessária maior disciplina fiscal para a bolsa brasileira recuperar capital externo
Repórter
Publicado em 12 de julho de 2024 às 06h00.
Dados da inflação americana divulgados nesta semana aumentaram as expectativas de que o Federal Reserve (Fed) dará início ao ciclo de cortes de juros em setembro. A queda das taxas nos Estados Unidos, no entanto, não deverá ser suficiente para o retorno de estrangeiros ao Brasil, na avaliação de Rafael Oliveira, gestor da Kinea Investimentos, gestora com R$ 137 bilhões sob gestão. Os fundos de ações da Kinea gerem cerca de R$ 500 milhões.
"A queda de juros nos Estados Unidos é necessária, mas não é suficiente para o retorno de capital estrangeiro ao Brasil", disse Oliveira em entrevista à Exame Invest.
A saída de capital externo na bolsa está em R$ 36,15 bilhões no ano, segundo dados da B3. A fuga de estrangeiros é a maior da série histórica iniciada em 2016. Para um retorno expressivo desse dinheiro, o gestor da Kinea avalia que o governo precisaria entregar as promessas propostas no novo arcabouço e ter disciplina fiscal.
Nos últimos meses, a mudança da meta fiscal e a falta de credibilidade sobre seu atingimento tiveram forte impacto sobre os preços dos ativos. "Tudo isso leva à discussão sobre a trajetória da dívida, à qual o investidor está atento."
Oliveira, no entanto, avalia que outros dois fatores foram os propulsores da saída de estrangeiros: o alto rendimento dos títulos do governo americano e a falta de opções de investimento em "teses inovadoras", como em inteligência artificial e em fabricantes de remédios para emagrecimento. "É como um buraco negro puxando a liquidez."
Oportunidades
Dadas as oportunidades no mercado internacional, os próprios fundos da Kinea passaram a fazer a seleção de ações no exterior. A diversificação internacional, que já era presente nos fundos multimercados e de crédito da gestora, também vem sendo feita nos fundos de ações desde o fim do ano passado, respeitando os limites regulamentares.
O gestor conta que já teve ações da Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, e que está com posição em temas relacionados à inteligência artificial. "Gostamos de empresas que vão de fabricantes de chips, como Nvidia, até empresas de software. Preferimos ficar expostos a um setor diversificando o risco entre as empresas em vez de ficarmos comprados apenas em uma ou outra."
O portfólio de ações da Kinea é formado por cerca de 40 nomes e, apesar da exposição internacional, a maioria é de empresas brasileiras.
Oliveira considera que, mesmo com grandes oportunidades no exterior, a bolsa brasileira ainda está muito barata, especialmente no setor de infraestrutura. Entre as empresas investidas, estão Santos Brasil, Rumo e Sabesp. "No mercado local, temos procurado empresas que nos dão maior tranquilidade, segurança e que pagam dividendos."